Hope 19

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HOPE 19

Engoli em seco tentando controlar meus pensamentos ansiosos ao olhar para Paul indo embora quando a cafeteria estava prestes a fechar. Meu olhar foi em direção a Alexander, o qual permanecia organizando tudo antes de finalmente trancar a porta da frente quando a porta se abriu abruptamente.

Estava prestes a anunciar que já estávamos fechando quando congelei. A pessoa a minha frente era uma das pessoas de quem tinha fugido. Talvez meu olhar estivesse demonstrando todo o horror que sentia ou meu corpo tremia involuntariamente, pois no instante seguinte Alexander parou em minha frente, bloqueando a minha visão. Eu não via nada além de suas costas largas e protetoras.

Naquele momento, quis abraçar a sua cintura, me agarrar a ele e nunca mais largar.

― Dana está na hora de voltar ― A voz gélida da perversa mulher ocasionou em um triste sorriso na minha cara. A minha própria mãe não parecia preocupada comigo, apenas desejava que eu retornasse para o meu pesadelo. ― Ele está a esperando e afirmou que irá perdoá-la pelos seus erros. ― Cada palavra era como uma faca atingindo meu coração incontáveis vezes.

Alexander mesmo sem entender o que acontecia continuou em minha frente sem falar nada. E seu silencio fez com que eu sentisse medo de ser abandonada pela única pessoa gentil que eu tinha conhecido em minha vida.

Alexander era como um sopro de calor em meio a um inverno rigoroso. Ele era a minha esperança. A minha luz. Ele representava a minha segunda chance na vida. Para ser honesta, a voz dele que me conquistou, mas aos poucos cada gesto e atitude, o transformou.

― Vá para o inferno! ― Gritei ao passar meus braços pela cintura dele. ― Diga para aquele bastardo que eu já estou bem e grávida. E se ele se aproximar, irei até a policia. ― Afirmei sem qualquer hesitação. Não iria fugir.

Mesmo que eu estivesse mentindo sobre a gravidez, pois foi a forma que encontrei do psicopata desistir de mim, ainda assim estava determinada a não fugir mais. Eu queria ter uma vida normal ao lado de Alexander.

Eu queria mostrar para ele que não era uma pessoa fraca.

Mas a megera era mais persistente do que eu imaginava.

― Ele ainda não sabe onde você está, seu pai descobriu através de um amigo por pura casualidade. ― Comentou calma ignorando tudo o que eu tinha dito. Qual era o problema dela? ― Amanhã virei novamente e espero que venha comigo. ― E da mesma forma que chegou, ela saiu. Trazendo o meu medo de volta, minha raiva e todo o meu ódio por eles. Suspirei ao afastar meus braços da cintura dele, e finalmente, Alexander se virou, encarando-me.

Ele ficou em silencio por um longo tempo. Tempo suficiente para que eu tivesse medo de suas palavras.

― Você está preparada para me contar? ― Sua pergunta foi realmente gentil. O seu tom de voz era baixo, sua mão foi em direção ao meu rosto, e sem perceber o que eu fazia, comecei a chorar ao sentir seu toque delicado.

Prometi em meio aos meus soluços que contaria tudo assim que chegassem até a minha casa, e como um bom moço, concordou antes de me abraçar rapidamente, se afastar, fechar a loja e segurar a minha mão antes de seguirmos até o meu apartamento alugado. Aquela foi a primeira vez em que não troquei meu uniforme.

A mão dele pareceu uma ancora que me prendia a vida. Nossos passos ressoavam pela rua silenciosa, seus dedos entrelaçados aos meus transmitia calor e calma, mas ainda assim eu tinha medo de que quando ele descobrisse tudo, se afastasse de mim.

Deveria contar tudo a ele?

Deveria ser direta?

Ou deveria apenas mentir?

Ponderei durante todo o caminho sem perceber quando cheguei em frente a porta do meu apartamento. A minha respiração se tornou difícil assim que abri a porta com a chave dando espaço para que ele passasse. Eu não queria ser vista como fraca, tola ou uma vitima.

Eu ainda queria que ele me enxergasse como Dana. Apenas Dana e nada mais.

O som da porta sendo fechada, os passos dele se aproximando e por fim, a sua mão tocando o meu rosto fez com que eu erguesse a cabeça e o olhasse fixamente.

― Eu tenho medo de que você me deixe depois ― Confessei como uma criança amedrontada. Eu estava envergonhada.

― Nunca farei isso ― Prometeu seriamente ― Se não quiser falar, eu vou entender, mas preciso saber algo para poder protege-la. ― Ele parecia decidido, e um sorriso escapou. Um sorriso de alivio. Segurei a sua mão e o puxei até o sofá, nos sentamos lado a lado e finalmente comecei a falar um pouco sobre o meu passado.

― Minha família sempre foi conservadora. ― Comecei a falar tentando ocultar a raiva que eu sentia. Talvez eu estivesse conseguindo, ou talvez não, mas preferia que o homem gentil a minha frente não descobrisse o quão enojada eu estava somente em contar o que tinha acontecido. ― Mas mesmo que eles fossem casados durante anos, não demonstravam seu amor entre eles e aos poucos as brigas se tornavam frequentes, o ódio parecia ser mais comum do que a cordialidade na casa onde cresci, mas eu não me importava tanto. Pode-se dizer que minha mente era muito simples, afinal só tinha quatorze anos. Mas tudo mudou quando cruzei com uma pessoa na rua um ano depois. Eu não sabia que ajudar alguém poderia destruir a minha vida. ― As lembranças que me atormentavam surgiram rapidamente em minha mente. ― Ele tinha vinte anos quando o ajudei, entregando a sua carteira que caiu na rua. Pareceu algo simples e sem importância, mas não demorou muito para que cada lugar que eu estivesse, ele surgisse como magica. Eu era tola o suficiente para acreditar que era coincidência, mas nunca fui. ― Eu estava arrependida de minha estupidez. ― Ele se aproximou de mim cada vez mais, e eu acreditei em sua gentileza. Acreditei que ficaríamos juntos para sempre. Ele sempre foi gentil comigo e parecia gostar de mim de verdade, e quando fiz dezesseis, me convenceu a ir morar com ele. Eu fui apenas estupida, eu sei disso, mas nunca tinha sido tratada com tanto carinho e amor por alguém. Eu não queria ver nada além do que ele demonstrava. Sempre ignorei quando ele gritava comigo, quando brigava sobre meus amigos, ignorava tudo que não fosse gentileza.

Alexander apertou a minha mão com força, e eu sorri em resposta antes de respirar fundo. Agora era a parte onde o meu real sofrimento começava.

―Em uma noite, sai de casa com minha mala e fui para a dele sem me importar com os gritos da minha família. Eu somente queria ser feliz e ter amor. ― Senti uma lagrima escapar ao recordar de tudo. ― Mas nada foi como imaginei. Na primeira noite, após ele tentar me beijar e eu negar, me trancou em um quarto e bateu em meu rosto. Como uma tola, achei que tudo ficaria bem no dia seguinte, mas somente piorou. Ele gostava de se comportar como se fosse meu marido. Algumas vezes me batia, outras me dava dinheiro, e em outras dizia ser gentil o suficiente para me deixar sair. Em algum momento, ele criou uma conta conjunta. Ele era louco o suficiente para acreditar que estávamos casados. Aproveitava quando ele saia para trabalhar para sair escondida. Aquela vida aos poucos me sufocava ao ponto de chorar todas as noites. Eu só queria ser amada. ― Respirei fundo ―Um dia, ele resolveu chegar mais cedo do trabalho e encontrou a casa vazia. Eu tinha saído com uma amiga. Eu estava feliz, mas no momento em que abri a porta e vi seu olhar, não pensei antes de ir embora. Fui para casa dos meus pais, mas eles não acreditaram em nada do que eu falei. Eles acharam que eu estava sendo tola, ingênua e exagerada. Eles acreditavam que eu tinha escolhido minha própria vida ao ir morar com ele.

Eles não se importavam comigo. Essa era a dura realidade que eu precisei perceber.

― Depois desse dia, as coisas pioraram e eu quis fugir. Essa loucura durou alguns anos, até finalmente conseguir dinheiro suficiente para fugir. Eu estou fugindo dele, da minha família e de mim mesma. ― Confessei ao manter meu olhar em seu rosto. ― Mas quando eu te encontrei, Alexander, eu não quis mais fugir. Eu quero estar ao seu lado. ― Um rubor deve ter surgido em meu rosto, pois o senti mais quente.

Alexander estava calado demais. Calado o suficiente para me deixar com medo.

― Vocês se casaram legalmente? ― Neguei com um aceno de cabeça. ― Isso é bom. ― Ele suspirou parecendo aliviado ao me abraçar. ― Eu não deixarei que eles se aproximem de você.

O abracei feliz ao fechar meus olhos.

― Foi a sua voz que me salvou ― Murmurei sabendo que ele não escutaria. 

CONTINUA...

Tadinha da nossa Dana :(

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