Capítulo 7

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Encontrava-me jogado em cima da bomba que deveria ter estourado a 1 minuto atrás, o que de fato não ocorreu. Levantei-me devagar e olhei para o explosivo em minha frente, não havia mais número nenhum, estava desligada, como se nunca tivesse sido ativada.

Levantei a cabeça, e vi o Sargento Mellcka na entrada dos fundos do caminhão. Ele não parecia surpreso, ao ver que eu o olhava prestou continência, o que me deixou mais curioso.

Nos arrumamos e voltamos para a base, Sargento Mellcka falou que queria conversar comigo mas que deixaria para mais tarde. Todos que estavam presentes naquele galpão me parabenizaram pela coragem e todos bateram continência como forma de respeito.

Eu realmente não havia entendido o que tinha acontecido naquele galpão, foi tudo armado? Eles não fariam isso, ou fariam? Eu arrisquei tudo, TUDO para salvar a todos.

Cheguei no dormitório, tomei um banho e deitei-me. As cenas do que acabará de acontecer não saiam de minha mente, aonde eu estava com a cabeça? O que aconteceria com meus pais se a bomba tivesse realmente explodido? Eu não veria Bruna crescer. Não veria Lis e seu belo par de olhos castanhos claro nunca mais.

Suspirei passando a mão no rosto e peguei o telefone. Já se passava das 2 horas da manhã quando disquei o número de Lis mais uma vez.

|Ligação|

-Luan- Ela diz animada ao atender, a julgar pelo som alto no fundo ela estava no Jonny's.
-Está ocupada?- Pergunto torcendo para que a resposta fosse "Não".
-Não.- Ela diz simples.- Quando falou que ligaria qualquer dia desses não achei que fosse hoje.- Ela diz após um tempo calada.
-Não gostou de eu ter ligado?- Pergunto deitando minha cabeça no travesseiro.
-Suponhamos que eu estava ansiosa para a aproxima ligação.-Liz fala dando um riso tímido do outro lado da linha.
-E eu para ouvir a sua voz...-respondo baixo.

Lis era tímida demais, notava-se ao elogia-la. Ela permaneceu em silêncio após outro riso tímido, fazendo com que eu buscasse outro assunto.

-Semana que vem iremos para Kunduz, o sinal é péssimo por lá, pelo que disseram.- Falo torcendo os lábios e escutando um "Ah" como resposta.
-Então só terei notícias suas quando voltar?- Ela pergunta.
-Provavelmente...A menos que pergunte aos meus pais, eles são os únicos que eu posso nandar noticias-Respondo sorrindo de lado mesmo sabendo que ela não conseguiria ver.

Existiam algumas regras para quando nós estivéssemos em missão, os soldados só podem mandar cartas para os pais e se forem casados para a esposa. Eu nunca liguei tanto para essa regra, até conhecer Lis.

O que mais incomodou nesse silêncio dela foi não saber o motivo, não saber o que se passa naquela cabecinha.

-Eu preciso ir.-Ela responde por fim.
-Ta bem...-Digo após suspirar.- Posso te ligar no sábado?- Pergunto ansioso pela resposta.
-Sim- Ela diz parecendo pensar.
- Vai estar ocupada?-pergunto alisando minha barba.
-Eu arrumo um tempo pra você.

Ao ouvir a resposta de Lis, foi impossível não sorrir e imaginar seu rosto todo avermelhado.

-Boa noite, Lis.
-Boa noite, soldado.

|Fim da ligação|

Adormeci minutos depois de ter desligado. Mesmo indo para uma "missão" após o toque de recolher e chegado 1 hora antes do alarme soar, eu teria que acordar cedo, claro que não as 3 horas, mas no máximo as 7 horas.

|Lis|

Passei o dia todo ansiosa para saber quando Luan ligaria novamente, o que não demorou muito, 2 horas da manhã, eu estava no estacionamento do Jonny's lembrando dele, de nosso beijo, do seu toque, quando escuto o telefone tocando.

Minutos depois escuto Alex me chamando para ajudá-lo a organizar as coisas, fazendo com que eu me despedisse de Luan.

|Ligação|

....

-Eu preciso ir.-Respondo, mesmo que contra a minha vontade.
-Ta bem...-Luan após suspirar.- Posso te ligar no sábado?- Ele pergunta
-Sim- Digo mesmo sabendo que não estaria em casa.
- Vai estar ocupada?- Ele pergunta.
-Eu arrumo um tempo pra você.-Digo envergonhada sorrindo de lado.
-Boa noite, Lis.- Pelo seu jeito de falar notei que ele sorria, o que me fez sorrir também.
-Boa noite, soldado. 

|Fim da ligação|

Olhei para o céu ainda sorrindo, não acreditando que eu estava mesmo cogitando a ideia de espera-lo.

Voltei para o bar e avistei Alex passando um pano em cima das mesas para limpar, já estávamos perto de fechar. Me aproximei dele pegando a bandeja e pondo as coisas sujas em cima da mesma.

-Isso está pesado, deixa que eu levo.-Alex diz vindo em minha direção.
-Não, não precisa, eu mesma levo.-Digo caminhando em direção a cozinha.

Ao entrar na cozinha do Jonny's escutei um barulho estranho, entrei na dispensa ligando e lá estava a origem dele. Odrew, o lavador de pratos, se agarrando com uma mulher.

-Me desculpa, eu não queria...- Digo atrapalhada ao ser notada.
- Lis...Não fala pro seu pai, por favor.-Ele diz assustado colocando as calças.

Sai as pressas os deixando ali sozinhos para que se arrumassem, se Jonny soubesse iria colocá-lo para fora, e isso não era o que eu queria. Voltei para as mesas e pedi que Alex trocasse comigo alegando que tinha dado um jeito no punho e escutando um "Eu te avisei".

Olhei para frente e lá estava Odrew me encarando, suplicando que eu não falasse a Jonny, abaixei o olhar envergonhada e comecei a passar o pano nas mesas.

Quando se aproximou de 4 horas da manhã, só havia uma mesa ocupada, Jonny estava de volta ao caixa, agora contando dinheiro. Eu estava apoiada no balcão, tentando não dormir, enquanto Alex, Dêssa e Raquel viravam as cadeiras pondo-as em cima da mesa.

-Ja pode ir para o carro se quiser.-Escuto a voz de Jonny fazendo-me despertar.
-Não, tô de boa aqui.- Digo cruzando os braços.
-Você está com sono, Lis, vai pro carro.-Ele insisti esticando a chave em minha direção.

Tirei o avental colocando o em sua mão e pegando a chave do carro com a outra. Entrei no carro, liguei o ar condicionado e inclinei o banco para que ficasse melhor.

Por Um Acaso | Luan Santana Onde histórias criam vida. Descubra agora