Capítulo 4

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- Bom dia! Estás pronta? - David pergunta assim que adentra a sala de refeições.

Julie acordou muito cedo, com receio de se atrasar e causar má impressão. Depois de já ter bebido para aí um litro de café, a sonolência não a abandonou. Ainda parece um zombie. Boceja novamente, pisca os olhos pela septuagésima terceira vez, coça a nuca e roda o pescoço.

Jet-lag é lixado...
Bem tramado. Ninguém merece.

E, caráca, o café em Portugal é bem melhor. Gostoso, aquele creme por cima, o sabor que permanece na boca...
Café...
Se é que podia chamar café áquilo que tinha à frente dela, aguado e sem jeito nenhum. Aquilo não era café. Não.

- Bom dia, David! Estou pronta. - E baixa os olhos. - Mas pagava para ter à minha frente um café em condições. - Julie faz um esgar.

- Eu nem sei como vocês conseguem ingerir o vosso café expresso. Aquela bebida é poderosa! - David gargalha. - Eu não consigo beber aquilo.

- Senhor Silverdale, o carro está pronto. - Carter entra. - Olá, Julie!

- Bom dia, Carter!

Julie tenta memorizar o caminho para o Private, para conseguir desenrascar-se, enquanto lá estiver, e se houver algum dia que precise, mas Carter parece ler-lhe os pensamentos.

- Quando eu não tiver disponibilidade para te levar, ser-te-á atribuído outro motorista. Fica descansada, pois será alguém da minha confiança e estará à tua inteira disposição. - Carter olha para ela, pelo espelho. - Foi um pedido da senhora Silverdale, Julie.

- Sim, eu e minha mãe achamos que é o melhor até te ambientares. James também pensa que é preferível. - David acrescenta.

- Ora essa, não será necessário. Só preciso de um carro com GPS e as respetivas coordenadas, ou moradas. Não quero dar trabalho, nem incomodar.

- Julie, não será incómodo algum. - Diz David, com o seu sorriso habitual. - Ambienta-te a Washington, desfruta, aproveita-te do privilégio de teres motorista e relaxa.

- Senhor, chegamos. - Carter interrompe a conversa dos dois.

Encaminham-se para o edifício hospitalar, enquanto Julie torna a ficar admirada com a envergadura do edifício, realmente grande e bem luxuoso. Ela observa tudo com atenção e minucia.

Passado pouco tempo de visita, já conhecia uma boa parte dos médicos, enfermeiros, auxiliares de ação médica, seguranças e até outros funcionários. Não esperava ser-lhe lançado um desafio pela equipa de urgência de trauma, para fazer uns turnos com eles, mesmo só sendo socorrista, para ver, aprender e até ajudar nos procedimentos. O chefe da especialidade ofereceu-se logo para lhe dar formação. Aquilo deixou-a super entusiasmada e aceitou logo o desafio, deixando David também radiante, ao ver os olhos dela iluminarem-se de felicidade e a sua expressão eufórica.

Custaram a sair do hospital, porque, apesar de pisar aquele lugar pela primeira vez, Julie deixou o seu cartão de visita. As conversas foram-se prolongando e o tempo ia passando, quase sem darem conta.

Seguem para a Paramedics, numa conversa animada. Assim que Carter estaciona, Julie observa um edifício menor, mas de caraterísticas arquitetónicas idênticas ao hospital, situado a uns meros quinhentos metros, se fosse em linha reta. Ao entrar, três homens com fardas de paramédico, camisa branca e calças azul escuro, silenciam-se e olham para os recém-chegados.

- Senhor Silverdale, bom dia! O que o traz por cá? - Pergunta um deles.

- Bom dia, Jason! Venho apresentar-vos a nova paramédica. Esta é a Julie, vai trabalhar connosco durante um ano. Ela é bombeira em Portugal e vem fazer uma espécie de intercâmbio. Quero que ela aprenda convosco e, ao mesmo tempo, também vos deixe alguns conhecimentos do que é o pré-hospitalar lá.

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