Duas semanas depois.
Ser um socorrista em Portugal tem muitas diferenças do que é ser um paramédico nos EUA.
Julie sentiu dificuldade nos primeiros dias, principalmente nas intervenções de carácter mais invasivo, já que no seu país são efetuadas pelas equipas de enfermagem, ou médicas, quando é solicitado apoio diferenciado, ou já em ambiente hospitalar. Ela tinha apenas a formação teórica e a prática é feita em manequins próprios para o efeito.
Teve de pedir às equipas da Paramedics e do Private, quando ia assistir aos turnos da urgência de trauma, que a ajudassem nesse aspeto. Sempre solícitos, durante qualquer intervenção, incluíam-na e depois de terminarem, questionavam as dúvidas, até ela fazer a sua primeira intervenção.
Passadas essas semanas, havia adquirido a prática que precisava e já se tinha enturmado com as equipas da Paramedics. Conseguia acompanhar perfeitamente a azáfama do socorro e a iniciativa de qualquer tipo de abordagem, como já estava habituada a fazê-lo no seu país, acrescentando aquelas novas competências.
No Private, ficava sempre fascinada com o que aprendia, toda a vez que assistia um turno. Tinha uma, duas horas no máximo, de formação por semana e isso já lhe tinha valido, e ao turno a que tinha assistido, uma ajuda preciosa. Já não dispensavam a ajuda dela e o chefe de equipa sugeriu a David, e ao conselho do Private, que remunerassem Julie, por cada vez que ela fosse assistir. David nem hesitou, mas Julie reclamou. Entretanto, Julie acabou por aceitar, porque David alegou ser remuneração por horas extraordinárias, até porque o trabalho dela seria para se cingir à Paramedics, e aquele dinheiro era dela por direito. Olhando bem para o seu recibo de vencimento, Julie trabalhava bem menos horas, apesar de andar naquele corrupio, e ganhava muito mais, mas mesmo muito mais, do que em Portugal.
Mas o dinheiro não pagava aquilo que ela estava a ganhar: conhecimento, amizade e amor fraterno.
- E que tal uma saída ao "Clay's"? - Propõe Steve.
- O que achas, Julie? - Pergunta-lhe Meredith.
- Acompanhas-nos? - Pergunta Carl.
- Por favor, não quero ser a única mulher a aturar estes malucos. Sabe Deus o que eu passo no dia-a-dia... - Meredith faz um choradinho ao ouvido dela, mas bem audível.
- O que é o "Clay's"? - Pergunta Julie.
- É um bar com um ambiente muito porreiro. - Responde Steve.
- Isso soa-me muito bem! Vou convosco. - Julie olha para Meredith. - As mulheres protegem-se umas às outras. - Pisca-lhe o olho. - E precisas de alguém inteligente, para manter uma conversa em condições. - Irrompem às gargalhadas, enquanto eles bufam.
- Até parece que não conseguimos ter conversas interessantes... - Carl rebate.
Julie pensa que ele tem um parafuso a menos. Não há um único dia em que Carl não a faça rir com alguma pérola, seja dita ou feita. O mais engraçado é que ele o faz involuntariamente, é uma coisa natural nele e nem se apercebe disso. Ele é a alma cómica da casa e, sem ele, não haveria tantas gargalhadas naquele turno. Julie adoraria conhecer a noiva dele, para lhe perguntar como é que ela conseguia lidar com aquela distração andante.
Para conseguir parar a vontade de rir, Julie respira fundo e pergunta a que horas combinam o encontro no "Clay's", mas Meredith oferece-se logo para a ir buscar por volta das vinte e duas horas.
Assim que termina o turno, Julie toma duche e sai da Paramedics, encontrando Carter já à espera da sua saída.
- Então, como correu o dia?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Recomeços
RomantikJulie Willow fica viúva, após um soterramento, enquanto Michael combatia um incêndio florestal de grandes proporções. Três anos volvidos do seu infortúnio, depara-se com uma oportunidade profissional, após uma situação inusitada. É-lhe feita uma pro...