Capítulo 10 – A Loucura é um ponto de vista
"Você sabe mesmo a verdade? Ou te disseram ela?"
×××
Ana sabia que não podia sair do quarto depois da 00:00, ela deveria estar dormindo e Tiff – sua babá – já havia a colocado na cama duas vezes. Mas a garota estava inquieta. Era uma daquelas noites em que Ana não conseguia dormir, a insônia sempre a perseguiu desde bebe. Naquela noite seus pais estavam bem longe, teriam um fim de semana numa ilha que Ana não lembrava o nome, em comemoração ao décimo oitavo ano de casamento. Era bordas de alguma coisa, mas Ana não se lembrava enquanto desenhava na nela de casa. Estava fazendo um desenho para seus pais – por enquanto tinha a folha em branco, mas já segurava o lápis preto.Ana havia aprendido a ver a hora, naquela semana mesmo, e sabia – pelo relógio enorme da sala – que era 01h12min. Muito tarde, com certeza. Ana suspirou, tinha seus seis anos – quase sete – e tudo o que aprendia guardava como se já soubesse há anos. As pessoas diziam que ela tinha "memória fotográfica" e aquilo era um pouco chato as vezes, tipo quando ela não aprendia algo de primeira, mas todo mundo já estava esperando ela dizer de cor.
A menina mirou a rua deserta, admirando o silêncio do mundo, se surpreendendo com a rapidez que o silêncio parou. Não fora alto, mas Ana ouviu, era na casa vizinha, sua janela dava direto para a sala de Phoebe, a menina de dezesseis que cuidava de Ana quando Tiff tinha folga e sua mãe precisava se uma ajuda. Os pais de Phoebe nunca estavam em casa, Ana nunca os vira. Em todo caso, o barulho da casa veio da porta da frente, que ficando na ponta dos pes, Ana conseguia ver através da janela. Era um homem. Ele usava uma jaqueta preta e grande em seu corpo, o boné tampava seu rosto e a escuridão da noite ajudava. Ana observou quando ele conseguiu encontrar a chave reserva que ficava na dobradiça da porta e entao entrou na casa, subiu as escadas e desapareceu. Ana deixou suas folhas e os lábios, subiu as escadas correndo – esquecendo do aviso de nunca correr nos de degraus – e entrou em seu quarto, indo direto para a janela, deixando a luz apagada. Do seu quarto podia ver o quarto de Phoebe, a menina sempre deixava a janela aberta porque ela e Ana trocavam desenhos e também conversavam gritando uma para a outra ate Carla entrar no quarto e mandar as duas calarem a boca. Ana tinha seis – quase sete – mas tinha a vaga noção de que um homem entrando na casa de Phoebe, em seu quarto, tampando sua boca com um pano... Era errado.
Mas ela não saiu do lugar. Não conseguia. Nem sabe se ele a viu ali, em seu próprio quarto, observando ele fazer coisas com o corpo de Phoebe enquanto a garota permanecia desacordada. Ana pensou em chamar Tiff, em ligar para o 911 como sua mãe ensinou quando houvesse emergência... por que aquilo era uma emergência, não era? Ele parecia estar machucando-a. Mas Ana não fazia ideia, não sabia como era machucar, não sabia como era sentir dor. Era engraçado sua mae lhe perguntando se não doeu quando tomou injeção ou quando caiu do balanço e ralou o cotovelo, Ana nem sabia o que era doer para poder responder aquelas coisas. Ela sabia o que era machucar, se alguem gritasse era porque estava machucando, e aquilo deveria ser parado imediatamente, quer dizer que era emergência. Mas Phoebe não estava gritando, continuava dormindo. Ela não se mexia, era como se estivesse paralisada. E Ana não sabia o que fazer.
Ela estava lutando uma batalha interna entre ir chamar Tiff – com o medo as babá brigar com ela por ainda estar acordada – ou lugar para chamar ajuda – com medo se não ser uma emergência. Ela estava pensando demais e quando percebeu, o homem olhava para ela. Os olhos claros, mostrados pela luz do poste perto da janela, o boné já não mais em sua cabeça, a boca com uma cicatriz do lado e um brinco com pequeno diamante.
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50 Tons de Uma Salvação
Fanfiction* Descrição * Ana é classificada como um "caso perdido" numa clínica psiquiátrica, mas Christian está determinado a salvá-la.