Para sempre

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Hey you! 💛

Espero que gostem de mais um capítulo e gratidão sempre a quem chegou até aqui.

♥️♥️
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Depois de um banho, sai do vestiário e tomei uma decisão: eu sairia do armário. Confesso que ainda me sentia um tanto quanto insegura com isso, então decidi começar aos poucos, uma pessoa por vez. Então comecei pelas que realmente mereciam ouvir isso diretamente de mim. Primeiro liguei pra Rosita.

- Preciso conversar com você. – Falei. – Se você ainda quiser falar comigo, claro.

Ela não respondeu, ficou muda. Morri um pouco por dentro. E pensei que ali não haveria mais jeito.

- Talvez eu não tenha tempo essa semana, você sabe, muitos trabalhos para fazer. – Ela ironizou. Ok, eu mereci aquilo.

Ouvi ela respirar fundo antes de falar.

- Na casa da árvore. Vamos nos encontrar lá.

- Perfeito, quanto? – Perguntei ansiosa.

- Hoje.

- Mas que horas?

- Depois da aula. Vista seu pijama e traga sua lanterna. – Havia um sorriso em sua voz. Ela sempre dizia isso quando éramos crianças e brincávamos na casa que ficava dentro do seu quintal.

Meu coração cantarolou.

- Perfeito, estarei lá.

- Você promete, dessa vez?

Fechei os olhos com força.

- Prometo, Rosie. Estarei lá.

Desligamos a ligação. E agora, tinha outra pessoa que eu precisava contar. Aproveitaria que haveria aula de anatomia novamente no segundo horário. Retirei da minha mochila um pedaço de papel e escrevi um bilhete para Perry. Estava me corroendo o fato dele ter ficado magoado e por ele pensar coisas erradas sobre mim. No bilhete, contei que eu acabei de me descobrir lésbica, e que eu estava aprendendo a lidar com tudo aquilo. Que o motivo de eu recusar o convite não tinha nada a ver com ele, ou com o que ele era, dizendo que eu realmente me senti lisonjeada em ter sido convidada para ir ao baile. E assinei como “Waverly (estúpida) Earp. ”

Fiquei apavorada com o fato de entregar essa carta, e não ajudava em nada lembrar das palavras da Nicole “você nunca sabe como irão reagir. ” Perry era sempre tranquilo e achei que eu conheceria suas reações, mas na verdade nunca sabemos como vai ser. O medo era paralisante. A aula estava quase no fim e a carta ainda estava debaixo do meu caderno.

É agora ou nunca.

Fingi que precisava jogar uns papéis no lixo, caminhei até à frente da sala, próximo à mesa dele, e deixei o pequeno papel cair sobre seu caderno e voltei para o meu lugar logo em seguida. Observei ele pegar o envelope, retirar a carta, ler e depois dobrá-la novamente.  Mas ele permaneceu ali, olhando o quadro à sua frente. Sem sequer se importar. É, ele me odiava. Minutos depois, sem aviso, a sua cadeira caiu, assustando todo mundo na sala.  Ele recolheu todo o material e caminhou até o fundo da sala, atraindo a atenção da professora Lucado por conta do barulhão que ele fez. Perry deslizou no assento ao meu lado, dizendo:

- Hey Waverly, estúpida, Earp.

Aquelas foram as palavras mais doces que eu poderia ouvir naquele dia.

- Hey Perry, que não é o ornitorrinco.

Ele riu. Então, ele fez algo inusitado. Passou um braço ao redor dos meus ombros e me deu um apertão desajeitado, de um jeito fraterno. Desviei meus olhos pra Nicole, que abaixou a cabeça na sua carteira, tapando o rosto e contendo uma risada.

Eu queria gritar, sair saltitando pelos corredores. Eu mal estava conseguindo manter minha própria histeria.
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A casa de Rosita não era muito longe da fazenda e quando éramos crianças, íamos correndo até o quintal uma da outra. Em tempos chuvosos, nossos sapatos ficavam cheios de lama, mas sequer nos importávamos com isso. O sol projetava os galhos das árvores, fazendo formas geométricas na grama. Em breve, essa árvore estaria toda florida, já que a primavera estava chegando. Minha época favorita do ano. Me lembrava renascimento, e esse ano seria ainda mais especial, pois eu estava renascendo junto com as novas flores. Olhei para cima, nossa antiga casa na árvore. Nosso clubinho. Sorri.

- Toc, toc. – Chamei e fiquei esperando debaixo daquela árvore enorme, olhando para casa logo acima.

Uma voz veio do alto.

- Qual a senha secreta?

- Droga! – Murmurei.

- Não é essa a senha. – Ela disse.

Sorri, balançando a cabeça.

- Você não lembra da senha secreta?

Agarrei um dos galhos, e comecei a escalar aos poucos.

- Rosie, isso já faz séculos! Quase uma vida. – Me espremi entre os troncos, lembrando vagamente que antes havia uma porta ali. – Esse piso vai aguentar a gente? – Pisei cuidadosamente na plataforma antiga de madeira compensada, indo em direção ao local onde Rosita estava sentada, segurando um caderno em espiral nas mãos.

- Você lembra disso? – Perguntou, distraída.

Abaixei ao lado dela, a madeira estalou e eu me agarrei em seu braço para me segurar. Ou para cairmos juntas.

- O que é isso? – O piso estabilizou e eu soltei seu braço.

Rosie me passou o caderno.

- Ah meu Deus, esse é o nosso livro secreto de espionagem?

Rosita sorriu.

- Lembra como se lê esses códigos que a gente inventou?

- Caramba, não. – Pareciam apenas rabiscos agora.

Ela franziu os lábios e tomou o caderno novamente das minhas mãos.

- Ty e Alisson são dois idiotas, estúpidos e feios. Da próxima vez que eles atirarem frutinhas em nós a caminho da escola, iremos chamar a polícia.

Eu ri. E Rosie continuou lendo.

- Sarah é louca por garotos.

- Quem é Sarah?

- E você acha que eu lembro? – Rimos juntas.

Olhei ao redor, as paredes de madeira já estavam velhas, não sei como ainda permaneciam intactas. Mas ainda assim, era o mesmo lugar onde brincávamos. Foi ali onde compartilhamos tantos momentos inesquecíveis. Nas janelas, ainda estavam os lençóis floridos que um dia roubei da minha mãe e fizemos de cortinas. Lembrei de umas balas de caramelo que havíamos escondido aqui, será que ainda estavam em algum lugar? E não era só isso que escondíamos. Precisei me abaixar de um galho que cruzava o telhado da casinha, tocando pequenas letras em um pedaço de madeira.

- Ainda estão aqui. – Rosie falou se aproximando. – Por toda a eternidade, exatamente como havíamos planejado. – Ela também deslizou os dedos nas letras. – A descrição da nossa vida amorosa inteira aqui. “R+A”, Antony. Às vezes me pergunto onde ele deve estar agora.

- Talvez na cadeia. – Falei. – Ele já vendia drogas na sexta série, você lembra?

Rosita riu, ela tinha uma atração por garotos complicados.

- R+B. R+Y. R+R. R+N... Você era mais namoradeira que a Beth. – Provoquei.

Ela bateu no meu braço.

- Eu estava procurando, ainda estou. – Ela fixou seu olhar no tronco, depois olhou devagar para mim.

Engoli em seco. Minha boca parecia um deserto.

- Aqui está o meu. – Tateei as letras no tronco. – W+... – Pisquei pra Rosie. – Ué, está vazio. Eu não lembrava disso.

- Pois é, imagina só. – Ela ergue uma sobrancelha para mim. – Você queria conversar comigo. Sobre o que era?

Meu coração acelerou. Eu já não tinha mais tanta certeza se eu queria contar. Nicole disse para eu ir com calma, não criando muitas expectativas, para eu não me desapontar caso Rosita precisasse de um tempo para aceitar. Mas não acho que ela iria precisar disso.

Quebrei um pequeno galho. E depois outro. E outro. O medo estava me envolvendo.

- Você quer que eu fale ou você trouxe algum discurso que ficou ensaiando?

Abaixei a cabeça e ri comigo mesmo. Rosita me conhecia muito bem.

- Eu sou gay. – Assumi.

Rosita deu um passo para trás, colocando a mão na boca. Claramente fingindo um espanto.

- Idiota, você me paga. – Eu disse a ela.

Rosita abriu um sorriso, puxando uma tira da casca da árvore.

- É a Nicole?

Meu rosto corou.

- É, é ela.

Rosie se afastou, voltando para o lugar onde havia deixado o caderno. Sentou e cruzou as pernas. Eu a segui.

- Me conta, como que é? – Ela perguntou.

E de repente, eu estava nas alturas. Essas eram as palavras que eu mais queria ouvir. Respirei fundo e soltei tudo.

- Eu a amo, Rosie. Eu a amo tanto. Eu nunca me senti assim com ninguém antes. É como se Nicole e eu estivéssemos ligadas. Fisicamente, emocionalmente e até espiritualmente. É como se ela estivesse dentro de mim. – Apertei meu estômago com as mãos. – Ela é parte de mim, não consigo explicar. Tipo alma gêmea, sabe?

- Eu a odeio. – Rosita bufou.

- Não! Como pode? Você sequer a conhece. – Senti meu rosto esquentar.

- Não, Waverly. – Ela riu. – Não foi isso que quis dizer. Eu estou morrendo de ciúmes, eu não consigo sequer imaginar como seria alguém me amando dessa maneira.

- Ah, Rosie...

- Eu estou muito feliz por você, Waves. – Disse sincera. – Mas também me sinto um pouco triste.

Rosita passava os dedos na espiral do caderno.

- Está? Por que? – Indaguei sentindo um aperto no peito.

- Não sei, isso muda algo entre nós?

- Claro que não. Por que mudaria?

- Não sei, você agora é diferente. Antes você me ligava, nós éramos amigas.

- Nós somos! Você sempre vai ser minha amiga, Rosie!

- Mas eu não sou uma de vocês.

- Uma de nós? Você fala como se fôssemos uma sociedade secreta, ou algo assim.

- Não, eu quero dizer... Não sei se você me encaixaria nessa sua nova fase.

Inesperadamente, Rosita chorou. Isso realmente a magoava. A puxei para os meus braços, e acariciei seu cabelo com tranças.

- Sabe, eu já tive uma queda por você...

Percebi que ela se afastou levemente de mim, e eu a soltei logo. Minha cabeça gritava “IDIOTA, ISSO É COISA QUE SE DIGA?!” O que será que ela estava pensando? Recuei, dando espaço para ela.

- Você então é bi? – Rosie perguntou, puxando um lenço dentro do short. – É que, você sabe, tinha o Champ antes e tal. – Ela limpou o nariz.

- Não, não sou. Agora eu percebo que só o amei como um amigo. – Pelo olhar dela, não sei se ela tinha entendido. Mas tudo bem, as vezes nem eu entendo. – Você me faria um favor, Rosie?

- Claro, o que seria?

- Você poderia entregar um recado ao Champ? Você poderia dizer a ele que sinto muito? Que sinto muito mesmo pelo rumo que as coisas tomaram. Que eu deveria ter sido sincera desde o começo. Diga que eu espero que ele encontre alguém que o ame, de uma forma que eu seria incapaz de amar. Você acha que ele vai entender?

Ela balançou a cabeça em negativa.

- Sendo bem sincera, não. Ainda mais depois da briga que ele teve com Nicole na escola. Ele está bem chateado.

- Você soube da briga? – A olhei surpresa.

- Todos sabem, Waves. As notícias se espalham como um foguete naquele lugar, você sabe. Eu sei que você não quis magoá-lo. E sabe, logo ele vai para a faculdade e vai esquecer isso, ele vai ficar bem.

Rosita levantou rápido, caminhando até a pequena janela que tinha na casinha.

- Tudo está mudando.  Todos estão indo embora. – As lágrimas dela ameaçaram cair novamente.

- Você também está indo?

- Eu não sei, mas definitivamente eu não quero ir para a mesma universidade que a Beth.  – Seus olhos encontraram os meus. – Ela me contou o que disse para você no banheiro. Eu não consegui acreditar. Quer dizer, eu consigo. Ela sempre teve inveja e ciúmes de você.

- De mim? – Franzi a testa – Por que?

- Por que? Porque você sempre foi muito popular. Você chama atenção por onde passa, Waves. Você sempre foi mais inteligente que ela, sempre teve as melhores notas. Você é a garota que todos desejam namorar naquela escola. E namora o Champ, um dos garotos mais desejados também. Quer dizer, namorava. – Ela corrigiu.

- As pessoas nunca enxergam além da superfície. – Falei apertando um prego solto na madeira.

- E muito menos ela. Ela é tão superficial, que tudo o que ela tem abaixo da superfície é uma fossa.

Arregalei os olhos pra Rosita. Nós duas rimos. Não sei o que era tão engraçado. A verdade, talvez?

- Ela é uma canalha, Waverly. Depois que ela me contou como te tratou, eu disse que não queria que ela ficasse próxima a mim. Eu tive tanta vontade de te ligar...

- Ah, Rosie...

- Eu só queria que as coisas voltassem a ser como antes. Você não? – Acrescentou depressa.

Deus, não. Se as coisas não tivessem mudado, se eu não tivesse mudado, eu jamais teria conhecido Nicole. Então eu estava feliz pelas mudanças. Em partes...

- Michelle me expulsou de casa. – Contei.

- O que? – Rosita arfou. – Você tá brincando, né?

Contei tudo que tinha acontecido, desde quando conheci Nicole até o momento que minha tia descobriu e a família de Nicole me acolheu. Rosita sempre prestando atenção e me ouvindo atentamente. Era visível o seu choque. Olhei para o relógio no meu pulso quando finalizei o relato.

- Droga, eu preciso ir. – Nicole iria me buscar para o nosso passeio. Isso seria um passo importante para nós duas. Eu sentia.

Rosita e eu descendo da árvore e quase chegando ao chão, lembrei de algo.

- Espera, esquecemos nosso livro de espionagem. – Comecei a subir de novo.

- Deixa. – Ela segurou meu braço. – Quem sabe nós não voltamos lá outro dia e damos continuidade à tradição. – Ela observou o nosso clubinho por um longo tempo, depois olhou para mim. – A senha secreta era tomate amarelo.

- Que? – Fiz uma careta.

- Era um disfarce para a verdadeira senha secreta.

- Meu Deus, que coisa besta, quem inventou isso?

- Você que inventou. – Rimos. – Você era brilhante, sempre foi. – Rosita sorriu, um pouco triste. Antes de partir, me deu um abraço demorado. Que saudade eu estava daquele abraço. – Me liga depois?

- Pode ter certeza que sim.

Ela seguiu seu caminho e uma onda de melancolia tomou conta de mim. Ela sempre seria minha amiga, não importa quanto tempo passasse. Ela estava certa, meu mundo havia mudado, se expandido. Eu via as coisas com outros olhos agora, mas nada nesse mundo me faria desistir dos meus amigos.
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Andei o mais depressa que pude, eu não queria me atrasar para o compromisso que eu havia marcado com Nicole. Chegando em casa, subi as escadas correndo. Wynonna estava na cozinha e colocando a cabeça em direção às escadas, gritou:

- Oi para você também, maninha!

- Desculpa, estou meio com pressa, falo já com você. – Gritei já chegando ao andar de cima.

Corri para o meu armário, pegando tudo o que achei que fosse necessário. Mas eu sequer sabia para onde ela iria me levar. Que tipo de roupa eu deveria colocar na mochila? Peguei meu celular e disquei seu número.

- Já está pronta? – Ela parecia animada.

- Quase, só faltam alguns detalhes. – Menti, tudo estava jogado na minha cama. Eu não sabia o que escolher. – Eu só estou com uma pequena dúvida, que tipo de roupa eu deveria levar?

- Aí, nossa, verdade! Eu esqueci de te avisar, perdão. Uma roupa de banho e uma roupa mais quentinha, essa é a última dica.

Murmurei, esse mistério todo estava me dando nos nervos. Mas sendo bem sincera, eu estava amando.

- Chego em dez minutos! – Avisou.

- DEZ MINUTOS? – Minha voz subiu uma oitava. – Então tchau!

Desliguei depressa, colocando algumas roupas na mochila, meus pertences de higiene pessoal e outras pequenas coisas que julguei ser indispensável. Corri para o banheiro, jogando minha roupa de qualquer maneira, tomando uma ducha rápida. Coloquei roupas confortáveis, encarei meu reflexo no espelho. Eu realmente estava diferente, me sentia mais viva. Arrumei alguns fios de cabelo antes de colocar minha mochila nas costas e descer as escadas.

Wynonna estava sentada a mesa da cozinha, organizando alguns papéis com a ajuda de Doc, que escrevia suas anotações em seu notebook. Fiquei parada diante da mesa, mas minha presença não foi notada logo de início. Longos minutos depois, Nonna ergueu seu olhar.

- Para onde você vai? – Ela apontava para a mochila nas minhas costas.

- Vou sair com Nicole, não voltarei hoje.

Ela se endireitou na cadeira, me olhando dos pés à cabeça. Uma buzina soou do lado de fora da casa.

- Ela chegou, já vou indo. – Desviei das cadeiras da cozinha, dando um leve beijo na bochecha de Doc, que sorriu de lado. – Até amanhã!

- Ei, mocinha, calma aí. – Wynonna levantou da cadeira, caminhando ao meu lado em direção a saída de casa. – Não é simplesmente me avisar “vou ali e volto amanhã. ” Você está esquecida que eu ainda sou responsável por você?

- Não, não estou. E foi por isso que eu vim te comunicar.

- Comunicar, entendi. Achei que você precisasse me PEDIR.

- Não sabia que você incorporava o espírito da mamãe. – Tentei provocá-la, mas não funcionou muito.

- Óbvio que não vou impedir você de ir, sua idiota. Mas ao menos me diga para onde vai, isso é uma medida de segurança!

Dei de ombros.

- Eu não sei para onde, ela disse que é surpresa.

Wynonna encarou o carro parado na entrada da fazenda, abrindo a porta e caminhando até ele. Ela se aproximou do vidro ao lado do motorista, onde Nicole batia os dedos impacientes no volante, e com os nós dos dedos, bateu. Nicole colocou os óculos na ponta do nariz e sutilmente, abaixou o vidro.

- Oi Wynonna. – Seu sorriso era sincero, mas sempre com uma leve provocação quando se tratava de minha irmã.

- Eu posso saber para onde você está sequestrando a minha irmã? – Ela colocou um dos braços na porta, apoiando a testa para conversar com Nicole.

- É uma surpresa.

- Tá, mas onde vai ser isso?

- Se eu falar, não vai ter graça. É por isso que se chama surpresa.

Minha irmã abriu a boca para responder, mas desistiu. Balançando o dedo em direção a Nicole, continuou:

- É, você tem razão. Mas você vai precisar me dizer, como expliquei a Waverly, eu sou a responsável por ela aqui, e querendo ou não, vocês são menores de idade.

E contra sua vontade, Nicole fez sinal para Wynonna chegar mais perto e em seu ouvido, julgo que contou onde iríamos. A expressão de surpresa da minha irmã me deixou ainda mais ansiosa.

- Haught, sua danadinha. – Ela bateu no ombro de Nicole, que resmungou massageando o local que recebeu o tapa.

- Nicole, você não vai me levar para um motel, né? – Sussurrei chegando próximo a janela do carro. As duas arregalaram os olhos.

- Claro que não, Waverly. – Ela gaguejou. – Nós nem iriamos conseguir entrar em um lugar desses.

- Bom, intimidades a parte. – Wynonna começou dizendo, se afastando da janela. – Juízo. E qualquer coisa, vocês me liguem.

Entrei pelo lado do passageiro, jogando minha mochila no banco de trás, onde observei alguns itens de acampamento. Nós iríamos acampar? Me animei, mas preferi fingir que não tinha visto nada. Nicole deu partida no motor, e acenei me despedindo de Wynonna que estava encostada em uma pilastra na varanda de casa.

- Tentem não engravidar, eu não tenho condições de criar nenhum bebê! – Ela gritou ao longe, fazendo Nicole revirar os olhos e balançar a cabeça rindo.

Ela pegou a estrada da rota oposta ao centro de Purgatory, iriamos sair da cidade? Nicole dirigia concentrada na estrada, vez ou outra, virava em minha direção e abria um enorme sorriso.

- Você se importaria se eu colocasse uma música para tocar?

- De maneira alguma, você tem ótimo gosto musical, Waves.

Conectei meu celular ao som do carro, deixando tocar uma playlist que criei com todas as músicas que me faziam pensar nela, em nós. Acredito que esse seria o momento perfeito para isso. Com sua mão direita livre, ela pousou na minha coxa, e entrelacei nossos dedos. Recostei a cabeça em seu ombro, enquanto discretamente eu a observava dirigir. Eu queria guardar cada pequeno detalhe daquele dia. Algumas vezes, ela encostava o rosto na minha cabeça e deixava um beijo em meus cabelos. E eu podia sentir meu peito se preencher de amor com cada gesto carinhoso que ela demonstrava. Poucos quilômetros depois, ela entrou em uma pequena estrada que informava “Reserva de Ghost River”.

- Nós vamos acampar? – Levantei animada, arrumando meus cabelos.

Com um sorriso de um canto ao outro do rosto, ela apenas confirmou, rindo da maneira mais carinhosa do mundo aos meus pulinhos de alegria no banco, enquanto acariciava um lado do meu rosto.  Pouco mais adiante, ela estacionou o carro. O lugar estava vazio, seríamos apenas nós duas naquele lugar exuberante. Soltei o cinto de segurança, abrindo a porta do carro e correndo até a ponta de um píer, Nicole me seguiu.

- Esse lugar é incrível!

- Você já tinha visitado?

- Não! Sempre ouvi falar que era fabuloso, mas olha isso. – Abri os braços, girando em meus próprios calcanhares. – Isso é perfeito, Nicole!

Ela correu, me segurando pela cintura, girando meu corpo no ar. Quando meus pés tocaram o chão, ela enroscou seus braços em minha cintura e por um breve momento, ficamos em silêncio, admirando casa detalhe da beleza daquele lugar. Um lago imenso ficava no centro da reserva, que era rodeada por árvores enormes de um verde inacreditável. Por conta da primavera se aproximar, algumas árvores tinham o topo coberto por flores, deixando pequenos pontos coloridos no meio da imensidão verde das folhas. Parecia que eu estava dentro de um dos meus sonhos mais lindos.

- Você gostaria de nadar? – Ela perguntou próximo ao meu ouvido, fazendo cada pelo do meu corpo arrepiar. Ela sempre teria esse poder.

Balancei a cabeça em confirmação e ela me puxou pela mão, até o carro. Nicole levantou a mala do veículo, e logo começou a retirar algumas coisas que havia trazido.

- Você pode tentar se trocar dentro do carro. Teremos que improvisar. – Disse piscando, fazendo meu coração derreter como se fosse a primeira vez que tivesse feito aquilo. – E não olhe para trás, minha surpresa ainda não terminou.

Entrei no carro e com uma certa dificuldade, coloquei minha roupa de banho enquanto Nicole terminava de organizar o que quer que fosse. Abri a porta do carro devagar.

- Já posso olhar para trás? – Perguntei com os olhos fechados.

- Pode, mas não abra ainda.

Levei minhas mãos aos olhos, tapando-os. Nicole me conduziu até a parte traseira do carro.

- Agora já pode abrir.

Ao abrir meus olhos, levei minhas mãos direto para a boca, encantada com tudo. Nicole havia montado um pequeno acampamento dentro da mala. Ela baixou o banco traseiro, forrando-o com lençóis coloridos e várias almofadas, o deixando bem confortável. Ao redor, ela pendurou pequenas luzes decorativas.

- Nicole! – Procurei palavras para expressar. – Que lindo. E por Deus, como você conseguiu ligar essas luzes?

- São a pilha, então eu não precisei quebrar tanto a cabeça. – Seus olhos eram radiantes, ela estava orgulhosa que tudo que planejou.

- Obrigada, muito obrigada. – Espalhei vários beijos por todo o seu rosto, enquanto ela me apertava contra seu corpo, sorrindo. – Agora, eu duvido que você chegue primeiro ao lago.
Toquei a ponta do seu nariz e corri, rindo.

- Ei, não é justo, eu ainda estou vestida! – Ela corria enquanto retirava os tênis dos pés, e jogava as peças de roupa de qualquer maneira no gramado.

Antes que ela conseguisse me alcançar, pulei. A água congelante pareceu travar meus ossos e segundos depois, quando voltei a superfície, senti outro impacto na água.

- Não vale assim. – Ela espirrava água em minha direção. – Isso é roubo, Earp!

Rimos juntas. E antes que eu pudesse revidar, Nicole segurou meu pulso, me puxando para um beijo. O calor da sua boca esquentou meu corpo, mesmo que a água estivesse um gelo. Ela roçou seus lábios nos meus, passando a ponta da língua no meu lábio superior, e eu já podia sentir meu corpo responder a um simples beijo. Empurrei Nicole em provocação.

- Para me beijar, vai precisar me alcançar. – Mergulhei, saindo de seu campo de visão.

- Waves, não vale! Você sabe nadar muito bem e eu sou apenas uma aprendiz de oficial!

Mesmo embaixo d’água, eu conseguia ouvir bem a sua fala, ainda que abafada. Nadei alguns metros submersa e reapareci longe dela, a chamando com o dedo em seguida. Nicole deu braçadas até onde eu estava e me envolveu em um abraço, nossas peles molhadas em contato uma com a outra. Passei minhas pernas ao redor dela e pude sentir que uma de suas mãos desceram até a minha bunda, o que me fez sentir uma pontada gostosa. Sorrimos antes do beijo, que me deixou mais sem fôlego do que nadas horas seguidas.
Minhas mãos desceram por suas costas e eu ameacei tirar a parte de cima de sua roupa de banho, mas mão o fiz, e levei meus dedos por sua barriga e puxei a sua parte debaixo, roçando minha mão por sua intimidade. Vi que Nicole arrepiou e eu resolvi que iria provoca-la um pouquinho mais. Me afastei, respirei fundo e mergulhei outra vez.

- Ah não, amor! – Ouvi ela reclamar e tentei segurar o riso, para manter a respiração. – Waves?!

Nadei por trás dela e segurei seu pé para fazer uma brincadeira, mas em defesa, Nicole acabou gritando e me chutando sem querer. Tomei impulso voltando a superfície, sentindo meu lábio latejar.

- Waves, por Deus, te machuquei? – Se aproximou preocupada, pegando meu rosto nas mãos.

- Não sei, machucou? - Perguntei, passando a mão na boca e sentindo doer um pouco.

- Droga, cortou um pouco. Onde já se viu fazer isso! – Ela soava preocupada. – Vem, vamos limpar isso.

- Calma, tá tudo bem, não foi sua culpa. – Segurei em sua mão, enquanto ela me guiava para fora do lago.

Nicole correu até o banco da frente, pegando uma pequena caixa branca com uma cruz vermelha na frente.

- Amor, sério, está tudo bem, não foi nada. – Falei sorrindo, tentando acalmá-la.

- Waverly, shiu. – Soou como uma ordem. Ela pegou um pequeno pedaço de algodão e pressionou meu lábio.

- Você me mandando calar a boca é tão sexy...

- Boba. – Nicole sorriu. – Nada de lago, cheguei a conclusão que são perigosos.

- Sim senhorita. Você não está com frio? – Perguntei, sentindo meu queixo bater.

- Vou acender uma fogueira para a gente – ela disse com firmeza – Enquanto isso, se embrulhe com isso aqui... – ela retirou uma toalha felpuda de trás de uma das almofadas.

Achei a ideia da fogueira romântica e depois de colocar a toalha em meus ombros, ajudei Nicole a recolher os pedaços de madeira que ela trouxe. Montamos a pequena estrutura em um pequeno pedaço de grama próximo ao píer, e colocamos pedras ao redor para que o fogo não se espalhasse. Fiquei ao seu lado, enquanto ela tentava fazer fogo. Sem sucesso.

- Como que nossos ancestrais conseguiam fazer isso? – Ela resmungava. – Eles merecem um prêmio por persistência.

Eu tentava segurar o riso, em seu apoio. Longos minutos depois, ela conseguiu, dando gritos de vitória. O sol começou a se pôr e um laranja magnífico dominou as nuvens. Nicole me chamou para segui-la, e assim o fiz, deixando a toalha pendurada na porta do carro. Ela escalou o automóvel, sentando no teto, esticando a mão para me ajudar a subir. Ficamos lado a lado, apreciando a beleza do sol se pondo diante de nós. Nicole me puxou para um beijo demorado, e em seus braços, me aqueci.

Logo que anoiteceu, ela me ajudou a descer, e somos sentar diante da fogueira. Trocamos nossas roupas molhadas por roupas confortáveis e quentes. Nicole se aproximou segurando um pote nas mãos, com marshmallows. Colocamos em gravetos, e esquentando um por um no calor do fogo, enquanto conversávamos sobre diversos assuntos.

Depois que minha barriga quase explodiu de tanto comer, ela pegou dois cobertores e estendeu pelo gramado, me puxando para deitar em seus braços.

- Como é bonito ver o céu aqui. As estrelas parecem mais brilhante. – Falei.

Nicole nada disse, seus olhos viraram em minha direção, e delicadamente, ela contornava meu rosto com as pontas dos dedos.

- Nicole... – Ela não desviava seus olhos dos meus. – Se você pudesse ir ou estar em qualquer lugar do mundo agora, onde você gostaria de ir?

Ela inspirou profundamente, erguendo os olhos para as estrelas.

- Sabe, Waves, se eu pudesse escolher qualquer lugar, eu escolheria estar exatamente onde estou agora. Aqui, com você. – Falou virando os olhos para meu rosto. – Porque não existe nenhum lugar do mundo onde eu gostaria de estar se não fosse com você ao meu lado.

Meu coração parecia uma bateria de escola de samba, e senti meu couro cabeludo inteiro arrepiar. E olhando dentro dos seus olhos castanhos, eu me encontrei. Então falei aquilo que por tanto tempo segurei e não sei porque.

- Nicole... Eu amo você.

- Eu também amo você, Waves. – Disse de imediato.

Se meu corpo pudesse soltar fogos de artifícios, ele estaria fazendo isso naquele momento, assim como no clipe da Katy Perry. Ela puxou minha mão e eu apertei seus dedos, acariciando cada um deles. Não trocamos nenhuma palavra, ficamos apenas admirando o olhar uma da outra. Naquele momento, eu percebi no brilho dos olhos dela, que juntas poderíamos realizar qualquer coisa. Que meus olhos esverdeados fizeram lar nos seus olhos castanhos.

Right TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora