Capítulo 5

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Capítulo 5 - Eu vou estar aqui

O inferno se encontra dentro de nossas mentes.

- Autor Parasita

***

Ana não dormiu, ela apenas se levantou e se deitou na cama. E ficou. Christian sabia que a hora estava passando, seu relógio já marcava 21h35min de um horário de 20h14min quando entrou naquele quarto. As únicas palavras que ouviu da garota foram bem ofensivas junto a ameaças, antes do surto. E então ela apenas estava imóvel em sua cama, deitada de forma reta, olhando para o médico sem nunca desviar o olhar. Era desconfortável, muito na verdade, para ele. O psiquiatra havia admirado todo o quarto e a menina nem mesmo piscou mais demorado.

Até que seu bipe, bem, fez um bipe, anunciando que o mesmo tinha que ver outro paciente.

Christian se levantou do chão, que ainda estava, e se preparou para se despedir de Ana, informá-la que era hora de dormir, porém a garota se levantou.

Estranhamente, o psiquiatra não se assustou, ou esperou que ela atacasse novamente, talvez pela forma tão lenta que a garota se levantou, ou pelo fato da menina de repente ter os olhos cheios d'água.

Grey já havia vistos muitos e muitos pacientes em surtos, em estados realmente deprimentes, casos que ele mesmo sentia como se nada valesse a pena, situações em que chegou a questionar a existência de Deus. Ele já viu crianças pedindo para que as matassem, viu adultos implorando pelo mesmo. Aquilo foi barra. Ver Ana, uma garota totalmente marcada por hematomas, o medo expelindo em cada poro, tão perdida, era uma das piores cenas que ele já presenciara.

_ Por favor - ela sussurrou, claramente com dificuldade para proferir as palavras.

A garota engoliu, o nó na garganta doendo pelo choro travado, o coração apertado sendo disparado de repente, as mãos apertando tanto o lençol da cama que os nós de seus dedos estavam mais brancos do que sua pele - e aquilo não deveria ser possível.

_ Por favor, não me faz dormir - pediu ela. - Eu vou ficar quietinha, prometo.

As lágrimas escorriam, as bochechas e a ponta do nariz ficaram automaticamente vermelhas.

Christian se aproximou.

_ Ei, está tudo bem, não se preocupe. Ninguém vai te dopar.

Ana fungou.

_ Eu não quero dormir, eu não gosto. É ruim.

E de repente ela parecia uma criança, os olhos magoados e pidões, as fungadas lentas e os dedos das mãos se apertando um no outro.

_ Você precisa dormir - Christian tentou.

_ Não!

_ Anastasia, eu não vou te dopar, mas você precisa dormir, eu sei que dá medo, mas você precisa...

_ Você não sabe como é acordar todos os dias com medo de ter se machucado. Você tem noção que eu tenho que me olhar o tempo todo para ver se não estou machucada? - seu tom não foi bravo nem irritado, mas quebrado, as palavras saíram corretas e carregadas de lágrimas em cada sílaba.

Christian mordeu o lábio inferior e apertou o bipe em sua mão.

Precisava ver Denver e dar seu remédio.

_ Tudo bem, eu já volto - ele disse a garota e saiu da sala, destrancando-a e deixando aberta.

Ana mirou o corredor branco e silencioso, logo se levantando e indo fechar a porta. Não gostava de portas abertas, não quando elas lhe permitiam sair do lugar e ir para o perigo.

50 Tons de Uma SalvaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora