Capítulo 16

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Julie recupera a consciência numa cama desconhecida.
Não consegue abrir logo os olhos.
Ouve um bip longínquo, que lhe é familiar, e se torna mais agudo quando desperta totalmente.
Antes de ver, já sabia que estava num hospital.

À sua mente vem a lembrança da sincope e a possível causa. A acompanhar este pensamento vem a angústia de saber notícias de James.

Ao abrir os olhos depara-se com Margot e Helen, sentadas num sofá, a folhear umas revistas. Olha ao redor e tem a confirmação que está no Private.
Num braço tem a braçadeira de avaliação da pressão arterial e a sonda de pulso oxímetro num dedo, e no outro um cateter ligado a um balão de soro. Olha para o monitor, para espreitar os valores dos seus parâmetros vitais; estão normais.
Remexe-se com a inquietação.

- Graças a Deus. - Suspira Margot. - Já acordaste.

- Pregaste-nos um valente susto, querida. - Helen aproxima-se dela e agarra-lhe a mão.

- Já há notícias do Jamie?

- Precisas levar isto com calma, Julie. Nós também estamos preocupadíssimas, mas temo-nos alimentado e dormido. Mal, mas temos. Ao contrário de ti e acho que foi por isso que caíste para o lado. Literalmente.

- A doutora Groove já virá falar contigo.

- Eu não iria conseguir. Não até saber que o Jamie está bem. - Julie respira fundo e pestaneja várias vezes. - Mas que raio é que me deram? - Volta a fechar os olhos e passa a língua pelos lábios. - Ainda continuo com um sono descomunal.

- Minha querida, aproveita para descansar. Assim que tivermos notícias, eu venho logo. - Margot inclina-se para deixar um leve beijo na sua testa.

Helen e Margot saem do quarto, acenando em despedida, e Julie volta a adormecer de imediato.

Lá ao longe, volta a soar o bip.

Sente qualquer coisa a tocá-la.

Uma névoa ainda a envolve e o sono prevalece.

Custa a abrir os olhos.

Uma mão enorme acaricia o seu cabelo e outra agarra a sua mão esquerda, com firmeza, enquanto um dedo se movimenta no interior do seu punho, numa constante carícia.
Será impressão sua, ou o perfume de James está no quarto?

Julie abre os olhos repentinamente, volta a cabeça e vê James ao seu lado, sentado e debruçado na cama.

- Jamie! - Diz, com a voz embargada.

- Estou aqui. Já estou aqui. - Abraça-a, também em lágrimas. - Eu estou aqui e está tudo bem.

- Graças a Deus! Eu já temia o pior.

- Receei o pior, mas tivemos muita sorte. Estou dorido e só tenho um corte num braço.

Começa a contar-lhe que o helicóptero começou a dar falha de sistema e avaria no rotor de cauda. O piloto ainda tentou pousar, assim que os avisos sonoros começaram, mas o aparelho entrou em parafuso e a queda foi inevitável. O que os safou foi já terem iniciado a descida. Mesmo tentando, não lhes foi possível o pedido de socorro e o telemóvel de ambos não tinha cobertura de rede.

Por sua vez, Julie conta a James todo o processo da operação de buscas e o que a levou ao hospital.

- Julie, bem, eu não podia esperar outra coisa, mas foi irresponsável.

- Eu sei - Ela respira fundo. - Eu sei disso.

- Eu amo-te. - Encosta a testa à dela. - Isso deu-me força para regressar o mais rápido possível.

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