Hope 07

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Não que eu realmente acreditasse em milagres, mas parecia que Deus estava oferecendo algum presente após tanto sofrimento em minha vida. Após tantas lágrimas, finalmente encontrei um lugar que me sentia bem mesmo sendo eu mesma. Mesmo sendo a Dana desastrada que falava e fazia coisas sem pensar.

Talvez por pensar estar no paraíso que agisse de forma descuidada, como fechando os olhos esperando por um beijo do meu chefe enquanto ele se empenhava para me ensinar língua dos sinais. Eu fui uma boba, admitia isso com todo o restante de dignidade que me era permitido, contudo o olhar de Paul quando entrei na cafeteria no dia seguinte, não me ajudou. Ele me olhou como se esperasse alguma novidade. Paul estava transbordando expectativas.

― A aula como foi? – Ele questionou afoito ao me parar próximo a entrada. Seus olhos brilhavam em expectativas, as quais eram completamente irreais. – Como foi? Quero detalhes.

Paul sempre me lembrava a fofoqueira que todo bairro tinha. Ele parecia querer estar sempre sabendo sobre novidades mesmo quando nada existia.

― Foi boa. Ele é um bom professor.

Não era uma mentira. Após o meu papel ridículo na cozinha, me refugiei no banheiro e retornei para a sala somente depois de alguns minutos. Alexander sorriu gentilmente ao apontar para o assento vazio ao seu lado do sofá. A aula que se seguiu foi extremamente profissional. Ele não falou, apenas fez gestos e quando não entendia algo, ele escrevia. Passamos duas horas estudando e na hora de ir embora, se ofereceu para ir comigo, o que eu recusei. Já tinha sido humilhante demais fingir que não tinha tentado nada.

Humilhante demais pensar que tinha fechado meus olhos quando ele se inclinou para me ajudar. Que tipo de pessoa fica esperando um beijo de alguém que nem conhece direito?

Eu devo estar carente.

Isso deve ser carência.

Posso acabar com minha carência bebendo ou simplesmente imaginando um mundo onde as pessoas não mudem após começar um relacionamento.

― Não aconteceu nada?

― Não. Eu disse que não estava interessada em relacionamentos – Acabei falando mais uma vez agora prestando atenção em Paul, o qual bufou em resposta ao me dar as costas. Pelo menos sabia como fazer ele desaparecer da minha vista. Já estava prestes a avançar em direção a sala dos funcionários quando senti a mão dele em minhas costas. Sempre fui muito boa em reconhecer mãos, e a de Alexander era inesquecível. Virei, sorrindo ao encará-lo. Fiz o gesto de bom dia ainda incerta se deveria continuar falando ou treinando os sinais.

― Qualquer dúvida pode me perguntar – Ele falou fazendo com que eu respirasse profundamente, me segurando para não fechar os olhos apenas para apreciar o som de sua voz. Em momentos como aquele, conseguia acreditar na bondade do universo.

― Farei isso, mas quando será nossa próxima aula? – Admiti que a ansiedade corroía meu ser ao recordar de seus olhos em mim, do som de sua voz e da forma como ele mantinha toda a sua atenção em mim quando me ensinava. Ele pareceu pensar ao responder que seria no dia seguinte, o que fez com que eu me perguntasse o motivo de não ser hoje. Eu estava disponível. Deveria perguntar? – Tem algum programa para hoje? – Acabei perguntando antes mesmo que me desse conta e para meu azar, ele concordou. O encarei tentada a perguntar o que seria, mas isso seria demais até para mim.

Limitei a assentir sem conseguir sorrir ao lhe dar as costas e ir para a sala dos funcionários, onde encontrei Paul sentado cantarolando alguma canção estranha. O desanimo abateu-se rapidamente sem identificar a razão.

― Vai ter aula hoje? – Paul perguntou. Provavelmente estava apenas tripudiando em cima de mim de alguma forma. Ele deve ter percebido que eu estava ansiosa por outra aula. Mas isso não seria realmente possível. Só estava imaginando coisas e criando teorias absurdas.

― Não. Alexander tem um compromisso – Por algum motivo, senti algo ao pronunciar tais palavras. Acho que não era fã de rejeição. Sempre permanecia ansiosa para encontrar com ele, mas a reciproca não era a verdadeira. Como poderia ser? Eu era a única grata por ele e não o contrário.

― Compromisso? – Ele pareceu realmente confuso antes de se levantar abruptamente e sair da sala. Aproveitei para me trocar sem esperar nada. Sem esperar que Paul voltasse com algum comentário acido. Sem esperar que Alexander entrasse pela porta e pedisse para me ensinar hoje.

Estar ao lado dele fazia com que eu me sentisse confortável, ansiosa, protegida e feliz. Tudo o que não sentia tinha anos, e por isso me sentia rejeitada por não ter aula com ele.

― Ele também tem uma vida – Murmurei ao respirar fundo e ir em direção a porta, abrindo-a, esbarrando com Alexander. Ele continuou parado com o rosto vermelho. – Algo aconteceu? – Perguntei ao encará-lo, ele negou. Tentei passar por ele, sem sucesso. Alexander parecia determinado a ficar parado em frente a sala dos funcionários. – Deseja falar algo comigo? – Ele assentiu. - Pode falar – Talvez tenha soado grossa ou insensível, mas ninguém gosta de ser rejeitado. Nem mesmo quando se é rejeitado por um professor.

Ele respirou fundo olhando fixamente para meus olhos ou talvez meus lábios. Não me importava para onde olhasse na verdade.

― Hoje a noite tem uma feira de flores na cidade vizinha. – Assenti. Isso começava a se tornar interessante. – É por isso que não posso te dar aula.

― Eu entendo.

Realmente entendia, mas preferia que ele me convidasse para ir.

O que eu estava pensando?

Apenas pare.

― Você está livre hoje a noite?

― Totalmente disponível para você – Falei sem perceber pela segunda vez. A impulsividade parecia tomar vida quando abria a boca. – Digo, estou livre – Notei o seu sorriso de lado, o que me fez sorrir em resposta.

― Quando fechar a cafeteria, gostaria de me acompanhar? – Confirmei rapidamente antes que ele mudasse de ideia.

No momento em que ele me deu as costas, vi Paul nos olhando com um sorriso no rosto. Talvez ele não fosse uma pessoa ruim.

Talvez ele quisesse me juntar com Alexander.

Mas eu realmente queria sair com alguém depois de tudo?

Depois de ver a forma como alguém se transformava em um relacionamento?

Não sabia a resposta, mas Alexander tinha algo que me fazia ter esperança. E esse era o perigo.

Ter esperanças sempre fazia com que eu ficasse ainda mais desiludida no final.

CONTINUA...

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