❝ (re)tornar ❞

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Passou por mim, com cheiro de rosas e sutileza de trovão. Eu abaixei a cabeça e apertei a ponte do nariz com os dedos, sentindo o órgão vital bombear desesperança por minhas veias. Queria sobrevoar as ondas do mar, peguei-me com anseios de desmoronar. Imaginei-me, sem idealizar, em um lugar com trilhas tranquilas e enfeites realistas, nos quais minha opinião pudesse mostrar-se sem hesitar. Eu sempre adorei decorar. Minha pele formigou pela nostalgia e, sem temer, deixei-me sorrir, afogar-me. Em volta de mim nunca mais vi as linhas condizentes ao meu humor, tão suave, tão genuíno, tão puro e tão credor. Recordo-me de que eu costumava conversar com os pássaros, correr com as estrelas e aconselhar o Sol. Sujar-me de areia era a melhor parte de estar no quintal, em uma casa humilde, mas repleta de amor. Tudo parecia claro, sólido, certo. Roubaram-me as pétalas que enfeitavam o vaso de porcelana da minha vida, como fogo que queima sem pedir, sem se importar, sem recompensar. Então, de tanto chorar, minhas bochechas avermelharam-se, meu nariz não aguentava mais liberar o ar, deixando-me aflita, olhando para os lados em busca de algo para me consolar. Minhas mãos gostavam das cores que minha mente podia criar, diversos desenhos empoleirados em meu peito, aflorando de pele em sentidos, dando-me um sopro de alívio. Ainda sorria sem pesar, sem me culpar, apenas alimentando a minha tão preciosa inocência que, de forma alguma, eu desejava ignorar. Entretanto, como a tempestade impiedosa que chega derrubando as árvores, peguei-me encarando aquele jardim em caos. As folhas secas trituradas pelo relâmpago, as flores arrancadas pelos raios, as mudas em trevos torturadas pelas minhas lágrimas torrenciais. Chovia, chovia, só chove. As roupas penduradas no varal se foram, dançando pelo céu conturbado. Os desenhos que tracei, com esmero e sensibilidade, desmancharam-se nas poças, alagados. Onde está o sol? Eu jurava que o reconhecia. Podia apostar que ele me salvaria. Depois de incontáveis folhas caírem do calendário aos meus pés, eu percebi: a noite seria eterna, jamais acabaria. Todos os esboços viraram ideias esquecidas, todas as misturas de cores, um conjunto de cinzas. Todavia, passou por mim, com cheiro de vitalidade e determinação de algodão. Eu ergui a cabeça e apertei a ponte do nariz com os dedos, sentindo o órgão vital bombear esperança por minhas veias. Vi-me sobrevoando as ondas do mar, peguei-me com anseios de escalar montanhas. Em meu imaginário, idealizando, desejei um lugar com liberdade de expressão e enfeites significativos, minha opinião não causaria hesitação, provocaria inspiração. Eu amo criar. Minha pele formigou ao sentir o cheiro do sonho e, sem temer, deixei-me sorrir, afogar-me. Em volta de mim nunca mais vi as linhas condizentes ao meu humor tão cabisbaixo, tão insensível, tão sujo e tão descrente. Um pássaro pousou em meu dedo e eu chorei de contentamento, ouvindo tudo o que ele tinha a me dizer. E, vejam, aquele não é o sol, outra vez, nascendo?

PÉTALAS SOLTASOnde histórias criam vida. Descubra agora