🌹
Completude.
Segurei a taça de vinho dentre as nossas respirações harmônicas.
Um sorriso malicioso molhou seus lábios de audácia, enquanto nos encarávamos com cumplicidade.
A noite estava estrelada, como se um manto de seda azul petróleo tivesse caído sobre a cidade que abrigava o nosso amor, na qual as luzes brancas eram resultado da nossa explosão de sentimentos, gerando supernovas no tecido elegante, a cada mínimo contato. O momento terno iludia-me com a possibilidade de que não havia mais ninguém no mundo, só nós dois. Duas almas, duas vidas, em busca do singular, da razão de amar.
Eu queria unir-me a você.
Você queria unir-se a mim.
Ambos queríamos o inenarrável.
Entretanto, não importava a altura da guerra lá fora, ali dentro nós estávamos em paz, em plenitude. A música instrumental ressoava ao fundo de nosso cenário mágico, acompanhando nossos passos lentos no meio do quarto. Você havia juntado novamente nossos corpos pulsantes. Mantive o vinho seguro em uma de minhas mãos, já que a outra repousava em seu peito desnudo, transmitindo-me seu calor. Eu não sabia dançar, até você me mostrar, anos antes, que nada era impossível para uma matéria relaxada.
A mente nunca mais me venceu.
Os lençóis estavam desarrumados, algumas peças de roupa estavam espalhadas pelo assoalho e nossos pés descalços sentiam-se em casa, em segurança. Suas mãos estavam em minha cintura, segurando-me em um abraço livre, sem algemas ou possessões. Você sabia que eu permanecia (permaneceria) por vontade própria e não tinha medo de que eu fosse embora. Não havia nenhum outro lugar melhor do que aquele, ao seu lado, na presença um do outro.
E não era por eu estar embriagada, era por termos encontrado o imensurável.
Um relacionamento com altos índices de açúcar no sangue, é verdade (por causa de momentos abundantemente doces, simples e delicados como aquele), porém, saudável.
Vislumbrei um cacho de uva verde pela metade.
Uma sobremesa esquecida sobre a pia.
Uma garrafa translúcida caída perto da cama.
Quando seus dedos tomaram-me, de forma delicada, a única taça (com algum líquido) que havia sobrado na casa, eu soube que seus desejos sempre completariam os meus. Então, compreendendo mais uma de nossas conversas silenciosas, deitei-me de volta em nossos lençóis e fiquei observando-o se aproximar, com o esverdeado límpido do vinho chamuscando seus olhos. Naquela madrugada, nossas peles ganharam um sabor agridoce e alcoólico, tão racional quanto nossa paixão verdejante.
— VINHO VERDE
🌹
VOCÊ ESTÁ LENDO
PÉTALAS SOLTAS
Poetry[❀ CONCLUÍDA] Chame de poesia, chame de poema, chame de conto ou chame do que for. A verdade é que as palavras estão vivas, crescentes e independentes. Palavras são a mais pura libertação da voz oculta. Alguns as chamam de salvação, outros, de expre...