I just wanna disappear

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Oi meus anjinhos Earpers!  Como vocês estão? 🌻

Começo pedindo perdão pela ausência de atualização dos capítulos, mas como prometido, aqui está um capítulo novinho pra vocês. Espero que gostem e que me perdoem pela demora.

Beijinhos no coração 💛
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Na manhã seguinte, acordei com uma luz que vinha da janela diretamente em meu rosto. Me remexi de leve na cama e senti um peso por cima das minhas costas, um sorriso involuntário se formou em meus lábios ao me dar conta de tudo o que tinha acontecido algumas horas atrás. Me virei, me pondo de frente a garota ao meu lado, que estava com os olhos fechados, seus cabelos destacavam com o sol que batia neles e seu semblante era sereno. Um cobertor grosso cobria metade de seu corpo, deixando a outra parte exposta, nua, e pude observar sua respiração leve em seu abdômen. Verifiquei a hora em um despertador que tinha ao lado da cama dela, 10:30. Me aproximei de seu rosto, retirando uma mecha de cabelo que caia em seus olhos e depositei um beijinho leve em sua testa, o que fez Nicole se remexer na cama e retirar o braço de cima do meu corpo. Ouvi meu estômago roncar e tive a ideia de ir até a cozinha preparar algo, acreditando que ela não se importaria. Levantei lentamente da cama, procurando não fazer muito barulho, no chão peguei o blusão que ela usou na noite anterior e vesti, me olhando no espelho e segurando o riso de como ele tinha ficado enorme em meu corpo pequeno. Abri a porta do quarto no maior silêncio do mundo e logo deitado na porta estava Pipo, provavelmente esperando sua dona aparecer.

- heey... vem garoto! – sussurrei acariciando as orelhas do cão que estava me encarando com o rabo abanando.

A casa permanecia em completo silêncio, já que éramos as únicas naquele lugar. Chegando na cozinha, calamity saltou de cima da geladeira com um miado fino, e observei os dois animais me encarando com aquele olhar esperançoso.

- Vocês estão com fome, pelo visto. Mas onde será que fica a comida de vocês? – falei em voz alta e abrindo os armários a minha frente.

E embaixo do armário da pia, haviam dois recipientes com ração, coloquei nos potes que estavam próximo a porta da cozinha e deixei escapar um sorriso ao ver aquela cena que julguei ser tão fofa.

Abri a geladeira e pude ver algumas coisas que eu poderia utilizar para preparar algo para Nicole comer juntamente comigo. Comecei colocando água para esquentar e preparar um café, afinal de contas eu sabia o quanto ela adorava tomar café todas as manhãs, e sorri lembrando da primeira vez que a vi com seu copo de café próximo ao meu armário na escola. Preparei um pequeno recipiente com algumas frutas cortadas e decidi torrar alguns pães no forno. Alguns minutos depois, fui retirar a bandeja do forno, e senti meus dedos queimarem.

- Aí droga! – corri para colocar minhas mãos na água gelada – ai ai, que... desgraça! – resmunguei dando pulinhos com a dor quando ouvi um risinho logo atrás de mim.

- Você poderia ter usado a luva. – Nicole disse encostada ao lado da porta, levantando uma luva de proteção antitérmica no ar.

Senti um frio em meu abdômen quando vi que ela só usava um outro blusão cobrindo seu corpo.

- Vem cá – ela se aproximou, abriu um armário acima de nossas cabeças e pegou um bastão pequeno de pomada – minha mãe sempre tem uma dessas aqui, afinal de contas meu tio sempre se queima quando vai cozinhar – ela explicava sorrindo de lado, passando uma pomada na ponta dos meus dedos – e você precisa tomar mais cuidado. – ela disse chegando ainda mais perto do meu rosto – não quero que você machuque suas mãos. – ela deu um sorriso de lado e me puxou pela cintura em um abraço apertado. – bom dia, babe.

- Bom dia, sweet pie. – respondi selando meus lábios ao dela.

- Isso tudo é pra mim? – ela olhava ao redor sorridente.

- Bom, é.. Eu estava tentando preparar algo pra você, mas eu sou um completo desastre, como você pode perceber. – disse sem graça.

- Hey... – ela me interrompeu – tudo está maravilhoso, eu tenho certeza. – ela me olhava com um olhar terno que aquecia meu peito.

- Vem, vamos comer – a puxei pela mão e puxei uma cadeira para ela sentar e ela me olhou rindo.

- Você que manda – ela ria. E antes que eu pudesse me sentar, senti a ponta da minha roupa sendo segurada – mas espera – ela me puxou para perto – você ficou linda com a minha roupa.

- Você acha? eu quis colocar pra te sentir mais perto de mim. – me aproximei fazendo carinho em seus cabelos.

- Acho, mas eu prefiro você sem ela. – Nicole colocou as mãos por baixo do blusão, e senti suas mãos em contato com minha cintura, me segurando firme. Senti meu estômago gelar.

Ela selou seus lábios aos meus, em um beijo demorado, suas mãos por dentro da minha roupa, faziam carinho por cima da minha pele e deixava um rastro de arrepios. Nicole me sentou em seu colo, sem soltar do nosso beijo. Minhas mãos seguravam sua nuca e seus cabelos, encaixando ainda mais nossos corpos. Suas mãos subiram de encontro aos meus seios e deixei escapar um gemidos entre seus lábios. Ela segurou minhas pernas, fazendo com que eu as entrelaçassem ao redor de seu corpo. Senti meu corpo se aquecer com cada toque dela, e mais uma vez eu estava entregue a garota que tinha roubado meu coração. Segurei sua camiseta e puxei acima de sua cabeça, deixando-a nua e ela rapidamente fez o mesmo com a minha. Nossos corpos se tocando, um dia extremamente frio, mas eu me sentia aquecida. Por dentro e por fora. Sua mão passeava por todo meu corpo, e eu só conseguia me sentir amada a cada segundo mais, mas eu também podia sentir o que nosso corpo estava pedindo, me aproximei de sua orelha, mordendo a ponta do seu lóbulo.

- Nicole, o que está esperando?

Ela levantou, me fazendo encostar na bancada da pia, puxando uma das cadeiras da cozinha, Nicole segurou uma das minhas pernas e apoiou em cima da cadeira, se abaixou e começou a fazer uma trilha de beijos por toda minha coxa, até minha virilha, chegando ao meio das minhas pernas e colocando de leve sua língua, trazendo uma sensação de êxtase dentro do meu estômago. Ela não parou, continuou com os movimentos, segurei seus cabelos com força, minha respiração ofegava entre baixos gemidos ao sentir sua língua quente percorrer a parte baixa do meu corpo. Nicole parou, se ergueu beijando todo espaço que houvesse em meu corpo até minha boca, ela segurou meu corpo pelo quadril, e me virou de costas, senti minha barriga tocar o frio do balcão a minha frente. Ela afastou meu cabelo, beijando meus ombros, minha nuca e minhas costas e chegando em minha orelha dizendo:

- Abre a perna – disse quase em um sussurro, e não ousei desobedecer.

Nicole continuou beijando meu pescoço e minha orelha, enquanto com uma das mãos, ela segurava minha cintura e a outra descia acariciando a lateral do meu corpo, meu quadril e o minhas coxas, até que senti seus dedos tocarem de leve meu centro. Um frio percorreu meu corpo inteiro quando senti seu toque. Ela se afastou do meu pescoço, e abriu um pouco mais minha perna, e continuou com dois dos seus dedos. Eu podia ouvir sua respiração pesada que se misturava com meus baixos gemidos. Segurei firme na bancada, sentindo que eu estava chegando ao êxtase, enquanto ela não saia de dentro de mim. Meus gemidos aumentaram e ela segurou minha nuca com uma das mãos e eu pude sentir como uma explosão no meio das pernas. E mais uma vez aquela garota tinha me levado aos céus. Continuei me segurando na bancada, enquanto eu tentava recuperar meu ar de volta.

- Vem... – me deu um abraço apertado, depositando beijos por meus ombros, e em seguida puxou minha mão, me entregando o blusão dela – agora podemos tomar café da manhã. – ela deu um sorriso de lado e me guiou até a cadeira ao lado da sua.

- Eu até perdi a fome. – falei puxando mais uma vez o ar profundamente.

- Perdeu? Dizem que depois é que da fome – ela riu – e você preparou tudo tão perfeito, Waves... Não sei nem como te agradecer.

- Bom, você acabou de agradecer. – respondi revirando os olhos, o que levou Nicole a rir e segurar minha mão.

- Você vai passar o dia comigo aqui hoje?

- Isso é um convite? – perguntei sugestivamente.

- Desde quando preciso convidar a MINHA Waverly pra isso? – ela disse colocando a mão sobre o peito. Abri um sorriso.

- Nicole isso... é surreal, não é? – segurei sua mão por cima da mesa – digo, eu nunca me imaginei nessa situação, com uma garota, eu me sinto tão... completa.

Ela beijou os nós dos meus dedos sorrindo.

- Você merece tudo isso, Waves. E eu só quero poder te fazer feliz. 

Cada palavra que saia de sua boca, era como se eu sentisse fogos de artifícios dentro de mim. Eu me sentia feliz, preenchida por todos aqueles sentimentos novos e bons que ela emanava. E eu teria mais um dia inteiro ao lado dela, só nós duas. Até o celular dela tocar e ela subir correndo as escadas para atender.

- É sua irmã. – ela disse virando o celular em minha direção – Oi Wynonna... Que? Mas... Por que? Hoje é minha folga! – ela bufou e revirou os olhos – Então tá, né, pelo visto não tenho outra escolha. – ela desligou a ligação, estava claramente chateada.

- Aconteceu algo? – questionei me aproximando e tocando em seu braço.

- Um agente novo chegou aqui na cidade para acompanhar sua irmã e o Dolls em uma viagem que vão fazer. E o Evan ficou doente e eu preciso substituir ele hoje, segundo sua irmã, tem muitos papéis para organizar antes deles irem viajar. Mas... ai poxa vida.

- Hey... – a envolvi em meus braços – não tem problema.

- Claro que tem, eu fiz horas extras para poder pegar essa folga e ficar com você, afinal de contas eu não sei quando vamos ter essa chance de novo.

- Nós teremos muitas chances pela frente, tá? – acariciei seu rosto e dei um beijinho na ponta do nariz dela. – e se você quiser, eu posso te acompanhar até lá hoje! Quem sabe duas mãozinha a mais não ajudam a terminar logo, não é?

Ela me deu um abraço apertado e beijou minha testa dizendo:

- Eu já disse hoje o quão incrível você é, Earp?
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Chegando na delegacia, ouvi barulhos de várias vozes conversando um tanto quanto alto demais. Uma delas era claramente da minha irmã. Tinha uma faixa enorme pendurada dentro de um das salas, desejando boas vindas para o tal agente novo.

- BABYGIRL! – Wynonna assim que me avistou veio correndo, envolvendo minha cintura e me conduzindo para perto do pequeno grupo de pessoas – maninha, esse é o Doc, o agente novo que estamos recebendo E o melhor atirador de elite que você vai conhecer na sua vida. E Doc, essa é minha irmã. – ela dizia sorridente. Eu sempre me senti importante quando estava com Wynonna, era como se ela tivesse orgulho em me ter como irmã e isso deixa meu coração aquecido.

- Olá garota.. – ele estendeu a mão em minha direção – Prazer, sou o Doc.

- Prazer, Waverly. – recebi um aperto de mão forte.

- O prazer é todo meu, senhorita. – ele usava um chapéu preto e roupas que pareciam ter sido tiradas do fundo de um baú.

- Me da só um minutinho? – Wynonna me puxou pela mão – vamos ali na minha sala, quero conversar com você algumas coisas.

Entrando em sua sala, ela fechou a porta atrás de nós.

- Tá acontecendo alguma coisa? – perguntei preocupada.

- Não, digo, não é nada de outro mundo. É que estamos envolvidos em um novo caso, como te falei antes, por isso o Doc veio nos ajudar. Mas eu te chamei para avisar que vou passar um tempo longe, ajudando no caso.

- E isso seria quanto tempo?

- Alguns meses, talvez.

- MESES? – cruzei ao braços – você vai me largar sozinha aqui com Michelle??

- Calma, por isso te chamei pra conversar! Eu vou deixar um dinheiro com você, pra qualquer emergência que vier, você não precisar pedir a ela. E qualquer coisa, você pode me ligar, não importa o horário. Ei, Wave, não faz essa cara – ela se aproximou e me abraçou – eu vou fazer isso por nós duas, vou ganhar uma boa grana ajudando nesse caso. E ei – ela segurou meu queixo – você não tá sozinha. – ela olhou em direção a janela da sala da Nicole – tem uma ruiva belíssima na tua cola.

Revirei os olhos e não contive um sorriso.

- Agora você vai me contar, finalmente, está aprovado ou não? – ela apontava com os olhos para a janela novamente enquanto com as mãos fazia um gesto meio obsceno.

- Por Deus, Wynonna, você não acha que isso é uma pergunta muito íntima, não? – ficamos nos encarando por segundos até que ela colocasse um sorriso malicioso no rosto e eu não me contive – Claro que ela está – revirei ao olhos – ela é incrível, a propósito.

- SABIA! – ela falou alto demais – pisou no Champ, fala sério?!

- Quem é Champ mesmo? – perguntei e ela quase cuspiu a água que estava tomando de tanto rir.

Durante o resto do dia, ajudei Nicole a empacotar alguma arquivos que seriam transportado na viagem. Levei alguns papéis para o sheriff assinar e entre uma ajuda e outra eu recebia um olhar apaixonado dela, e eu tinha cada vez mais certeza que eu estava no lugar certo. A hora passou muito rápido, logo já tinha anoitecido e Michelle já tinha me mandado mensagem perguntando qual horário eu estaria de volta em casa, aquela mulher não me deixava em paz um dia sequer! Respondi que chegaria tarde, que estava ajudando Wynonna em seu trabalho e isso pareceu lhe confortar. E perto das nove da noite, o rapaz alto de pele escura veio avisar a Nicole que eles iriam sair para comer algo, e que ao finalizar tudo, ela poderia ir embora. Fiquei sentada em uma cadeira em frente a sua mesa, apenas a observando organizar os arquivos dentro de grandes caixas. Ela é linda, as covinhas em suas bochechas quando sorri me deixam derretida por inteiro. Olhei ao redor, para conferir se estávamos sozinhas na sala e levantei meu pé e coloquei no meio das suas pernas, ela levantou o olhar no mesmo instante e sorriu. Aproximei minha cadeira e acariciei sua coxa na parte interna da perna. A garota ruiva a minha frente arregalou os olhos dizendo:

- Wav, não! – ela negava com a cabeça, mas com um sorriso no rosto.

- Mas eu não estou fazendo nada! – falei com uma voz inocente e ela estreitou os olhos rindo em minha direção.

Levantei da cadeira e levei ela para o lado da sua, ao sentar, encostei minha cabeça em seu ombro.

- Você está cansada? – ela parou o que fazia e me olhou preocupada – você não precisa ficar aqui, babe, pode ir descansar, já ajudou muito hoje. – disse me dando um beijo rápido nos lábios.

- Eu quero ficar com você hoje de novo.

- Então fique... – ela entrelaçou os dedos nos meus. E com uma mão livre, toquei sua cintura por dentro da camisa e senti o seu corpo enrijecer.

- Aqui não, Waves, não no meu trabalho! – fiz biquinho, mas deixei que ela continuasse o que estava fazendo.

Fiquei sentada ao seu lado, batendo a ponta dos dedos na mesa e cantarolando uma canção baixinho. Percebi Nicole levantar o olhar algumas vezes, e sorrir, até que ela levantou, foi em direção a porta e fechou as persianas da janela e parou em minha frente estendendo a mão.

- Quer saber, eu vou ligar o foda-se, mas se eu perder o meu emprego você vai vender pipoca comigo dentro dos ônibus.

Soltei uma risada baixa e segurei sua mão, e ela me puxou contra seu corpo. Sua boca em busca da minha e nossas línguas travando uma batalha que nunca nos cansaria. Ela me apoiou na ponta da mesa, segurando minhas pernas, me deixando encaixada em seu corpo. Não sei por quanto tempo ficamos assim, explorando a boca uma da outra, até que ela colocou as mãos por dentro as minha camisa, por dentro do meu sutiã, e agarrou meu seios enquanto minhas mãos seguraram seu quadril com força e nosso beijo ganhava uma intensidade ainda maior.

- Eu não consigo dizer não a você. – ela disse ofegante, sem soltar os lábios dos meus.

- Eu quero você. Aqui. Agora. – respondi segurança o cós da sua calça até que o barulho da porta abrindo nos fez saltar.

- Waverly, você... puta que pariu! – Wynonna virou de costas tapando os olhos.

- Você já ouviu falar em bater na porta antes de entrar? – Nicole disse nervosa.

- E você já ouviu falar em quarto, minha filha? – ela revidou a pergunta. – E você – apontou em minha direção – Vamos pra casa, que preciso arrumar minhas coisas e quero fazer aqueles programas idiotas de irmãs juntas. – ela sorriu.

- Mas... Eu ia ficar com ela hoje. – olhei em direção a ruiva ao meu lado.

- Vocês vão ter tempo, e eu vou viajar. E ruiva, da próxima vez, pelo amor de todos os deuses do Olimpo: tranca a maldita porta! – ela dizia entre os dentes.

Caminhei em direção a Nicole, entrelacei nossos dedos e dei um beijo suave em seus lábios.

- Nos falamos depois?

- Claro que sim. Me avisa quando chegar, tá?

- Pode deixar, e me avisa também.
Demos um beijo suave e ela me abraçou apertado e ouvimos um barulho de vômito próximo a porta, olhamos em direção a Wynonna parada segurando a maçaneta.

- Se vocês não pararem agora eu vou vomitar aqui mesmo.
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Ao olhar-me no espelho, poderia pensar que eu continuava sendo a mesma Waverly Earp de sempre. Contudo, eu não era mais a mesma. Haviam se passado quatro semanas desde que eu descobri essa parte de mim, no centro do meu ser, que me fazia genuína e viva. Mais consciente do meu lugar em relação aos outros. Em relação a Nicole, claro, mas também ao restante do mundo. Consciente do que o mundo precisava de mim e do que poderia fazer comigo. Nicole tinha razão... De repente desabou sobre mim a percepção da minha vulnerabilidade. Porque importava o que as pessoas iriam pensar sobre mim.

Na minha cabine de estudos, nos fundos da biblioteca, vi um carro abarrotado de gente fazendo a curva e acelerando. Provavelmente indo ao McDonald’s ou ao pizza Hut. Fechei os olhos e suspirei. Eu sentia falta dos meus amigos, da Rosita, da Beth e até mesmo do Champ. Sentia falta das risadas, dos bate papos. De sair pra almoçar e patinar com todos eles. E não é que Nicole não preencha minhas necessidades. Ela preenchia, todas. Eu só queria que mais pessoas participassem dessa nova fase da minha vida.

- Você está guardando esse lugar pra alguém?

Minha cabeça girou.

- Rosie, oi! – me animei – não, senta. - virei-me e gesticulei para que ela sentasse na cadeira ao meu lado.

Ela se acomodou.

- O que está acontecendo com você? – ela perguntou.

O sangue subiu ao meu rosto.

- O que quer dizer? – abaixei a cabeça, fingindo procurar uma página no livro em que eu estava lendo.

- Já faz semanas que quase não vejo você pelos corredores. Semana passada eu te liguei quatro vezes e você sequer me atendeu. Eu fiz alguma coisa? Você está brava comigo?

- Não! Eu não estou.

O olhar dela me prendeu. Havia mágoa em seus olhos.

- Rosie, eu não estou brava com você. Você não fez nada. Juro. – cruzei os dedos próximo ao coração, duas vezes, como costumávamos fazer quando éramos crianças.

Rosita me analisou por um tempo, em silencio.

- A gente nunca mais viu você. Eu nunca mais te vi. É como se você tivesse deixado o planeta. Parou de almoçar conosco, não foi mais na minha casa e nem me ligou.

- Eu só estou com coisas demais na cabeça. – contei a ela – coisas demais! – comecei a retirar todos os livros da minha mesa e apontar para comprovar a ela – Esse semestre está me enlouquecendo.

Rosita examinou meu rosto. Eu sequer conseguia encara-la. Em uma voz mais baixa ela perguntou:

- Você quer conversar sobre isso, Waverly? Porque, você sabe, eu sou sua amiga. Não importa o que aconteça, você pode me contar qualquer coisa.

Uma pontada de medo se alojou na minha espinha. Ela não estava mais falando sobre o semestre, ou sobre Champ. Ela sabia. Será que ele havia contado algo a ela? Ou será que isso era só coisa da minha imaginação? Por que me assusta tanto a possibilidade da Rosita saber? Mais do que tudo, eu queria contar a Rosie que meu coração estava prestes a explodir de tanto amor que eu sentia por Nicole. Mas eu não podia. Não iria.

- Não há nada pra contar. – fingi um sorriso alegre e dei de ombros.

- Certo, então. Tudo bem. – ela se levantou para ir embora.

- Rosie...

Ela enganchou a bolsa no ombro.

- Sinto muito. – eu disse as costas dela. Esfregando os olhos sentindo uma lágrima se formar. – Não é você. Sou eu. Eu só... não posso.

Ela se virou.

- Nós somos melhores amigas, Waverly. Você pode me contar qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo, e eu vou continuar amando você.

Lágrimas encheram os meus olhos. Não era isso. Virei para a janela. Não é que eu não confiasse nela.

- Waves...

Dominei o meu colapso eminente.

- Ligo pra você hoje a noite, tudo bem? – voltei a olhar para a ela. Limpando as lágrimas que caiam e lhe dando um sorriso frouxo. – Prometo. Assim que eu chegar em casa.

Ela me lançou um olhar caloroso.

- Tudo bem. Eu vou estar lá, te esperando.

Enquanto eu observava ela atravessar a porta da biblioteca, reconheci minha mentira. Eu não ligaria para Rosita. Eu não podia. Porque, se começássemos a conversar, eu não confiava que conseguiria manter a promessa que fiz a Nicole.
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O clima estava excepcionalmente quente para a primeira semana de junho. June abriu o playground do chalé das crianças, e, quando cheguei, todas estavam na escavação dos dinossauros e ao me ver, se juntaram ao meu redor.

- Tia Waves, vem me ver escorregar. – Peter dizia me puxando pela mão.

- Não! – Luísa gritou agarrando minha outra mão – ela vem brincar comigo na areia.

- Ei, sosseguem, eu vou brincar com todo mundo. – fiz um olhar vesgo e todos riram.

Depois de atender a todos, um por vez, me encostei a beira da caixa de areia de tartaruga e, em silêncio, fiquei absorvendo o sol em meu rosto. Agradecendo ao universo por estar viva e por todas as oportunidades que eu estava vivendo. Um grito fino vindo dos balanços cortou meu devaneio. Por que as crianças pequenas gritam tanto? Me perguntei, sorrindo comigo mesma. Eu adorava as crianças. Uma súbita onda de tristeza me atingiu. Talvez eu nunca tivesse filhos. Essa dor me doeu por dentro. Crianças...

Talvez tivesse uma forma de tê-las, suponho. Não é? Adoção. Poderíamos adotar? Não sei. Inseminação artificial. Colocar no meu corpo um sêmen de um cara que eu sequer conheço me deixava com um pouco de nojo. Mas era uma opção, sem dúvida. Fiquei imaginando nós duas criando nossos filhos juntas, e abri um sorriso, seríamos ótimas mães. Imagina que fofo uma criança ruiva com toda a personalidade forte da Nicole.

- Tia Waves, você está me apertando.

Voltei a vida, soltando Luísa. Eu sequer percebi que estava segurando ela em meus braços. E mesmo relutante, a deixei ir.
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Sendo noturna, nem sempre ela conseguia, mas em uma manhã Nicole apareceu na piscina. Eu estava terminando uma volta de nado de costas quando percebi sua presença. Ela se sentou na borda, cotovelos nos joelhos, e segurando seu inseparável copo de café entre as mãos.

- O que eu não faço por amor? – ela disse quando eu a alcancei.

Joguei água nela, ela deixou o copo de lado e me afundou. A perseguição continuou no vestiário, onde eu a agarrei e a prendi contra a parede, coletando meu prêmio em seus lábios. Catei uma toalha no carrinho de roupas limpas e a chicoteei, antes de me dirigir correndo ao chuveiro. Enquanto enxaguava meus cabelos, senti um arrepio percorrer minha pele. Abri os olhos.

Nicole estava ali. Nua.

Prendi a respiração. Aquela visão sempre me deixaria sem ar.

- O que você está fazendo?

- Lavando seu cabelo. – começamos a rir e ensaboar uma a outra, e então não estávamos mais rindo quando escutamos uma voz invadir o local.

- Waverly, é você?

Cobri a boca da Nicole com a mão.

- Hã, sim. – respondi.

- Sou eu, a Emily. – ela falou, a voz ecoando próximo a área das pias.

- Ah, oi Sra. Emily – fiz uma careta pra Nicole. E ela segurou um dos meus dedos e o levou a boca, mordendo.

- Michelle me contou que duas das universidades que você escolheu, rejeitaram sua inscrição. Eu sinto muito, querida.

- Ah, obrigada, Sra Emily, mas não tem problema. – falei. Na verdade tinha sido um alívio, ao menos tirou Michele do meu pé por um tempo.

- São universidades difíceis de entrar mesmo, querida, mas em todo caso, elas que estão perdendo.

- Ah, obrigada por achar isso. – Vá embora. Rezei. Por favor, só vá embora.

- Sabe, você pode também tentar uma transferência, como um plano B.

- Verdade – limpei a garganta – é um boa ideia. – fechei os olhos. Com as mãos, Nicole estava fazendo coisas em mim que se tornava impossível me concentrar em uma conversa.

- Você gostaria que eu fosse te buscar para o jantar com o prefeito no próximo sábado?

Já era sábado? Será que se eu falasse que estava doente eles iriam acreditar?

- Não. – respondi. Minha falta de fôlego começava a me trair. – Eu encontro você lá. – Nicole passou a ponta da língua em um dos meus seios e meus joelhos começaram a fraquejar.

- Tá tudo bem aí, querida? – ela perguntou. Será que percebeu algo?

Deus. Segurei o pulso de Nicole.

- Sim, tá tudo bem, só a água que está um pouco fria.

Fechei a torneira, ainda alvoroçada, e me apoiei em Nicole.

- Fique aqui. – sussurrei em seu ouvido.

Peguei a toalha e me enrolei. Saindo do chuveiro. Passando por trás da Sra. Emily, que arrumava seu batom no espelho.

- Assim que você decidir o que vai fazer, você me conta, não é?

- Com certeza. – falei com um sorriso e segui até os armários.

Ela veio atrás de mim, guardando o batom em sua bolsa que jazia aberta sobre o banco.

- Passei em sua casa outro dia – ela continuava falando – a Mel esta crescendo tão rápido.

- Está mesmo. – sorri.

Não conversamos enquanto ela dobrava e guardava um casaco em sua bolsa, o que foi um grande erro. Eu deveria ter continuado a conversa. Nicole emergiu do chuveiro, enrolada em uma toalha. Ela derrapou sobre o piso, paralisada ao ver a Sra. Emily. O olhar amedrontado de Nicole foi de um lado para o outro, enquanto ela descobria o que fazer. E o que ela poderia fazer? Ela agarrou seu sutiã, jeans e sua camiseta, no topo da nossa pilha compartilhada dizendo:

- Com licença.

Os olhos dela evitaram os meus, e ela contornou o lugar onde estávamos, indo em direção ao outro lado do vestiário. Eu consegui captar todo o impacto da reação da Sra. Emily. Ela não disse uma palavra sequer, apenas fechou a bolsa e saiu. A voz da Nicole ecoou acima dos armários.

- Ops!

- Eu falei pra você ficar dentro do chuveiro! – minha voz estava alterada.

- Mas estava um silêncio, eu achei que vocês não estavam mais aqui! – ela respondia nitidamente nervosa.

- Calma – respirei fundo – vai ver ela nem percebeu nada.

Durante o resto do dia, fique preocupada com isso. Será que a Sra. Emily estava em seu escritório ligando pra Michelle e contando tudo o que viu? O que ela diria? O que Michele diria?

Eu deveria ter contado a Michelle antes. Ela não deveria saber pela boca da Sra. Emily. Não deveria saber por meio de ninguém, além de mim. Depois das aulas, cruzei com Beth saindo do banheiro no mesmo momento em que eu entrava.

- Oi Beth! – acenei sorrindo.

Os olhos dela varreram ao redor, e depois ela olhou nos meus olhos com as mãos no peito.

- Ah, você tá falando comigo? Achei que eu tivesse ouvido meu nome, mas parece tão improvável você ainda lembrar dele.

Bufei de leve.

- Desculpa a ausência.

- Ouvi dizer que você anda ocupada. Que anda tendo uns momentos alegres por aí.

Meu coração parou. Mesmo se eu soubesse o que responder, minha voz tinha sumido. Meus olhos fugiram do rosto dela e olharam pro chão. Não! Eu não deveria me sentir assim, eu não era culpada por nada. Ergui minha cabeça para responder, mas ela foi mais rápida.

- Eu não acredito nas suas desculpas. E agora sabemos porque você estava tão empolgada com aquele clube.

Tive vontade de me enfiar em um buraco e me esconder. Mas por que? Eu não tinha feito nada errado.

- Para com isso, Beth. E isso não é da sua conta. Da conta de ninguém.

Beth revirou os olhos e saiu sem ao menos me responder. E logo atrás de mim, pude ouvir alguém dar uma risada irônica e se aproximar.

- Bem, mas eu posso transformar isso em algo da minha conta.

Era Shae. Com um sorriso um tanto quanto exagerado no rosto.

- Que? O que isso significa? – cruzei os braços. Ela estava me ameaçando? Ela tinha conseguido me assustar pra valer.

- Bom – ela deu de ombros – eu não tenho nada a perder, Earp. Já você... – ela me olhou da cabeça aos pés – eu não me importo com o que você vá perder, se eu puder ganhar depois.

Ela saiu trombando em meu ombro, me deixando paralisada sem conseguir ao mesmo me defender de suas ameaças.
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Fiquei no chalé das crianças o maior tempo que pude, limpando as prateleiras e organizando o que estivesse fora do lugar. O que será que me esperava em casa? Pensei. Imaginei a voz da Michelle me saudando como quem diz “precisamos ter uma conversa séria!”.
Porem, encontrei uma casa vazia, apenas com um bilhete preso a geladeira:

“Estamos com os pais do Lou. Eles querem juntar os netos para um retrato em família. P.s: deixei lasanha de berinjela no forno.”

E logo abaixo do recado ela assinou com um coração ao lado. Nada muito sinistro. Quando ela chegou, uma hora depois, parou para perguntar como foi meu dia.

- Foi bom, e o seu? – perguntei de volta.

- Foi tudo bem, meu amor. Só estou cansada. – ela beijou minha testa e saiu.

Talvez a Sra. Emily não tivesse interpretado como pensei que fosse. E talvez, Shae estivesse apenas blefando, para me amedrontar. Fiquei preocupada com isso por uns dois dias, e como nada aconteceu, achei que eu tivesse sido absorvida. Então, de repente, todos na escola estavam sabendo. Ninguém me confrontou ou parou para perguntar nada, mas os olhares esfregavam, era como se eu tivesse sido marcada bem no meio da minha testa, ou que eu usasse uma camisa com um LÉSBICA escrito gigante na frente. E eu senti os olhares me julgando. Eu queria gritar e não podia. PAREM DE OLHAR PRA MIM, EU CONTINUO SENDO A MESMA WAVERLY EARP DE SEMPRE! Eu queria gritar até faltar o ar em meus pulmões. Isso tinha cheiro de Shae. Ela devia ter cumprido a ameaça que me fez. Aquela estúpida. Pra que ela faria isso. Eu não tinha vergonha do que eu era, claro. Eu amo a Nicole. E isso não me envergonha nem um pouco. Queria que toda escola soubesse mesmo. Que o mundo inteiro soubesse, se possível. Mas em especial uma pessoa precisava saber: Michelle.

Estava me matando ter que fingir tudo aquilo. Todas as vezes em que ela me perguntava sobre o Champ, uma sensação de traição roía minha mente. Eu queria que ela soubesse a verdade. Afinal de contas, ela cuidou de mim praticamente a vida toda. No entanto, a ideia de contar a ela a verdade me deixava apavorada. Mas por que? Nós sempre falamos abertamente sobre tudo. Eu só não sabia como abordar o assunto, principalmente quando lembro de quando ela pediu para que eu não fosse amiga de Nicole. Nós nunca havíamos conversado sobre homossexualidade. Na verdade, esse assunto nunca apareceu entre nós. Por enquanto, minhia promessa a Nicole me protegia. Quando fosse o momento certo, Michele saberia. O mundo inteiro saberia que eu a amava. E Michele me aceitaria, eu não tenho dúvidas.

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