Capítulo 18

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Passa o tempo.

Julie estava no quinto mês de gestação.
Já se notava bem a saliência da sua barriga e a bebé mexia, fazendo o sorriso dela aflorar sempre que isso acontecia.
Entre compras de roupas pequeninas, outras peças de enxoval de bebé e início da compra de peças para a decoração do quarto, (essas compras não a chateavam), Julie adorava colocar-se ao espelho para ver as diferenças do seu corpo. Até já tinha iniciado uma coleção de livros infantis, que aproveitava para ler uns capítulos todas as noites, antes de adormecer.

No dia anterior tinha ido à consulta de rotina. Saber que estava tudo bem, aliviou-a e ficou exultante ao descobrir ser uma menina. A sua intuição sempre lhe dissera que teria uma filha.
A sua Annie.

Não conseguiu conter o choro quando descobriu e, mais ainda, por não ter James consigo para dividir aquele momento.

Jamie...

Não havia uma única noite em que não derramasse a sua tristeza na almofada. Sentia tantas saudades dele e da sua família.

Quando regressou a Portugal, suspendeu a licença sem vencimento e retomou as suas funções no corpo de bombeiros, adequadas ao seu estado, claro. Rapidamente voltou à rotina e conseguia manter a sua cabeça ocupada, enquanto trabalhava. Claro que não era a mesma coisa, mas se ficasse em casa, daria em louca. Habituada à azáfama da Paramedics, ficava entediada rapidamente.
A sua família ficou surpreendida com o regresso, mas ela não dissera o que a tinha feito retornar.

Apenas a irmã sabia. Ela sentiu a louca necessidade de desabafar com a irmã, senão explodia. O ombro de Maggie encharcou com as suas lágrimas. Maggie não conseguia percebia o que é que tinha mudado praticamente de um dia para o outro! Julie contava-lhe tudo o que se passava e parecia que o amor tinha voltado a sorrir para a irmã e, depois de ouvir aquilo, parecia que James era bipolar.

Mas quando chegava a casa, não era fácil tentar abstrair-se da saudade.

Margot ligava quase todos os dias e, como seria de esperar, choravam baba e ranho. Também faziam muitas videochamadas, para acompanharem a gravidez de Julie e, como bem sabemos, não há nada melhor do que vermos as pessoas que amamos.
Na última chamada Margot falou de James. Julie, no início desconversa, porque estava tão magoada que não queria ouvir, mas Margot continuou, mesmo assim.

James estava completamente o oposto do que era.
Calado e apático, não sorria desde que Julie partira. Emagreceu, deixou o cabelo e a barba crescerem, passa mais de dezasseis horas na Silverdale, e as horas que não passa na empresa, passa-as sentado debaixo do salgueiro dela, chorando. Até tem chegado várias vezes embriagado a casa, amparado por Carter.
Julie sentiu um aperto no peito ao saber.

Como nem soube o que responder à senhora, ficou em silêncio e acabaram por mudar de assunto. A mudança de assunto fez Julie sorrir; falar das peripécias de Kevin e Daisy era sempre uma lufada de ar fresco. Margot fez saber que eles também queriam ver a tia Julie e combinaram uma videochamada, para o fim-de-semana seguinte. Terminaram a chamada com uma despedida regada a lágrimas, como seria espectável.

Lembrando-se, mais uma vez, da chamada de Margot, Julie acaricia a barriga. A bebé dá um chuto e ela sorri.

Ah... Batatas fritas. Vinham mesmo calhar bem.
Um desejo enorme por batatas fritas. Hum... Batatas fritas com sabor a presunto.

- Ó filha, eu não posso crer que te apetece batatas fritas! Por que não te apetece algo que tenhamos em casa? Seria bem mais simples, não?! - Suspira a sorrir. - Lá terei de ir comprar batatas fritas.

Ao mesmo tempo que chega à porta, para sair, tocam à campainha.
Ao abrir, fica atónita, pregada ao chão e a mão colada à porta.

- Jamie?! - Murmura.

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