❝ AZAR ❞

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Segurei o bilhete da vida dentre os dedos e olhei-o por alguns instantes, ansiando por uma chance, por uma vitória. De fato, nunca chegou a acontecer e, de fato, não sabia se chegaria, se aconteceria. O pessimismo e o otimismo digladiavam dia e noite em minha essência, na arena de guerra mais inusitada de todas: cérebro e coração.

Eu sempre perdia, era o que estava acostumada a escutar.

Conheci o azar há décadas, quando mal conseguia pronunciar as palavras certas para decidir meu futuro. Juntas a ele, a insegurança e a repreensão festejaram o novo lar em meu corpo. Todas as lágrimas não foram capazes de fazer faxina nos quartos escuros, os quais, fingi indiferença.

Penso, "minha sorte é contrária aos meus desejos". Logo, o bem vira o mal, a dádiva vira a maldição e, acreditem, o reverso tende para os anseios ruins. Sim, já tentei esperar o dez na prova, o aumento no trabalho e a casa própria, todavia, presenciei a nota baixa, a demissão e o aluguel, respectivamente. Ou seja, há realidades que são impostas, não construídas. Há sortes compradas, não agraciadas.

Há a possibilidade de eu ter atraído o azar?

Há a chance de eu devolvê-lo para o universo?

Há a hipótese de eu pegar a minha parcela de sorte de volta?

Há a remota opção de justiça nessa atmosfera tão competitiva?

Quando exponho que almejo tal igualdade, não falo de nascer de novo para poder entrar na fila da "boa sorte", mas de sentir que possuo as mesmas probabilidades dos outros, tanto para dar certo quanto para dar errado, mesmo sabendo da matemática difícil do status social. Enfrentar as minhas derrotas por mérito, não por estar abaixo de alguém, pois, assim, aprenderei com convicção aquilo que está em minha lista de "experiências para o amadurecimento", as quais não poderei evitar, por estarem em minha linha da vida.

O bilhete banhou-se em tempestade, temporal que azou o prejuízo.

Minha fé, conquistada, aza-se com meu sonho impossível.




A sorte escolhe quem nunca deu ouvidos ao azar

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A sorte escolhe quem nunca deu ouvidos ao azar.

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