Por Um Acaso | Luan Santana

Capítulo 13

Sorrio fraco pra ele e cruzo meus braços para tentar me esquentar.

-Luan sabe se cuidar, ele é muito forte, sabe?! É um guerreiro! Desde pequeno, sempre vencendo suas lutas.-Amarildo fala olhando para a foto do filho na estante.
-O senhor acha que ele está bem?- Pergunto olhando para ele.
-Eu tenho certeza. Meu filho é muito esperto.-ele diz olhando em meus olhos.

A confiança em seu filho era linda, ele falava de Luan com tanto orgulho. Amarildo se levantou e saiu da sala indo para um corredorzinho.

Jonny consolava a mãe de Luan, a qual eu não lembro o nome e eu ficava ali sentada observando cada detalhe do que diziam no noticiário.

-Qual é o seu nome?- A pequena pergunta se aproximando de mim, agora mais calma.
-Lis, e o seu?- Pergunto voltando minha atenção para ela.
-Bruna.- Ela senta ao meu lado.-Que nome lindo, Lis.
-Obrigada, o seu também é lindo, assim como você.-Digo sentindo minhas bochechas corarem.

Bruna sorri e continua:

-Você é amiga do Luh?-Ela pergunta olhando-me.
-Sim, sou sim.-Digo.
-O Luh nunca me falou de você.-Ela diz pensativa.
-Nos conhecemos a pouco tempo.-Dou de ombros.
-Quantos anos você tem, Lis?-Ela pergunta fazendo-me rir de sua entrevista.
-Tenho 20, e você?- Pergunto.
-10 aninhos.- Ela fala.-Olha o soldadinho que o Luh me deu.- Bruna balança a pelúcia no ar.

-Lis, você quer comer?- A mãe dele fala com a voz abatida.

Olho para Jonny que balança a cabeça positivamente e olho para ela confirmando. Ela se levanta e pega em minha mão para guiar-me até a cozinha.

-Você vem?- Pergunto a Bruna que balança a cabeça negativamente em resposta.

-Acho que você não lembra meu nome.-Ela sorri fraco.-Meu nome é Marizete.

Sorrio para ela e sento-me na cadeira que ela me indicou.

-Você chegou a falar com meu filho depois da noite do bar?- Ela pergunta pondo comida no prato.
-Sim.-Sinto minhas bochechas corarem.
-Naquela noite ele estava bem agitado, muito nervoso, mas depois que começou a beber ficou tranquilo, e depois que vocês começaram a conversar...-Marizete fala.- Eu tenho muito medo de perder-lo.-Ela diz deixando as lágrimas caírem.
-Dona Marizete...-falo levantando-me e indo até ela.

O que eu estava fazendo? Marizete estava com medo e muito nervosa, eu não estava diferente dela e ainda tentava a consolar.

Depois de um tempo abraçada a ela, escutamos o telefone tocar fazendo com que ela se soltasse e corresse até a sala e eu a acompanhasse. Todos ali a olharam e aguardaram por notícias.

-Alô?- Ela fala aflita.- Aí meu Deus.- Marizete chora.-Obrigada, muito obrigada.-Ela fala ainda aos prantos. Desliga o telefone.

-Eai?- Amarildo pergunta indo até ela.
-O Luh tá bem?- Bruna pergunta saindo do sofá.
-Ele está bem.- Ela diz aliviada.-Ele está bem.-Ela repete abraçada ao esposo.
- Eu te avisei, nosso filho é um guerreiro, ele não vai a luta para perder.-Amarildo diz emocionado.

Bruna começou a gritar e a pular em comemoração, rodopiando em círculos com seu soldadinho de pelúcia. Jonny me abraçou e disse um "Eu te avisei que estava tudo bem" deixando-me aliviada.

Marizete enxugou as lágrimas, olhou para uma imagem divina e agradeceu pela vida do filho, enquanto Amarildo e Bruna colocaram a mão em em cada ombro dela e fecharam os olhos.

Jantamos todos juntos, a 00h mesmo eu falando que não queria comer por já ter comido o que Dona Marizete me ofereceu. A ceia de Natal deles estava divina, o que me fez lembrar da que eu preparava enquanto estávamos em casa, macarrão com queijo.

-Feliz Natal.-Bruna grita para todos.
-Feliz Natal.-Todos respondem sorrindo.
-Feliz Natal, Luh.-Ela fala abraçando o soldado.- Lis, você sabia que se eu abraçar ele aqui o Luh sente lá aonde ele está?- Ela pergunta animada.
-É?- Pergunto envergonhada.
-Sim, você quer tentar?- Ela diz empurrando o soldadinho em meus braços.

Minha primeira reação foi negar, mas num piscar de olhos o abracei apertando-o contra meu corpo. Desejei que fosse ele ali, que seus lábios estivessem nos meus outra vez. Abri os olhos notando que Bruna me olhava sorrindo. Sorri em resposta e devolvi sua pelúcia.

-Você sente saudades do Luh?- Ela pergunta
-Sim.- engulo em seco.

Era a primeira vez que eu me permitia assumir isso em voz alta, e pra falar a verdade até que foi bom por isso pra fora.

-Você quer ver meu quarto? Vem, vou te mostrar.- Bruna puxa a minha mão levando-me a levantar.
-Bruna, deixa a menina em paz.-Marizete fala rindo.
-Ela é amiga do Luh, é minha amiga também.-Ela diz antes de me puxar para o segundo andar.- Esse é o quarto do Luh, é lindo não é?- Ela pergunta abrindo a porta e dando passagem para que eu entrasse.

Era simplesmente lindo, havia uma cama no centro, em cada lado tinha um criado mudo e abajures. Caminhando um pouquinho notei uma porta que dava acesso a suíte e do outro lado um espelho enorme. A decoração era bastante conceitual, e havia 3 grandes quadros com fotos de sua família na parede em cima de sua cama.

-Olha que legal.-Bruna diz puxando o espelho de lado revelando um closet.-Luh disse que eu poderia ter um quando for maior.
-Puxa...- Digo sem saber direito o que falar.
-Vem, vou te mostrar o meu.- Ela diz puxando-me para fora dali.

|Luan|

23 de dezembro de 2007

4 dias sem comer direito. 4 dias sem dormir. 4 meses longe de minha família. 4 meses sem falar com Lis. Minha cabeça rodava, meus joelhos fraquejavam, meu estômago ardia em fome e encontrava-me todo ferido, mas nada que fosse tão grave.

Ouço um grito de socorro vindo da fumaça  que havia se formado pelas bombas que jogaram em nós. Abaixo-me, rastejando, sem fazer barulho e vou até lá com o rifle sempre apontado para frente.

Soldado Marven estava jogado na lama, havia levado um tiro no ombro e outro na coxa. Já com o torniquete na perna e sua mão pressionando o ombro ele gemia e agonizava de dor.

-Ei.-Sussurro.-Ei.-falo um pouco mais alto.
- Que?! Quem é?- Ele pergunta desnorteado procurando por todos os lados.