Capítulo 11

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25 de outubro de 2007

"-O Soldado Luan foi atingido no peito, ele não sobreviveu, eu lamento.- O homem falava.
-O que?! Como?! Não, não é verdade.-Digo desesperada.
- Eu sinto muito, senhora.-Ele fala dando as costas deixando-me ali.

Minhas mãos tremiam e as lágrimas caiam como una cachoeira. Sinto meus joelhos fraquejarem e vou ao chão. Um grito sai de minha garganta levando-me a cobrir o rosto com as mãos."

Acordo com Jonny me sacudindo e chamando por meu nome. O olho sem entender e encolho-me recusando seu toque.

-Você está bem? Você estava gritando...-ele pergunta preocupado.
-Estou.-Digo simples.

Olho para o relógio em cima do criado mudo mostrando-me que eram apenas 07 horas da manhã. Meu pijama todo molhado de suor, a fronha de meu travesseiro não estava diferente. Jonny já não estava mais no quarto.

Encosto minha testa na parede e solto um suspiro. A água quente escorria por meu corpo relaxando meus músculos e retirando tudo o que estava a me amedrontar do pensamento.

Domingo não tem aula na faculdade, então tornei a por um pijama deitando-me na cama numa tentativa falha de voltar a dormir. Liguei a televisão e o aparelho de DVD que Jonny havia colocado em meu quarto, escolhi um dos DVDs que tinha ali e voltei a deitar.

Por volta das 09 horas meu estômago já roncava de fome, fui obrigada a levantar e ir até a cozinha. Jonny fazia algo para o almoço, não fiz muito questão em saber o que era, eu não queria papo com ele nem tão cedo.

Peguei a caixa de cereal e a de leite e voltei para o quarto, eu estava decidida a passar o dia todo ali, no conforto de minha cama.

Escutei meu celular tocar e logo revelar que se tratava de minha mãe. Atendi mesmo sem vontade nenhuma de falar com ela, escutei ela reclamar por tudo que eu andava fazendo. Ignora-la, não responder seus e-mails e nem seus torpedos. Reviro os olhos.

Descobri que ela estaria aqui a passeio na quarta-feira e que eu seria obrigada a sair com ela.

Sai do quarto por volta das 14 horas. Jonny estava almoçando e levantou a cabeça ao me ver entrar na cozinha.

-Eu não quero te colocar contra a sua mãe, eu só quero uma relação de pai e filha saudável.-Jonny diz recusando olhar em meus olhos.
-Não é o que pareceu.-Digo dando a volta para voltar para o quarto.
-Lis, eu estou falando com você.-Ele diz sério.
-E eu não quero ouvir.-Respondo-lhe.
-Senta aí, depois você faz o que você quiser, mas agora você vai sentar e me ouvir.-Jonny ordena.

Sentei-me na cadeira bufando ao vê-lo suspirar.

-Eu já passei tempo demais longe de você, não quero passar mais, não quero te afastar de mim, eu só quero que você me trate como seu pai, e não como um qualquer.-Ele fala olhando para mim, e agora é a minha vez de recusar seu olhar.-Quando sua mãe resolveu se separar, eu não entendi bem o motivo, ela vivia reclamando que eu só vivia no bar, que eu não dava mais atenção pra ela.-Jonny suspira.

Aonde ele queria chegar me falando essas coisas? Reviro os olhos.

-Numa madrugada, quando voltei para casa ela já não estava mais lá. Ela levou tudo que tinha, roupas, joias, tudo.-Ele se ajeita na cadeira e continua. -Depois disso eu na tive mais contato com ela, passei anos a procurando, até que um conhecido disse ter a visto em Aurora, eu não pensei duas vezes, fui atrás dela. Quando cheguei lá me dei conta que ela tinha tido uma menina e que eu era o pai, eu endoidei, ela fez de tudo pra eu não viver com você, eu fui atrás, eu briguei na justiça mas infelizmente ela ganhou. Eu não tive culpa de não ter participado de sua infância, Lis. Mas mesmo assim eu me culpo todos os dias por não ter visto seu primeiro dentinho, sua primeira palavra, a primeira vez que você andou. Eu me culpo TODOS os dias.

Sinto meu queixo tremer e logo uma lágrima cair de meus olhos. A história que minha mãe havia me contado não era essa, não tinha nada a ver. Quem estava certo nisso tudo?

Coloco minhas mãos sobre o rosto impedindo que Jonny me visse chorar, o que obviamente foi impossível, já que ele se levantou e veio até mim. Seus braços me apertaram contra seu peito, eu soluçava alto e cada vez mais ele me aproximava de si.

Estou confusa, minha mãe mentiu para mim esse tempo todo? Como ela pôde? 20 anos de mentira, 20 anos longe do meu pai por causa dela. Apertei Jonny com meus braços.

Escutamos a campainha tocando levando-nos a nós afastar. Ele enxugou suas lágrimas e saiu indo em direção a porta.

-A Lis está?- Amanda pergunta.

Apareço atrás de Jonny que ao me ver da passagem para que ela entrassem.

-Oi-digo me aproximando.
-Posso saber o motivo de não ter aparecido na festa?-Ela pergunta pondo as mãos na cintura.
-Eu passei mal.-Minto.

Jonny saiu porta a fora deixando-nos sozinhas ali na sala.

- Você mente muito mal, Lis Martins.-Ela semiserra os olhos.

|4 meses depois|

24 de dezembro de 2007

São 4 meses, exatamente 120 dias sem notícias de Luan. Tenho tido pesadelos com ele desde então. Não tive coragem de falar com sua família, minha timidez não permitiu que eu chegasse neles.

Minha relação com Jonny havia melhorado muito. Cheguei a conversar com a minha mãe comprovando que ela havia mentido pra mim esse tempo todo, resultando em um afastamento de minha parte.

Levantei-me da cama indo em direção a sala ao escutar um barulho vindo de lá. Jonny montava a árvore de Natal e enchia a casa de decorações natalinas.

- Eu não queria te acordar, sinto muito.-Ele diz virando-se pra mim.
- Por que deixou pra arrumar a casa na véspera?- Pergunto franzindo as sobrancelhas.
- Eu não costumo comemorar o Natal, mas esse é o nosso primeiro juntos e eu queria fazer algo especial.-Jonny fala dando de ombros.- Eu sei que sua mãe é uma fanática por Natal e talvez tenha te contagiado, por isso eu quis fazer como ela fazia.-Ele continua.

Jonny estava sempre querendo me agradar, sempre buscava fazer com que eu ficasse feliz. Sorrio para ele e me aproximo pegando um papai Noel de pelúcia que se encontrava no chão.

- Eu não gosto de comemorar o Natal.-Digo amigável.

Por Um Acaso | Luan Santana Onde histórias criam vida. Descubra agora