20 - Culpa

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Logo após Vlad Gritar "entrem" na porta entram quatro polícias e dois médicos

Vlad se levanta.

Meus olhos enchem de lágrimas e meu coração pula como um louco, era muita coisa para se assimilar no momento, eu ainda não acreditava que Vlad foi capaz de me entregar, os médicos e os policias cercavam á minha cama, começavam á falar, mas eu não os ouvia, logo senti uma dor alucinante em minha perna que antes estava dormente, dor que me fez gritar, chorar... E depois nada...

Desmaiei, sei pois não me lembre de muita coisa, lembro de uma dor intensa na perna, de gritos que pareciam ser meus de uma sirene ecoando alto, mas especialmente do som da chuva, sem trovões, apenas á doce chuva.

Lembro do sonho que tive, de está no colo do meu pai enquanto ele acariciava lentamente meus cabelos, lembro dele ter olhado para mim e dito que "não se preocupe, não é o fim do mundo", não sei o porquê mas depois desse sonho nunca mais sonhei com ele.

Lembro de Vlad e o gosto doce dos lábios dele...
Lembro do meu coração disparar quando á porta foi aberta.
Eu não sentia raiva de Vlad, mesmo sabendo que iria perder á perna logo, no fundo eu sabia que ele fez aquilo porque ele se importava comigo.

Quando acordei já estava sem minha perna, á necrose já tinha evoluído muito, e o que era apenas um pé de transformou em uma perna inteira... lembro-me de ter chorado tanto quanto á chuva que caía fora do meu frio quarto de hospital, lembro da minha mãe e á amiga dela entrar no meu quarto, lembro do choro da minha mãe, do abraço dela...

De ter passado semanas dentro do hospital... Lembro de um policial ter entrado no meu quarto e dito que o corpo de um garoto foi encontrado nas pedras, para eles foi um acidente pois o tal "Garoto" estava sentado em um lugar perto da beira e por causa da chuvas houve um deslizamento que acabou levando ele junto.

Lembro também do policial ter dito que o garoto era órfão de pai e mãe e por isso trouxe uma foto para mim o reconhecer... Tinha os cabelos longos e negros como á noite mais escura que esse maldito mundo já viu, tinha á pele agora branca e os lábios roxos, estava com uma jaqueta de couro e no bolso do mesmo tinha uma carta curta, na verdade, extremamente curta que dizia apenas "perdão, Aurora".

Vlad foi enterrado naquela cidade e eu estava lá, no seu funeral junto com minha mãe, á chuva caia forte, eu estava com uma muleta embaixo do braço, não tinha ninguém lá, apenas eu, minha mãe, o pastor que orava baixinho e os dois coveiros...

Lembro que na mesma noite eu chorei como nunca tinha chorado em toda minha vida, lembro de ter rasgado á carta de Vlad e o chamado de idiota e logo depois de ajoelhado no frio chão do quarto e derramado mais lágrimas nos pedaços da carta...

Um tempo depois me deram alta e eu pude voltar pra casa, lembro de está no avião e pela primeira vez vi o sol daquele cidade clarear...

A chuva não caia mais, nem os raios nem os trovões, os pássaros cantavam como loucos e á praia era linda iluminada pela voz do raiar do sol entre as nuvens...

Á pouco tempo soube que a casa de Vlad tinha sido demolida pois já estava muito velha, junto com todos os móveis que lá estavam, dês da morte de Vlad ninguém mais tinha entrado lá dentro...

Nunca esquecerei de Vlad, nunca disse que o amava nem ele á mim, mas ele me marcou de uma forma que será impossível esquecer daquele garoto metido á mandão com seus cabelos longos e seu mistério...

Desculpa se você esperava uma história feliz...
Muito obrigado por tudo Vlad, saiba que lhe perdôo, Adeus.

—The Aurora

Fim

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