Sexta-feira

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Hey babies!
Como vocês estão hoje?

Esse capítulo é especial, espero que gostem e que o amor dessas meninas aqueçam o coraçãozinho de vocês.

Uma ótima leitura!

Beijinhos 💛🌈
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Durante a semana, tentamos descobrir no meio dos nossos cronogramas apertados, quando conseguiríamos ficar juntas. Os professores estavam passando milhões de trabalhos e provas o tempo inteiro, Nicole trabalhava todas as tardes na delegacia e por vezes tinha que suprir com plantões a noite. Eu ainda tinha a creche das crianças, as reuniões do conselho e os treinos de natação, apesar que nossa escola estaria fora da competição estadual, o que me deixava um pouco livre. Então os únicos momentos em que Nicole estava livre era depois do seu expediente, geralmente às onze da noite. A minha sorte é que eu tinha Wynonna trabalhando no mesmo lugar, então eu tinha boas desculpas para dar a Michelle. Sugeri que poderíamos nos encontrar algum dia antes da escola.

- A piscina abre as seis, e fica vazia até às sete e quarenta. – contei a ela – isso só por conta do novo cronograma de exercícios dos professores, três vezes por semana.

Nicole fez cara de dor.

- Ei! – abaixei a aba do seu boné – todos nós temos que fazer sacrifícios, não é?

Estava sendo cada vez mais difícil me manter longe dela na escola. Ela ainda me procurava entre as aulas, porque sempre cruzavamos três ou quatro vezes nos corredores. Fora os encontros no corredor C para matar a saudade. Quando nos encontrávamos nos corredores, ela sempre fazia contato visual, sem mudar sua expressão, mas sempre colocando uma mão sobre o peito, onde ficava seu coração. E, todas as vezes, eu sentia uma onda de felicidade me atravessar. Na terça e na quarta ela me ligou para desejar boa noite e acabamos dormindo com o telefone na orelha. Era excitante, como ter um amante secreto. Ela era excitante. Minha vida aumentou de intensidade de uma forma inexplicável. Em minha mente somente um pensamento rodeava durante todos esses dias, a sexta-feira. Nicole tinha me enviado uma mensagem logo após o nosso encontro, me convidando para dormir em sua casa, já que seus pais estariam viajando. Meu estômago pareceu soltar fogos de artifícios quando li cada palavra na tela do meu telefone. Aceitei sem ao menos pensar duas vezes, seria o momento perfeito para estarmos juntas sem precisar ter medo de alguém nos encontrar. Um dos dias, passei em casa depois do trabalho e Michelle estava no fogão grelhando cenouras.

- Aí que cheiro delicioso – a abracei pela cintura – estou faminta!

- Você recebeu uma encomenda hoje. – ela falou.

- O que? – descansei minha cabeça em suas costas.

- Está lá na sala.

Fui adiante e dei beijinhos nas bochechas da Mel, que estava no colo de Lou.

- Ai meu Deus – estanquei – tem certeza que isso é pra mim?

Michelle chegou por trás, limpando as mãos em uma toalha.

- Bom, o seu nome está no cartão.

Eu nunca tinha visto um urso de pelúcia do Simba. E ele estava acompanhado de um buquê pequeno de orquídeas azuis, lindas. Meu estômago apertou. Não podia ser do Champ. Ah não, ele não faria isso. Da última vez que eu cruzei com ele nos corredores da escola, ele fez como se eu nem sequer existisse. Retirei um pequeno cartão que estava preso junto com as flores.

“Para Waverly: na alegria ou na dor, nossa força é o amor. É só ver para crer, somos um.

Um sorriso enorme se formou em meus lábios e eu não deixei de transparecer minha felicidade pegando a pelúcia em minha frente e abraçando, tinha o seu cheiro. Fechei os olhos, me permitindo sentir somente o seu cheiro naquele momento.

- Deixe-me ver. – Michelle estendeu a mão.

- Ei, é pessoal. – abracei o cartão em meu peito.

Michelle sorriu.

- As coisas parecem estar esquentando entre vocês. Tenho notado como você anda feliz ultimamente. Devo começar a pesquisar vestidos de noivas?

- Wow! – Lou deixou soltar.

Senti meu rosto queimando. Uma pontada de tristeza fisgou meu coração. O que ela diria se soubesse que não era o Champ? E que eu não iria casar na igreja como ela tanto esperava? Levantei o pequeno buquê e segui em direção às escadas. Michelle apertou meu braço quando passei por ela.

- Waverly, eu tenho uma preocupação. – ela me segurava – isso de você ficar fora de casa até tarde... Você ainda está na escola, sabe.

Droga, ela percebeu.

- Não se preocupe, estou acompanhando bem e minhas notas permanecem ótimas. – não menti.

Ela me lançou um olhar severo, mas procurei não ligar para isso. Ela me soltou e eu voei em direção ao meu quarto. Hetty levantou em um pulo quando me viu passar com as flores. Ela agora ficava muito mais tempo aqui em casa conosco. Não que eu tivesse reparando muito ultimamente, já que ela estava ocupando minha mente o suficiente.

- Uau. – ela disse logo atrás de mim – ela realmente deve gostar muito de você.

Meu coração parou. Coloquei o buquê ao lado da minha cama, e o Simba junto com meu travesseiro. Girei em direção a Hetty me lançando em um abraço.

- Aí Hetty, eu estou me sentindo TÃO feliz! – puxei ela pra minha cama, derrubando nós duas.

- Até um cego do outro lado do mundo consegue ver isso, Waverly. – ela deu um sorrisinho. – caso você tenha esquecido, essa divisória não é a prova de som, eu ouvi vocês conversando na noite passada.

Meu rosto corou.

- Você é muito intrometida. – falei rindo.

- Ou será que você que está quase gritando pra todo mundo que está gostando dela? – ela brincou.

- Você agora também guarda o nosso segredo, é uma cúmplice!

- Você me tire dessa – ela levantou rindo – vê se eu estou ganhando ao menos um chocolate pra guardar esse segredo!

Joguei uma almofada em sua direção, mas ela correu a tempo para o seu lado da divisória, rindo. Senti um alívio invadir meu peito, Hetty e eu estávamos finalmente nos dando bem.
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Na quinta feira, depois da aula, eu bati a porta do armário e gelei. Champ estava ali, de braços cruzados.

- Oi. – Falei, dando um passo para trás.

Ele irradiava raiva. Eu o tinha visto mais cedo, na reunião do conselho estudantil, onde agora ele sentava o mais longe possível de mim e evitava qualquer tipo de contato. Depois da reunião, Beth me parou para perguntar o que havia acontecido entre nós dois.

- Terminamos. – contei a ela.

- O QUE?? –  pensei que seus olhos fossem saltar da suas órbitas oculares e sair rolando pelo chão – aí meu Deus, Waverly, quando?

- Quase duas semanas atrás.

- Você contou a Rosita? – ela franziu a testa.

- Não, não contei ainda. – eu não podia confessar que andava meio distraída.

- Mas que diabos aconteceu? Foi ele que..

- Foi – nem deixei ela terminar de falar – sabe, eu não quero ter que falar sobre isso agora, Beth.

Disparei, deixando-a para trás com o queixo caído. Não me importo que pensem que foi ele quem terminou comigo, se isso for salvar a dignidade dele, pelo menos.

- Quero as minhas coisas fora do seu carro. – Champ rosnou, me trazendo de volta a realidade.

- Tudo bem, desculpa, eu esqueci que tinha coisa sua lá.

Ele girou e foi caminhando em direção a saída. Nicole havia acabado de chegar ao seu armário, e ouviu, ou deve ter sentido a raiva dele irradiando pelo lugar. Compartilhamos uma careta, e eu tive que segurar o riso. Acelerei meus passos para alcança-lo. Quando chegamos ao meu carro, ele ficou rígido, olhando apenas para o horizonte do estacionamento. Abri a porta do motorista e agarrei o saco de dormir dele, o seu fogão portátil para acampar, um taco de hóquei e o puck. Entreguei todas as coisas em suas mãos, sem falar nada. Ele se virou para ir embora, deu dois passos antes de se voltar para mim perguntando:

- O que nós tivemos, Waverly? Me diga, você estava fingindo?

Ah Deus, eu não queria esse confronto, essa conversa. Nem agora e nem nunca. O que eu poderia dizer a ele? Que nosso relacionamento foi uma mentira? Que eu nunca me senti tão feliz com ele como estou com Nicole? Eu sempre menti para mim mesma durante todo esse tempo. Mas eu não estava fingindo totalmente. Será que ele suspeitava de algo? Meu coração martelou. Abri a boca para responder, mas o que eu responderia? Não havia nada que eu pudesse dizer.

- Eu gostei muito de você, Champ. Mas aconteceu o que acontece, as vezes, a vida. Nem tudo funciona como a gente gostaria que fosse.

E sem dizer nada, ele apenas me fulminou com o olhar, que fez meu sangue gelar. Senti o perfume dela atrás de mim.

- Eu acho que ele sabe. – falei.

- E como ele saberia? – ela questionou.

Balancei a cabeça.

- Eu não.. – a resposta poderia ser dita sem ao menos pensar – Shae.

- Eu não me preocuparia com ela. – ela falou – ela não contaria.

- Como você pode ter tanta certeza assim?

Ela deu de ombros. Talvez ela não conhecesse aquela garota muito bem.

No segundo horário das aulas, eu estava indo em direção aos armários quando encontrei  dentro do meu armário, um cartão cor de rosa junto com uma trufa de chocolate na prateleira. Ela havia deixado chocolates para mim durante toda a semana depois do nosso encontro, em vários lugares para que eu encontrasse. No bolso do meu casaco, na mochila da natação e até preso do para-brisa do meu carro, e assim como todas as vezes, aquele pequeno gesto me fazia sorrir feito boba. Nesse cartão em específico havia emoji com corações nos olhos desenhados, e escrito: ABRA COM CARINHO. Eu abri, e dentro ela escreveu: AMANHÃ, AS 18:00. Meu estômago deu um salto triplo. O nervosismo me dominou mais do que os outros dias. Eu iria dormir na casa dela. EU IRIA DORMIR NA CASA DELA, meu cérebro gritava e parecia frenético com aquela frase ecoando o tempo inteiro. Meu Deus, será que iríamos... bem, você sabe... Eu desejei aquilo por várias vezes, desde que começamos a sair. O meu corpo pedia isso, chegava a implorar, mas o pânico me dominou quando finalmente a minha ficha caiu. Eu precisava conversar sobre isso, mas com quem? Wynonna, claro, tinha que ser ela. Peguei minhas chaves, eu precisava ir na delegacia, mas Beth e Rosita me pararam próximo a saída. Eu só queria sair despercebida e sem que ninguém me parasse no caminho.

- Estamos te sequestrando. – Beth falou agarrando um dos meus braços, e Rosie o outro.

- Que? Pra onde estamos indo? – olhei para as duas.

- Vamos para um momento self care. Na minha casa. – Beth respondeu – vamos fazer cookies, pintar as unhas, jogar conversa fora e falar mal dos outros.

- Não, essa última parte ai não vamos fazer, não. – Rosita disse prontamente. Sensata como sempre.

- Então podemos fazer máscaras faciais, pintar o cabelo, colocar unha postiça... Qualquer coisa idiota dessas, mas nós vamos! – Beth prosseguiu dizendo.

Meus meus enterraram no chão do corredor da saída lateral.

- Não posso hoje, tenho umas coisas pra resolver. – as duas bufaram – desculpe, meninas. – falei, puxando meus braços de volta.

- Então a noite – Beth disse animada – sei que voce jamais faltaria no trabalho, senhorita chata e certinha.

- Meninas... – balancei a cabeça – é que realmente hoje não posso. Tenho muita coisa pra fazer. – como por exemplo arrumar minha bolsa para levar pra casa da Nicole amanhã.

- Viu? – Beth virou em direção a Rosita com as mãos na cintura – Eu disse a você que ela abandonou nossa amizade.

- Claro que não, isso é mentira! Eu só estou atolada de coisas pra fazer.

- Beth me contou sobre Champ. Você sequer me ligou pra contar. – a voz de Rosie soava magoada. Meu coração afundou. Eu deveria ter contado a ela. Inventado uma história qualquer, mas eu odeio mentir. E esse era um dos principais motivos pelo qual não contei antes a ninguém.

- Por que ele terminou com você? O que aconteceu, Waves? – Ela continuava questionando.

O que eu poderia contar a ela? Que eu sou lésbica? Que na verdade eu sempre fui, só não reconhecia? Tudo o que eu podia dizer era... absolutamente nada.

- Ela não quer conversar com a gente, Rosie. – Beth dizia – eu tentei te avisar que ela não precisa mais da gente.

- Ei, isso não é verdade, Beth. – protestei. Eu precisava delas, mas naquele momento eu estava vivendo algo único, apenas aquele não era o momento de festa do pijama.

- Olha, eu sinto muito, Waves. – Rosie segurou minha mão – eu sei como dói, mas eu te juro que isso tudo passa depois.

Beth deu um tapa na mão de Rosita.

- TIVE UMA GRANDE IDEIA! – ela gritou – vamos formar um clube “estamos desistindo dos homens para sempre” – ela fazia um slogan imaginário no ar.

Eu ri. Isso era mais engraçado do que elas poderiam imaginar.

- Gostei – Rosie disse rindo – pode me inscrever.

- Você está dentro? – Beth questionou me apontando com o queixo. Depois enfiou a mão na bolsa e pegou um bloco de notas.

Eu queria tanto poder contar a elas. Queria demais poder conversar sobre tudo isso. Sobre Nicole. Sobre nós e como eu estava me sentindo feliz e completa. Rosita disse:

- Nós realmente precisamos nos reunir. Nós três, sério. Estou começando a ter crise de abstinência de amizade. Vamos combinar de dormir na casa de alguém amanhã!

- Eu super topo! – Beth se animou.
O sinal tocou e as portas das salas começaram a se abrir, e as pessoas andavam de um lado para o outro no corredor.

- Vamos, as 19:00 em ponto eu busco vocês! – Rosie disse – podemos fazer assim, wave?

- Não posso. – respondi rapidamente – realmente não posso. Vou estar ocupada. – meu Deus, bem na noite que Nicole me chamou, não é possível!

Houve uma mudança no clima, a temperatura mudou entre nós.

- Quer saber, vamos embora, Rosita. – Beth disse puxando rosie pela manhã do casaco. – nós estávamos certas em não procurar ela mesmo.

Enquanto Beth puxava  Rosita no meio da multidão dos alunos, ela olhou pra trás, por cima dos ombros. Ligue pra mim, ela pediu sem falar nada, apenas fazendo um sinal de telefone invisível na orelha. Soltei o ar pesadamente, talvez eu ligasse pra ela e contasse tudo, no momento certo.

Peguei meu celular e liguei para Wynonna, combinei de encontrar com ela em um restaurante próximo a delegacia, eu não queria que Nicole nos visse juntas conversando e ficasse curiosa em saber o motivo, só de pensar minhas bochechas esquentaram. Estacionei em uma vaga perto da entrada, ela já estava me esperando em uma mesa um pouco ao fundo do lugar.

- Oi maninha – ela levantou para me dar um abraço apertado – eu tomei a frente e acabei pedindo algo pra gente comer, tudo bem?

- Ah, sem problema, eu nem estou com tanta fome assim. – minhas mãos tremiam e estava claro que ela tinha percebido meu nervosismo.

- Por que você está tremendo feito pinscher, Wave? O que você aprontou agora? – ela colocou as mãos nas têmporas.

- Aí, não foi nada, eu tenho cara de quem apronta alguma coisa? – cruzei os braços e ela apenas me encarava com as sobrancelhas arqueadas.

- E eu estou só esperando você desembuchar logo. – agora era ela quem cruzava os braços.

- A Nicole me chamou pra dormir na casa dela. Amanhã. DORMIR NA CASA DELA! – minha voz saia aguda e rápida – o que que eu faço, Wynonna? – sussurrei.

- É isso? – ela gargalhou e começou a gesticular – então, você vai abrir as pernas dela e...

- WYNONNA! – interrompi – eu não to falando disso, meu Deus do céu. – cobri o rosto com as mãos.

- E o que você quer então? – ela jogava as mãos no ar, indignada. Respirei fundo.

- É que, eu não estou indo pensando que iremos fazer isso...

- Ah tá, uhum – ela tomou um gole do suco que a garçonete tinha acabado de deixar na mesa – vocês vão fazer guerra de travesseiros e pintar as unhas, me poupe, wave. – ela revirou os olhos rindo.

- Da pra você me levar a sério? – meu nervosismo atacou – Nonna, eu nunca... nunca estive com uma garota antes, digo, nesse sentido..  E ela já, certeza que já! E se eu não souber o que fazer? Digo, se eu fizer alguma idiotice ou...

- Wave, primeiro, respira, toma um gole desse suco. – ela estendeu em minha direção e eu tomei – você já esteve com o Champ, certo? Digamos que seja parecido, você só não vai ter aquele treco dele. – soltei um risinho – a Nicole me parece uma garota muito respeitadora, certeza que ela não faria nada que você fosse se incomodar.

- E se ela quiser – engoli seco, susurrando – sabe, fazer aquilo.. – usei minhas mãos como um movimento de duas tesouras juntas e Wynonna cuspiu o suco da boca rindo alto.

- Waverly – ela estava com as mãos no estômago, rindo – o que você quer que eu diga? Faça, ué! – ela lançava as mãos no ar – babygirl – ela segurou minha mão – você não precisa ficar essa pilha de nervos assim, digamos que isso seja como andar de bicicleta, quando você menos esperar vai estar equilibrando bem.

- Nossa, que comparação! – rimos juntas.

Senti alguém se aproximando por tras de mim, e Wynonna sorrir de lado com cara de criança que aprontou algo.

- Hey. – ela disse próximo ao meu ouvido e senti meu corpo inteiro arrepiar.

- Chamei a Nicole pra almoçar com a gente também – ela levantou uma sobrancelha em minha direção, me provocando e eu lancei um chute em sua perna por baixo da mesa. – espero que não se importe, maninha.

Lancei um olhar em reprovação pra Wynonna, que fazia de tudo para segurar o riso. Almoçamos juntas, conversamos sobre diversos assuntos, tivemos um ótimo tempo de qualidade juntas. Mas logo elas anunciaram que precisariam retornar para o trabalho. Wynonna me abraçou de lado, sussurrado que tudo ia dar certo. E Nicole ficou na minha frente, tocou a ponta do meu nariz com o dedo dizendo:

- Mais tarde eu te ligo, tá? – e me lançando o sorriso mais lindo do mundo, as duas seguiram juntas rua acima.

Tirei meu celular do bolso e disquei um número, e não muito tempo depois ela me atendeu.

- Oi, tá fazendo o que? – perguntei.

- Nada, deitada na cama pensando em como você suporta essa mulher. – eu podia ouvir Michelle gritando no fundo da ligação, soltei um risinho.

- Tem um jeitinho, se quiser eu te ensino – não segurei o riso – tá afim de ir ao shopping comigo?

- Vamos! – Hetty respondeu animada.

- Ótimo, estou passando por aí em menos de 10 minutos.

Chegando em frente a minha cara, desacelerei e buzinei. Não demorou muito para que Hetty viesse correndo em direção ao carro. Ela entrou ao meu lado e pôs logo o cinto de segurança.

- A Michelle quase que virou pedra quando eu avisei que estava de saída com você. – ela gargalhava contando.

- Ela provavelmente nunca imaginou que isso fosse acontecer um dia! – riamos juntas.

- Mas finalmente o que você vai fazer lá? – Hetty perguntou.

- Então... Nicole me chamou pra dormir lá amanhã.

- MENTIRA! – ela agarrou meu braço – amém, né? Eu já não aguentava mais esse fogo que emanava de você.

- Hetty! – empurrei seu braço de leve e rimos.

No shopping, passamos por diversas lojas, eu procurei alguns pijamas e Hetty sempre me questionava porque eu precisava de mais um pijama e não levava apenas algum que eu já tinha no armário, e eu precisei explicar diversas vezes o motivo.

- Hetty, eu quero estar apresentável! No dia que você for passar por isso, vai lembrar de mim e entender.

- Waverly, a pessoa vai querer o que está por baixo e nem vai olhar pra roupa que eu vou estar usando.

- Garota?? – a olhei incrédula – você me surpreende a cada frase. – arregalei os olhos.

Por fim, depois de passar por diversas lojas e ouvir todas as críticas bobas de Hetty que me faziam rir, comprei um pijama novo e uma roupa íntima, nunca se sabe, né? Logo após as compras, levei Hetty para lanchar em seu lugar preferido, podemos conversar por um tempo e eu consegui enxergar um pouco do seu ponto de vista de ver o mundo, senti diversas vezes uma pontada de culpa em meu coração por ter julgado tanto antes de conhecê-la de verdade. Ela tinha uma postura de gótica agressiva, mas por dentro era um gatinho indefeso. Voltamos para casa por volta das 20:00. Troquei poucas palavras com Michelle, eu só queria paz aquela noite. No meu quarto, comecei a separar tudo o que eu iria precisar para levar pra casa da Nicole.

- Pijama, escova de dentes, calcinha, perfu...

- Waverly, você não vai viajar, não. – Hetty soltou do outro lado da divisória me retirando dos pensamentos em voz alta.

- Eu não quero esquecer nada, ok? – respondi colocando minha cabeça do lado dela.

Meu celular tocou. Era ela.

- Hey you – Nicole atendeu com uma voz que me deixou nervosa.

- Oi.. como foi o trabalho hoje? – perguntei me jogando na cama com um sorriso bobo no rosto.

- Foi tranquilo, mas a sua irmã quase esmurrou o Dolls por conta de uma aposta idiota entre os dois. – ela contava toda empolgada – mas te liguei pra confirmar sobre amanhã, tá tudo certo?

- C-claro. – gaguejei – eu estava inclusive já arrumando minha bolsa, amanhã meu dia vai ser corrido por conta das provas que terei, e logo em seguida vou ter que ir pro trabalho. Aliás, que horas é pra chegar? – acho que eu estava mais uma vez falando rápido demais, ela deu um risinho do outro lado.

- A hora que você quiser. Eu tirei dois plantões essa semana, pra poder estar livre amanhã e organizar umas coisas por aqui. Você pode vir depois do trabalho, o que acha?

- Ótimo, posso ir logo em seguida.

- Então estarei te aguardando, tá? – ela respondeu com uma voz doce que me derreteu inteira.

Ficamos conversando durante o resto da noite. Vez ou outra eu conseguia ouvir Hetty segurando o riso do outro lado da divisória, e isso me fazia revirar o olhos tentando não rir também. E mais uma vez adormeci junto com ela ao telefone.
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No dia seguinte, acordei com o sorriso maior do mundo quando lembrei que muito em breve estaríamos juntas, eu e ela.

Right TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora