18 - Roxo Esverdeado

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- Então, já se decidiu? - Disse Vlad entrando no quarto novamente com um copo de suco nas mãos.

- Não, mas uma coisa é certa, não vou me entregar, pelo menos não assim tão facilmente.

- Pretende viver aqui nesse quarto pelo resto da sua vida?

Tomo um pouco de suco, era de maracujá, acho que era pra fazer eu dormir com essa dor.

- Não, mas vou esperar á poeira baixar até toma alguma atitude.

Vlad riu
-"A poeira baixar" - Repetiu ele com um tom de ironia na voz.

- O que foi?

- Aurora, não estamos falando de um cachorrinho perdido nem de um objeto. Acha mesmo que sua mãe vai parar de procurar? Pode-se passar anos e ela ainda vai te procurar, junto com seu pai, sua tia seus avós, amigos...

Eu conhecia minha mãe e isso era realmente verdade, ela iria procurar embaixo de cada pedra desse país até me achar.

- Você está certo, mas só em relação á minha mãe e talvez minha tia, são á única família que tenho.

- Morreram?

- Alguns sim outros eu já não sei.

- Entendo.

Será que ele realmente entende? Respirei fundo e tome coragem.

- Vlad?

- Dor?

Ele errou, era á primeira vez dês que nos conhecemos que ele errou um pensamento meu...

- Onde estão seus pais?

Ele pareceu meio surpreso com á pergunta já que ficou me olhando por alguns segundos até responder.

Vlad se levantou.

- Vou preparar o jantar - Disse ele pegando o copo vazio de suco das minhas mãos.

- Tudo bem.

- Ânimo, vai ter sobremesa - Disse ele e saiu do quarto.

Fiquei me perguntando se ele tinha me ouvido, se tinha entendido á pergunta, se tinha escutado e eu o magoei ao fazer ele lembrar...

Olhei para á janela e á chuva caia forte lá fora, minha cabeça doía, toquei minha perna imaginando se teria algum jeito de não arrancarem esse pedaço de mim, ao tocar algumas lágrimas saíram dos meus olhos, eu já não conseguia sentir absolutamente nada.

Fui tirando as ataduras aos poucos, para vê o quão ruim estava, na última camada de ataduras eu notei uma tonalidade estranha. Um roxo intenso meio puxado para o verde que ia da parte abaixo do meu joelho até o final do pé.

Eu não podia deixa o Vlad vê isso, se ele visse sem dúvidas iria me levar de volta para o hospital. Eu já tinha perdido á visão de um olho, um pouco da audição e agora minha perna, isso eu não iria perder, iria lutar ao máximo possível para impedir de tirarem esse pedaço de mim, não esse.
Coloquei novamente as ataduras á minha perna.

Olhei o celular: 85 mensagens não lidas.
102 chamadas perdidas.

É, ela vai me matar assim que eu chegar em casa, se eu chegar. Deixei ele de lado e fechei os olhos.

Adormeci aos poucos ao som da chuva,as os raios e os trovões ainda me assustavam. Dessa vez eu não sonhei com nada, se sonhei não me lembro. Acordei com as mãos quente de Vlad no meu rosto e á testa dele na minha, meu coração disparou com àquilo.

- Vlad? - perguntei

- Sua febre passou, o jantar já está pronto, já está esfriando, que bom que acordou, vou trocar suas ataduras agora.

Assenti com á cabeça.

Vlad pegou uma caixinha branca que aparentemente ele tinha trazido para o quarto no momento que voltou.
De lá ele tirou um pequeno algodão com um tom amarelado encharcado de alguma coisa que fedia á besouro.
Retirou primeiro as ataduras que cobriam minha cabeça, logo após as que cobriam meu olho e ouvido.
Pegou um algodão e molhou em água e com á maior delicadeza passou sobre minha testa, olhos e ouvidos.
Depois ele secou com outro algodão e passou o algodão que tinha cheiro de besouro.

Aquilo me fez gemer de dor.

- Tente aguentar, ok

Assenti o mais devagar possível.

Esse algodão ele passou com um pouco mais de força, mas em nenhum momento ele deixou de ser delicado.

Á dor era lancinante, maldito algodão com cheiro de besouro. Parecia que estava passando fogo no meu rosto.

Logo após ele passou outro algodão para retirar o acesso do primeiro.
Mas aquilo não aliviou em nada á dor que parecia rachar meu rosto.

Vlad colocou novas ataduras em toda minha cabeça e me deu um analgésico.

- Ágora é á vez da perna

- Vlad, eu quero jantar primeiro - disse eu, ele não podia vê minha perna.

- Ah! Já deve ter esfriado bem, vou buscar - Disse Vlad parecendo um tanto quanto feliz.

Vlad não demorou muito á voltar.

- Aqui está - Disse ele colocando o prato em meu colo.

O jantar era muito caprichado, com muitas verduras e legumes cozidos, com frango e um arroz bem temperado, como aquilo como se fosse á última vez que comeria alguma coisa, eu queria demorar mais, porém eu estava com muita fome, quando me dei conta já tinha terminado e estava sem condições de pedir mais.

- Gostou?

- Estava maravilhoso! Quem diria que você sabe cozinhar tão bem.

Vlad sorriu, pegou o prato da minha mão e saiu do quarto.

A dor em minha cabeça já tinha passado, á perna á muito não doía.
A chuva lá fora caia forte, o sono começou á pesar sobre meus ombros.
Mas eu não podia dormir, não agora, não antes de Vlad dormir, pois se eu dormir primeiro corro o risco dele troca as ataduras da minha perna e vê-la.

-"Não posso dormir, não vou dormir" - Pensei pra mim mesma.

Com uma das mãos eu toquei uma das partes do meu rosto, respirei profundamente e apertei com força.
Á dor me fez gemer, era como se meu dedo tivesse perfurado, como uma faca, á carne do meu rosto. Aquilo definitivamente fez com que meu sono fosse completamente extinto.

Vlad voltou para o quarto com a caixinha branca de ataduras.
Sentou na cama perto da minha perna e olhou pra mim.

- Ainda dói?

- Muito, tem mesmo que trocar as ataduras daí?

- Sim...

Droga! Eu não tenho mais nenhum plano...

Mas logo após meu coração disparou, do quarto ouvimos ao longe um soar que cortava o barulho de toda á chuva e trovões, uma sirene que se aproximava rapidamente.

(Continua)

AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora