Prólogo

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Labaredas enormes consumiam uma vasta extensão florestal.
Um espetáculo e, ao mesmo tempo, uma tragédia.

A escuridão da noite era iluminada pelas copas a arder.
O silêncio interrompido, não só pelo crepitar incessante das árvores e mato consumidos sem piedade, mas também pelo som de vozes abafadas por aquele som característico do incêndio a progredir ferozmente.
O fumo era tão denso, que dificultava a visão dos rotativos e estroboscópios azuis dos veículos de combate, tal como a respiração de quem estava mais próximo àquele inferno.
Várias corporações de bombeiros travam um combate hercúleo para conseguir extinguir as chamas, num relevo de declive acentuado.

A visão de uma verdadeira batalha. Homens e mulheres correm, para deter a progressão das chamas. No meio das áreas onde o fumo fica menos denso, avista-se um comandante a apontar, falando alto, sobrepondo a voz aos barulhos que soam ao redor. Por entre a passagem da cortina de fumo, dois vultos de homens esticam lances de mangueira, fazendo sinal para outro, que está à bomba do veículo, ouve-se um som de acelerar e esta proporcionar o caudal ideal para baixar a intensidade das chamas, quando abrem a agulheta e direcionam o jato de água.

A corporação de bombeiros, onde Julie e Michael trabalham, também está empenhada no combate às chamas e as condições de tudo o que os envolviam não era nada favorável.
Como se não bastasse, o cansaço já dava ares de sua graça.

Enquanto a equipa de Michael combatia o incêndio, Julie e um colega aguardam junto à ambulância de socorro, atentos às comunicações e prontos a intervir.
Julie ouvia o som das comunicações longínquo, as vozes num balbuciar, mas num abanar de cabeça voltaram a soar límpidas.
John esfrega as mãos nos braços de Julie, com vigor, numa vã tentativa de passar alguma energia positiva e diz-lhe umas palavras de ânimo.

- Equipa de socorro, aqui posto de comando, escuto. - O rádio soa, fazendo-os voltar-se repentinamente.

- Posto de comando, aqui equipa de socorro, escuto. - responde John.

- Equipa de socorro, aqui posto de Comando, solicito intervenção junto à vossa equipa de combate. Mais informo, duas vítimas de soterramento, em estado grave. Escuto. - John e Julie entreolham-se.

- Posto de comando, aqui equipa de socorro, recebido. Assim farei, escuto.

- Equipa de socorro, aqui posto de comando, terminado.

O soterramento, causado pelo desmoronar de uma barreira de terra, cascalho, raízes, manta morta e troncos, desabou mesmo em cima da equipa de combate, sem que estes tivessem a celeridade de conseguir escapar.
Dos cinco elementos que fazem a equipa, dois ficaram soterrados e os restantes escavavam, aflitos, com todo o material disponível, para conseguir resgatá-los.

Julie ficou lívida e com o coração a bater descompassado. Apressaram-se a seguir na ambulância para o local do sinistro.

- Não pode ser. Por favor, Deus, não o permitas! - A prece silenciosa é feita. - O Michael tem de estar bem. - Pensa, já com um mau pressentimento. - O Michael tem de estar bem! - O corpo tremia, mas tensionou-o, para parar aquele tremor involuntário.

A ambulância ainda nem tinha parado completamente, quando ela saltou, indo buscar a mala de abordagem e corre o mais rápido que as pernas lhe permitiam, para onde se começavam a aglomerar operacionais.

- Com licença. - Pede, empurrando, enquanto fura, para tentar passar. - Por favor, deixem-me passar.

- Julie, espera. - Um colega tenta deter a sua aproximação às vítimas e vai atrás dela.

- Não, agora não! - Ela continua a tentar chegar ao pé dos colegas, de cabeça baixa, como se isso lhe valesse de alguma coisa, algo que nem ela conseguia explicar.

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