Minha relação com Jonny não era das melhores, ele tentava a todo custo se aproximar de mim, isso era evidente, mas eu simplesmente não conseguia.
A primeira vez que o vi eu tinha 10 anos, lembro-me que nesse dia houve uma discussão entre minha mãe e ele, mas não lembro o motivo.
Jonny olhou para mim ao estacionar o carro e falou:
- Eu sei que se pergunta o motivo de eu ter ido atrás de você tarde.-Ele diz passando a mão em sua barba.
-Você está errado.-Digo olhando para frente.
-Lis, a gente precisa falar sobre isso. Vai melhorar nossa relação e...- Ele fala mas o interrompo.
-Poupe-me das suas desculpas, Jonny. Eu não ligo, eu realmente não me importo.- Digo olhando para ele.
-Lis, eu estou tentando me aproximar de você. Você precisa me escutar em relação a isso, a única versão que você conhece é a da sua mãe, e eu não faço a mínima ideia do que ela disse pra você, mas não foi verdade.- Ele diz agonizando em seu lugar.
-De novo essa história.-Digo suspirando.Jonny em qualquer circunstância se mantinha calmo, acabei herdando isso dele, mesmo não convivendo. Por mais irritada que eu estivesse não era motivo pra gritaria.
-Eu estou tentando...-Ele diz deixando seus ombros caírem.
-Outro dia a gente conversa.-Digo descendo do carro e indo em direção ao bar.Por incrível que pareça Jonny's estava cheio, em plena quinta-feira. Coloquei meu avental e comecei a servir as mesas.
|Luan|
As rondas pelos bairros próximos a base foram tranquilas, nada que nos obrigasse a agir. Ao chegarmos nos reunimos no pátio, em posição obrigatória, para alguns tópicos que seriam dados pelo Major Cunha.
-A missão em Kunduz se aproxima, como sabem, porém a realidade que encontraremos lá ainda é um mistério.-Ele diz andando entre o corredor que se formou entre os oficiais.-Um terrorista entrou em um templo e acabou por matar 15 pessoas que ali estavam presentes. Precisamos nos equipar fortemente para combate-los, por isso, durante a madrugada chegará um caminhão carregado de fuzis e outras diversas armas no galpão há duas quadras daqui.- Ele para ao lado do Sargento Mellcka e olha para nós.-Precisaremos de 5 soldados para vigiar e revistar o caminhão na chegada e na saída, Sargento Mellcka, faça as honras.-Major Cunha fala pondo as mãos para trás.
Em seguida Sargento Mellcka faz a continência em frente ao Major Cunha, vira-se para nós repetindo o gesto e começa a andar pelo mesmo corredor que Major Cunha andou segundos atrás.
-Soldado Rafael-Ele diz fazendo-me respirar fundo.- Soldado William, Soldado Lima, Soldado Matthew e soldado Crams, vocês foram os escolhidos para virem comigo.-Ele fala ao parar no final do caminho.- Vocês irão agora descansar, e as 23 horas, no toque de recolher, irão ficar em posição de combate. Haverá outros oficiais com vocês, mas a revista será realizada SOMENTE por vocês.-Ele diz dando ênfase.- Entenderam?- Sargento Mellcka pergunta fazendo-nos falar um "sim, senhor". - Já podem se recolher, e os demais irão para o treinamento.
Sai do pátio e fui para a barraca que eu estava abrigado para tomar um banho. Eu não havia gostado nada de ter sido escolhido, haviam diversos soldados na base. Sai do banho vestindo a calça do fardamento e uma regata branca e sentando-me na cama.
Peguei o celular e liguei para a minha mãe, precisava saber se eles estavam bem, se estava faltando alguma coisa.
|Ligação|
-Mãe?- Pergunto ao atenderem o telefone.
-Meu filho.- Ela diz emocionada do outro lado da linha.
-Como está as coisas ai?- Digo fechando os olhos.
-Estamos bem.-Ela diz fungando.-Como está as coisas por ai?
-Tranquilas...semana que vem iremos para Kunduz.- Abaixo a cabeça passando a mão na nuca.-
- Vai dar tudo certo, meu filho.Minha mãe sempre me falava coisas otimistas, não importava as circunstâncias, ela diz que se pensar positivo coisas positivas acontecem com a gente.
- Não vou poder ligar pra vocês nas semanas seguintes, a coisa tá preta por lá, teremos muito trabalho e provavelmente não terá sinal. - digo suspirando.- Não se assustem se eu não mandar notícias.
-Tudo bem, irei rezar por vocês.-Ela responde conformada.
-Fala pra Bubu e pro Pai que tô morrendo de saudades e que eu os amo. Diz a Buh que assim que eu voltar iremos tomar sorvete no lugar preferido dela.- Digo fechando os olhos para impedir que as lágrimas caíssem.
-Pode deixar, meu amor.- Minha mãe diz com a voz embargada.
-Eu te amo.-Digo por fim.
-Eu te amo.- Ela responde.|Fim da ligação|
Olhei a hora, vendo que ainda tinha 4 horas para descansar, então resolvi ir até o refeitório, passei o dia todo sem comer, desde a hora que acordei. Eu sei que nas semanas seguintes seriam piores do que hoje, seriam dias sem comer e pouca água para beber, não é atoa que sempre voltávamos mais magros.
Sai do refeitório indo até o quarto e tive que lutar contra a minha vontade de ligar para Lis, preciso ir com calma, apesar de tudo. Eu não via a hora de voltar para a Denver e vê-la novamente.
As 23 horas, no toque de recolher, eu e os soldados escolhidos já estávamos a caminho do galpão com o Sagernto Mellcka. Ao chegarmos já havia um grupo fazendo a ronda, nos aproximamos e nos apresentamos entrando no galpão e nos posicionando da melhor forma possível.
O caminhão logo chegou, eu e o soldado Carms entramos para revistar, aparentemente tudo normal, até que achamos algo suspeito.
-Ta ouvindo isso?- Pergunto franzindo as sobrancelhas.
-O bip?-Carms pergunta olhando ao redor.-Parece estar ficando mais alto.
- Sim!- Digo indo até os caixotes e derrubando as munições.- É uma bomba.-Grito ao vê-la.O cronômetro estava em 20 segundos, Carms correu para se salvar e eu fiquei ali. Por um momento vi toda a minha vida passar em meus olhos, meus pais, Bruna, e até mesmo Lis. Não pensei duas vezes e me joguei em cima da bomba gritando para saírem dali o quanto antes.
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Por Um Acaso | Luan Santana
RomanceLuan Rafael, um soldado prestes a servir no Afeganistão, vai para uma bebedeira no Jonny's, um barzinho que sempre frequentava com sua família, conhece Lis, uma jovem universitária, filha do dono do bar. O amor entre os dois era lindo até o destino...