Capítulo 1 - Ela é uma bagunça
Tudo o que acontece no universo tem uma razão de ser. Nós, como seres humanos, temos a missão de seguir em frente, e ter certeza de que, apesar de às vezes estar no escuro, o Sol vai voltar a brilhar.
- Autor Desconhecido
***
Dois enfermeiros saíram do quarto 367 da Clínica Sert, em Port Angeles, num estado precário. Um deles mantinha uma das mãos nos olhos, enquanto um médico o auxiliava pelo corredor; o outro segurava o nariz com um pano ensanguentado, gemendo de dor, enquanto a outra mão repousava na barriga, sendo amparado por uma enfermeira.
No quarto, era possível ver os destroços de uma cômoda, fotos rasgadas pelo chão, uns pedaços ainda presos nos pregos da parede; lápis, canetas e folhas estavam espalhados pelo chão branco, enquanto pequenas poças de sangue se juntavam a eles. Algumas rachaduras eram pouco visíveis nas paredes, causadas pela força do móvel jogado. Um caderno preto, solitário, estava jogado num canto, longe de toda a bagunça presente. Em comparação ao resto, o caderno parecia intocado, saído de uma estante perfeitamente cuidada.
Outra coisa também parecia intocada: a cama macia no canto da parede, onde uma menina dormia tranquilamente, com um cobertor vermelho assim como o travesseiro. Mas infelizmente, a garota não era uma das coisas intocadas no quarto. Pelo contrário, ela parecia ter sido o que mais foi quebrada. A cor da coberta na cama, chamava atenção na brancura à sua volta, quase que em contraste com a personalidade da menina.
A garota, que de longe era tão perfeita, assustava quem chegasse perto demais. O cabelo castanho escuro estava espalhado de forma desajeitada no travesseiro; a pele tão pálida e desbotada do corpo, jazia em hematomas; no rosto, uma das bochechas estava vermelha, com o tapa forte da enfermeira, tentando acabar com o choque da menina; na lateral do pescoço, a marca certeira de três arranhões de sua própria mão era visível; numa das mãos, que repousava na barriga, havia um curativo perfeitamente branco nas costas, ajudando a curar o recente corte causado pelos estilhaços do óculos de grau de um dos médicos; nos dois pulsos, marcas de mãos eram visíveis, vermelhas, já com um leve tão de roxo.
Mesmo assim, a menina dormia tranquilamente, o rosto sem emoções, reluzia com a luz suave do quarto, acalmando qualquer um que olhasse.
Ninguém, em sã consciência, diria que foi aquela menina quem quebrou todo o quarto.
_ Como ela está? - Carla Adams, mãe de Ana, perguntou aflita.
O médico suspirou, encarando o corpo enfim inerte e tranquilo da menina na cama.
_ Agora está bem. Está dormindo desde... Bem, desde o surto. Eu não queria ter que dizer isso, mas teremos que ter outra conversa sobre Ana, e não será algo bom.
_ Como assim? Você disse que ela estava melhorando! - Raymond Steele bradou.
Raymond e Carla eram divorciados há anos, porém, Ana sempre os manteve unidos.
_ Ela estava sim. Mas esse foi um enorme passo para trás - respondeu o médico.
_ Vamos falar com a Drª. Megan - declarou a Sra. Adams.
_ É claro. Acompanhem-me.
Mais uma olhada em Ana, e a porta pesada foi fechada com um silêncio absoluto.
_ Eu sei, mas ela não parece reagir a nada nos últimos tempos - disse Ray, impaciente para mais um dos longos discursos de Megan, psiquiatra de Ana.
_ Sim, mas vamos tentar um novo tipo de terapia. Algo que mais...
_ Mais o quê? Minha filha tem dezenove anos e já passou por mais terapias do que uma pessoa de sessenta. Diz logo o que já sabemos?
_ Ray, se acalme - Carla pediu, segurando o braço do ex-marido.
_Me acalmar!?
_ Só precisamos esperar por... - Megan começou.
_ Esperar!? Esperar o quê? Que a minha filha mate alguém? Por que desse jeito é o que ela vai fazer. Isso não está ajudando. Nada disso está! Ela precisa de algo mais melhor, mais focado no problema que ela tem. Que pelo visto, nem sabemos qual é.
_ Ela tem...
_ Eu sei. Mas você disse que podia ajudá-la e já se passaram dois anos. Ela está na mesma, na verdade, pior.
_ Me desculpe, mas é o máximo que podemos fazer. Não tem nada cientificamente certo de que há uma cura para a Síndrome de Riley-Day.
_ Então já chega. Vamos procurar outra ajuda.
_ Sr. Steele, não é necessá...
_ Não é? Você está dizendo que não há uma cura e quer que continuamos com isso? Algo que não dá em nada?
_ A verdade é que não tem algo que dê em alguma coisa, nós ainda não encontramos um ponto de partida, precisamos ir mais a fundo para isso.
_ Do que está falando? - perguntou Carla, preocupada, tentando entender a conversa sem fins.
_ Estou falando de internação sem previsão - respondeu Megan - Priory é o melhor lugar para sua filha neste momento.
_ Como assim?
_ Interná-la em Priory seria de grande ajuda...
_ Minha filha não é louca!
_ Ela é muito agressiva - desdenhou a psiquiatra.
_ E isso quer dizer que ela precisa ser internada num hospício?
_ Não é um hospício...
_ É uma clínica para malucos, um manicômio - Carla se irritou.
_ Nossa filha não vai para lá.
_ Na verdade, ela não tem escolha. Depois do que ela fez... Ou ela vai para Priory e é tratada. Ou vai para cadeia. Eu sinto muito.
***
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50 Tons de Uma Salvação
Fanfiction* Descrição * Ana é classificada como um "caso perdido" numa clínica psiquiátrica, mas Christian está determinado a salvá-la.