Capítulo 9

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-Por que importa? Não vai mudar o que eu sinto por você.-Digo passando o dorço da mão em meu nariz.
-Me diz.-Jonny fala como num sussurrar.
-Eu preciso ir, vou me atrasar.-Digo negando com a cabeça enquanto pego minhas coisas.
-Mas que...Droga.-Ele exaspera jogando o pano que estava em seu ombro no chão.-Eu estou tentando ter uma boa relação com você, estou tentando ser um bom pai...-Ele diz e eu o interrompo.
-Um bom pai?! Para de ser ridículo Jonny.-Digo enojada.
- Eu não sei que merda a sua mãe te falou, mas não foi verdade, eu demorei sim pra ir atrás de você, mas não foi porquê eu quis.-Ele diz apontando o dedo em seu peito.-Eu não sabia da sua existência, eu não sabia que tinha uma filha.-Jonny fala contraindo os músculos de sua mandíbula.

O mundo parou. Senti como se uma flecha tivesse atingindo meu coração. Como assim ele não sabia sobre mim? Isso não é possível. Isso só  pode ser uma brincadeira. Ele deve tá querendo brincar comigo. Só pode! Não existe outra explicação

Saio porta a fora deixando Jonny sozinho com suas palavras. Minha cabeça rodava, meus olhos embaçavam e eu corria desnorteada pelas ruas de Denver.

|Luan|

23 de outubro de 2007

Acordamos com Sargento Mellcka e o Cabo Lima gritando para que todos estivessem no pátio em 30 minutos.

Vesti meu fardamento e corri ficando na fila lateral que se formou, o Capitão Nascimento estava presente, o que era estranho pois ele só sai do gabinete quando algo sério acontecia.

-Ontem, como todos sabem recebemos um caminhão com armamentos e munições.-Ele diz parado em frente a nós.- O que ninguém sabia era que havíamos instalado uma bomba falsa, com o objetivo de conhecer melhor os soldados que julgamos mais fortes.

Olho para o sargento Mellcka franzindo as sobrancelhas e vejo ele com um semblante de orgulhoso, o que estava acontecendo aqui?

-Foram escolhidos 5 soldados. Soldado Crams, Soldado Rafael, Soldado William, Soldado Lima e Soldado Matthew. Se aproximem!

Ele ordena fazendo com que nós nos aproximassem. Prestei continência assim como meus amigos de carreira e me coloquei de lado com os olhos fixos no horizonte.

-Como vocês já devem saber, Soldado Rafael percebeu a bomba e se jogou em cima da mesma, surpreendendo a todos nós. Parabéns soldado.- Ele diz acenando com a cabeça.
-Obrigado, senhor!-Respondo firmando minha postura.
-Estiveram observando vocês nas missões passadas...-Ele continua referindo-se à nós.- A prova para se tornar Sargento já foi realizada, e tendo em vista a atitude do Soldado Rafael eu o nomeio, Sargento Rafael.-Ele diz fazendo me olha-lo surpreso.
-Obrigado, senhor!- Digo prestando continência.

A nomeação a Sargento me pegou de surpresa, não era o que eu esperava. Nunca me imaginei sendo sargento, meus pais vão pirar ao descobrir.

-Ao voltarmos para o Canadá, será realizada uma festa de nomeação, avise a sua família o quanto antes.-Sargento Mellcka diz se aproximando.
-Sim, senhor!-Digo sorrindo.

Todos do pelotão prestaram continência à mim e me parabenizaram. Quando voltei para o dormitório tomei um banho e fui para cama, pegando o celular para dar a notícia aos meus pais.

|Ligação|

-Luh!- Bruna diz animada do outro lado da linha.
-Minha pequena, que saudades.-Digo sorrindo mesmo sabendo que ela não veria.
-Eu abracei o soldadinho ontem, você sentiu?- Bruna pergunta.
-Claro que senti, pequena, um abraço bem gostoso.-Digo ainda sorrindo.-cadê a mãe?- Pergunto.
-Ta aqui pedindo o telefone.-Ela responde com uma risada sapeca.
-Você pode passar pra ela? Eu juro que falo contigo antes de desligar.
-De dedinho?- Ela pergunta
-De dedinho!- Digo rindo.
-Oi meu filho, que saudades de você.-ela diz ao pegar o telefone.
-Também tô morrendo de saudades.-Digo suspirando.-O pai está aí? Preciso contar uma coisa para vocês.

Avisei para eles que havia sido promovido a Sargento, e como o previsto meus pais piraram, tive que afastar o telefone do ouvido com os gritos de alegria de ambos

Antes de desligar, cumprindo a promessa, falei com Bubu, o que fez eu me emocionar. Era sempre muito difícil ficar tanto tempo deles, eu odiava, mas era um mal necessário.

|Fim da ligação|

Saímos para o treinamento, sempre muito pesado, as 09 horas da manhã. Hoje treinariamos tudo. Pegamos nossos rifles com munição de bolinhas de tinta e fomos ao "combate".

Eu estava cada dia mais nervoso com o combate direto que se aproximava, meu estômago revirava só de pensar. O estresse me corroia deixando-me refém de mim mesmo.

Xingue-me mentalmente ao ser atingido por uma bolinha de tinta. Eu tinha que focar no agora, no presente, se fosse na guerra eu já estaria morto. Levantei-me escutando mais gritos do Sargento causando uma dor de cabeça.

- Soldado Rafael, espero que você não esteja com a cabeça nas nuvens quando fomos para a prática.-Ele grita fazendo-me bufar mais uma vez.
-Sim, senhor!-Grito de volta sendo arrastado para fora do campo.

O treinamento se iniciou mais uma vez, sendo interrompido as 19 horas, para que pudéssemos escutar as palavras de Capitão Nascimento sobre o que nos aguardava em Kunduz.

Major Cunha aproveitou para falar chamar-nos a atenção, segundo ele estávamos muito voadores.

A noite já estava instalada e eu não havia comido nada. Sentei-me de costas para uma muralha de isopor que havia ali numa tentativa falha de recuperar minhas forças, escuto um grito de algum soldado sendo atingido pelas bolinhas de tinta fazendo-me levantar e esquecer da ardência em meu estômago. Atirei nos únicos soldados inimigos que estavam vivos escutando um "parabéns soldado, é isso que eu que eu espero de você em combate" de Sargento Mellcka.

Quando o treinamento acabou, por volta das 23 horas, o toque de recolher já havia soado e a única opção que tínhamos era tomar um banho e ir para a cama.

Fechei meus olhos e imagens da noite em que conheci Lis se instalaram em minha mente. Seu sorriso, o brilho de seus olhos, e até o forte cheiro de álcool que ela exalava, jurei sentir seus lábios nos meus, o que me fez abrir os olhos. Suspirei passando as mãos pela cabeça ao notar que não passava de lembranças.

-O que você fez comigo, Lis?- Digo baixo, virando-me de barriga para cima.

Por Um Acaso | Luan Santana Onde histórias criam vida. Descubra agora