Capítulo 18

31 5 2
                                    

Minha mãe foi para a cozinha com Bruna prepara algo para que eu pudesse comer, porquê segundo ela eu estava magrinho e ela não queria que eu ficasse assim e Bryana foi embora, deixando-me a sós com meu pai.

Ele sentou-se ao meu lado e perguntou sobre tudo o que tinha acontecido nesses últimos 4 meses, contei para ele como consegui o título de Sargento, sobre como foi ver 4 dos meus colegas morrerem na minha frente e eu não poder fazer nada, e claro, como eu fui ferido, mas não contei tudo o que eu havia visto, ouvido e passado, se nem eu que estava "acostumado" a ver certas coisas, imagina contar a ele que nunca chegou perto.

-Mais tarde o senhor me leva no Jonny's?- Pergunto voltando minha atenção para ele.
-Quer ver a Lis, não é?- Ele pergunta sorrindo.
-Vocês...- Digo sendo interrompido por ele.
-Se sabemos que rola algo?- Ele diz rindo.

Balanço a cabeça positivamente e ele se levanta de sua poltrona sentando ao meu lado.

-Lis é uma moça bonita, ela é educada, encantadora...Vocês formariam um lindo casal.- Ele diz sincero.
-Eu disse que a procuraria quando voltasse, não achei que nessas circunstâncias, mas...Eu tô nervoso de agora.- Digo sorrindo de lado.
- Vai com calma com ela, em?! Pelo pouco contato que tive, ela demonstrou ser uma pessoa muito tímida, não assuste a garota.- Ele diz.
-A timidez dela é o que mais me encanta.- Digo sorrindo ao lembrar de seu jeito.
-Não é melhor você ir na casa dela? Fale com Jonny, pergunte se pode dar uma passadinha lá.- Ele sugere.
-Vou fazer isso, valeu pai.-Digo o abraçando de lado.

Meu pai saiu da sala, deixando-me sozinho para que eu pudesse falar com Jonny a sós. Peguei meu celular e procurei na agenda seu nome, lutando contra a vontade de ligar para Lis primeiro.

|Ligação|

- Jonny? Está perto da Lis?- Pergunto olhando para baixo.
-Iae companheiro! Mais ou menos, por quê?- Ele fala.
-Eu cheguei hoje do Afeganistão e queria saber se posso dar uma passadinha ai, mas sem ela saber.- Digo passando a mão pelos curtos fios de meu cabelo.
-Deixa eu me afastar aqui.-Ele diz fazendo uma pausa.-As 20 horas eu tô saindo para ir pro Jonny, vou dizer pra ela ficar em casa, e aí você vem tá bom? Lis não está muito animada hoje- Ele fala fazendo-me franzir as sobrancelhas
-Aconteceu alguma coisa?- Pergunto franzindo as sobrancelhas.
-Bom, ai você tem que perguntar a ela, se ela quiser te contar...-Ele deixa no ar. -Cuidado com a minha filha, em?! Eu tô de olho em você.-Ele fala após um tempo.
-Pode deixar, Jon. Valeu!- Digo rindo.

|Fim da ligação|

- Vai sair?- Minha mãe pergunta vindo até mim.
-Na verdade sim, jaja.- Digo vendo ela fazer uma careta.
-Mal chegou...-Ela diz franzindo o rosto.-E além do mais você está machucado, não pode ficar perambulando por aí.- Ela abana as mãos.
-Eu só vou ver uma pessoa, volto logo.-Digo levantando-me com dificuldade.- Vou tomar um banho e quando descer vou comer essa comida que tá cheirando que só uma beleza.-Digo sorrindo para ela e dando-lhe um beijo na testa.
-Não demore!- Ela diz fazendo-me olha-lá.
-Me ajuda a subir?- Pergunto fazendo manha.
-E ainda quer sair.- Ela responde revirando os olhos e vindo até mim.
-Também te amo, ciumenta- Respondo rindo.

Tomei um banho e vesti uma calça jeans com uma camiseta de manga comprida e um casaco quentinho. Sai do quarto indo em direção as escadas pedindo a Deus que me ajudasse a descer sozinho sem ajuda de ninguém.

Quando cheguei no fim da escada, agradeci por ter conseguido e fui caminhando com as muletas até a cozinha.

-Ja desceu? Por que não pediu ajuda?- Meu pai fala levantando-se para me ajudar a sentar.
-Eu não quero ficar dependente de vocês para fazer as coisas.-Digo dando de ombros.
-Mas você não vai ficar dependente, meu filho, são as circunstâncias.-Minha mãe responde.
- Infelizmente.-Digo baixo.
-Luh, foi eu que fiz o purê de batata, tá uma delícia.- Bruna diz sorrindo.
- Deixa eu provar.- Digo pegando uma colher em cima da mesa e pegando um pouco do purê de batata.-Ta muito bom mesmo, você tem que me dar essa receita.- balançando a colher no ar.
- Não posso, é segredo, né mamãe?- Ela fala rindo sapeca.
-É segredo.- Minha mãe fala pondo o dedo em frente a boca fazendo-me rir.

A comida de minha mãe estava maravilhosa, como sempre, mas ter passado 4 meses sem comer nada, praticamente, fez com que a comida parecesse ser de outro mundo, estava divino.

- Eu vou indo.-Digo levantando com dificuldade indo até minha mãe e Bruna.
- Você vai demorar, Luh?- Bruna perguntando olhando pra mim que depositava um beijo em sua testa.
-Não. Quando eu voltar nós iremos assistir aquele filme.- Digo abanando o dedo, rindo.
-Ta bom.- Ela diz animada.
-Vê se toma cuidado.-Minha mãe fala me abraçando.
-Ta certo.- beijei o topo de sua cabeça.

Caminhamos em direção ao carro e pra subir foi outra dificuldade, meu pai ajudou-me a sentar e a por a perna para dentro. Joguei a cabeça para trás enquanto via ele dar a volta para sentar no banco do motorista.

-Eu te deixo lá e vou para o Jonny's, quando quiser ir pra casa é só me ligar.- Ele diz ligando o carro.
-Ta bom.- Digo passando as mãos no rosto.
- Eu sei que é difícil ficar com limitações físicas depois de tanto tempo sendo "normal"- Meu pai fala fazendo aspas desviando o olhar para mim.
-É...- Respondo olhando para minha perna.
-Mas pelo menos não foi algo mais grave.- Ele diz olhando pra mim.-Mas não há mal que não venha para o nosso bem.- Ele fala.- Você conseguiu o título de Sargento, e agora ficará mais próximo da família. Você salvou várias pessoas, entre soldados e civis. Você lutou até o final, não importa as sequelas que você ficou, você lutou até o final. Mesmo ferido você salvou seu companheiro, você conseguiu arrasta-lo para um lugar seguro...Luan, você tem noção do orgulho que eu tenho de você?- Meu pai fala.

Com os olhos cheios d'água abaixo a cabeça e me permito solta-las. Desde o dia que fui ferido e internado na base, eu me culpava por tal fato ter acontecido comigo. Eu tinha medo que meu pai não fosse mais sentir esse orgulho que sente por mim. Abano a cabeça e olho para ele.

- Eu amo você, meu filho.- Ele fala pondo a mão em meu ombro.
-Também amo você.- Digo enxugando as lágrimas.

Por Um Acaso | Luan Santana Onde histórias criam vida. Descubra agora