capítulo 1

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|Luan|

20 de outubro de 2007

Hoje o pelotão teria uma reunião com o Major Figueiredo sobre a missão que faríamos no Afeganistão. Nós serviremos lá durante 6 meses, e minha família como de costume estava se programando para uma bebedeira, uma forma de dizer que tudo ficaria bem, para camuflar nossos medos.

-Sargento Mellcka!- Digo prestando continência ao vê-lo se aproximar.
-Descansar- Ele diz fazendo com que eu relaxasse meus músculos.- Você é pontual né?!- Ele diz olhando-me.
-Sim, senhor!- Digo pondo meus braços para trás.
-Sem formalidades, Soldado.- Ele responde, o que me faz olha-lo curioso.

Não era a primeira vez que eu estava servindo, nem minha primeira missão, mas era o meu primeiro contato com o sargento Mellcka, ele havia sido transferido para nossa base a pouca mais de 2 dias e serviria junto a nós.

-Vejo que estão todos aqui- Major Figueiredo fala se aproximando.
-Sargento Mellcka, a seu dispor- Ele diz prestando continência enquanto o Major se aproximava.

Entro na fila lateral que se formou diante de ambos e fico na posição obrigatória.

-Soldado William, Soldado Régis e Soldado Rafael.- Major Figueiredo se aproxima de nós parando de frente a Régis.- Vocês irão amanhã as 16 horas no pelotão do Sargento Mellcka.
-Sim, senhor!- Respondemos para ele.
-Os demais irão com o Sargento Thalp, as 4 horas da manhã.- Ele fala andando entre nós.-Alguma dúvida?
-Não, senhor!

Após alguns tópicos apontados pelo Sargento Mellcka, pudemos descansar e irmos para nossas casas. Me doía muito ter que deixar minha família para trás, deixar minha mãe e irmã aos prantos na porta de casa, meu pai a consola-lás, mas era por um bem maior, salvar a pátria.

-Luan, espera!- Escuto uma voz chamando-me e viro para trás.- Ouvi dizer que sua família tá organizando uma bebedeira- William diz.
-Sim, sempre fazem- Digo dando de ombros.
-Eu queria saber se você se incomadaria se eu e minha esposa fôssemos, eu odeio me oferecer mas é que você sabe...acabamos de nos mudar, e minha esposa não tem amigos por aqui...-Ele diz sem jeito estendendo sua mão.
-Claro, irmão.- Respondo retribuindo seu gesto.-Vocês serão bem vindos.-Digo apertando seu ombro.

Passei as informações para ele, de onde seria e o horário que nós iríamos. Sai do quartel indo em direção ao centro da cidade para comprar um presente para minha irmãzinha, sempre que eu era chamado para servir eu lhe dava um presente para que ela se lembrasse de mim mesmo de longe.

Bruna é o meu orgulho, ela tem apenas 10 anos, é a razão da minha vida. Sempre sonha alto, quer sempre o melhor para os outros. Em nossa última conversa ela me informou que queria ser médica nas forças armadas para ficar perto de mim, e eu como o irmão babão que sou me derreti todo.

-Luan!- Bryana fala animada.
-Oi, Bry- Dou -lhe um sorriso.

Bryana era apenas 1 anos mais nova que eu, nossas mães são melhores amigas, e desde cedo elas tentavam fazer com que ficássemos juntos, mas eu nunca vi nada que me chamasse atenção nela. Ela era legal, extrovertida e bonita, mas não fazia meu tipo.

-Quanto tempo, em?- Ela pergunta se aproximando.
-Sim- Digo meio sem jeito.- Não sabia que estava trabalhando aqui. - Olho para ela.
-Comecei no mês passado- Ela responde dando de ombros. - Estou ansiosa para hoje a noite- Bryana fala dando pulinhos e sorrindo.
-Também estou- Dou -lhe um sorriso de lado e vou para o outro lado da loja.
-Você quer ajuda?- Ela pergunta vindo atrás de mim.
-Pode ser- Dou de ombros.
-É pra Bubu?- Ela pergunta sorrindo e eu balanço a cabeça confirmando.

Bryana sumiu por um tempo me deixando a olhar os diversos produtos que haviam na loja sozinho. Quando voltou Bry tinha um soldadinho de pelúcia em seus braços.

-Acho que ela vai amar esse- Ela diz rindo enquanto estica a pelúcia para que eu pegasse.
-Ela vai adorar-Digo sorrindo ao imaginar Bubu com ele.

Paguei pelo produto e me despedi de Bryana que fez questão de dizer o quanto ansiosa estava por essa noite, de novo.

Cheguei em casa e escondi a pelúcia para não correr o risco de Bruna quando chegasse da escola encontrar.

-Luh- Bruna gritou passando pela porta da frente soltando a mão de minha mãe.
-Minha pequena-Digo pegando ela no ar.
-Achei que já tivesse ido- Ela responde chorando.
-Eu vou amanhã, ainda tenho um tempinho pra te abusar-Digo sorrindo para ela.- Eu tenho uma surpresinha pra você. - Digo colocando ela no chão.
-O que?- Ela responde enxugando as lágrimas e me olhando curiosa.
-Está escondido, só vai saber se procurar- Digo me abaixando para ficar do seu tamanho.
-Mas como eu vou procurar uma coisa que eu não sei o que é? - Bruna pergunta pondo as mãos na cintura fazendo a gente rir.
-Você vai saber quando achar, vai lá-digo incentivando-a.

Bruna soltou sua bolsa no sofá e subiu as escadas correndo para procurar o que eu tinha para lhe dar.

-Você vai amanhã mesmo? - minha mãe pergunta cabisbaixa.
-Sim, 15 horas eu tenho que sair daqui pra poder chegar na base de 16 horas. - Digo indo em sua direção.

Ela suspira e logo após põem as mãos no rosto, uma tentativa falha de esconder as lágrimas.

-Mãe...-Digo abraçando-a.
-Eu não consigo me acostumar.- Ela diz retribuindo o abraço.

Eu sei o quão difícil é para ela, não ter a certeza se o filho vai voltar, não poder falar todos os dias, mas ela aceitava, porquê apesar de tudo, meu sonho sempre foi servir ao exército, desde pequeno.

-Eu te amo - Digo beijando o topo de sua cabeça e a apertando mais em meus braços.
-Eu te amo, meu filho- Ela responde se soltando e enxugando as lágrimas.

-Achei!- Bruna diz correndo com a pelúcia nos braços fazendo a gente rir.
-Gostou?- Pergunto sorrindo.
-Eu amei, é lindo e parece com você- Diz apertando ele em seus braços.
-Sempre que sentir saudades você pode aperta-lo e eu tenho certeza que sentirei aonde eu estiver- Digo abaixando-me e tocando a ponta de seu nariz.
-Vai mesmo?-Ela pergunta.
-Sim, e você também pode escrever para mim, e me ligar.-Dou de ombros.
-Eu te amo Luh.-Ela fala me abraçando.
-Eu sei, pequena.- Respondo retribuindo seus abraço.

Por Um Acaso | Luan Santana Onde histórias criam vida. Descubra agora