Capítulo 12

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- Eu não gosto de comemorar o Natal.- Digo amigável.
- Ah...-Jonny fala desapontado.-Mas prometemos recomeçar então a partir de hoje nos comemoramos o Natal.-Ele sorri de lado dando de ombros.
- Eu te ajudo, vamos.- Digo pondo o papai Noel no sofá e pegando algumas decorações natalinas para por na árvore.- Você tem visto os Santana's?- Pergunto olhando o soldadinho na árvore.
-Na verdade não, eles geralmente frequentam o bar quando o filho está prestes a ir em uma missão, quando ele volta ou quando é aniversário de algum deles.-Jonny responde abaixando-se para pegar algo no chão.- Por que?
- Por nada.-Digo pegando mais decorações.
- Eu sei de você e o Luan...-Ele diz baixo.
-O que? - Olho para ele.
-Seu chip é cadastrado no meu nome, esqueceu? A lista telefônica chega para cá.- Jonny responde.
-Nós só conversamos.-Digo voltando a atenção as bolinhas.
-Ele é um bom rapaz, um bom filho, e um bom amigo. Vocês tem o meu apoio se quiserem ficar juntos.- Os cantos de sua boca curvaram-se para cima.
-Ah...Eu não sei.-Digo virando-me para olha-lo.-Ele me pediu pra esperar, sabe?! Mas eu tenho medo de estar esperando e ele não vir atrás de mim ou sei lá...-Digo.
-Vocês ficaram? É isso que os jovens falam né?- Ele pergunta gesticulando com as mãos.
- Sim, é isso que eles falam.-Digo rindo do seu jeito.- Nós nos beijamos, e só.-Digo dando de ombros.
-Sinto que não foi "só" um beijo, tô certo?- Ele pergunta fazendo aspas no ar.

Concordo com a cabeça e sento-me no chão.

- Olha filha, se ele realmente mexeu com você, se o beijo de vocês foi bom mesmo, então vale a pena esperar, sabe?! Vocês conversam e se resolvem. Se deu certo, bem, se não deu, bola pra frente.-Ele diz dando de ombros.
- Eu tenho medo dele não voltar.-minha voz vacila.
-A mãe dele é uma velha amiga, ela costuma falar que se pensar positivo coisas positivas acontecem com a gente. Eu gosto de pensar dessa forma, como ela.-Ele diz.

Suspiro em resposta e levanto-me voltando a arrumar as coisas.

-De onde tirou tanta decoração em tão pouco tempo?-pergunto mudando de assunto.
-Digamos que tava na promoção.-Ele diz dando de ombros.
-Você é louco.-Digo rindo.

Deixei ele terminando a decoração e fui até a cozinha preparar nossa ceia improvisada, Jonny disse que não iria querer almoçar, e como eu também não estava com fome resolvi não fazer o almoço.

"Atentado em Kunduz, no Afeganistão, mata 40 pessoas, não sabemos ainda o número exato de feridos, mas podemos afirmar que soldados estavam entre elas."

O noticiário anunciava a todo momento o atentado ocorrido. Da cozinha eu via a televisão da sala, Jonny ao perceber desligou no mesmo instante. Olhei para ele e virei de costas voltando a atenção para o que estava fazendo.

-Filha, ele não está no meio, não se preocupa.-Ele diz vindo até mim.
-Deus te ouça.-Digo abaixando o olhar.
-Quanto tempo você não tem notícias dele?- Ele pergunta.
-4 meses.-digo suspirando.
-A família dele não recebe notícias?- Ele pergunta fazendo-me lembrar de suas palavras.
-Recebe, recebe sim.
-Por que você não vai até lá? Eu te levo se quiser.
-É véspera de Natal, eles talvez nem estejam em casa.-Digo dando de ombros.
-Vai trocar de roupa, eu te levo lá. E não aceito não como resposta.-ele diz saindo da cozinha e apontando o dedo pra mim.

Tomei um banho quente, vesti uma calça jeans, uma camisa de manga comprida e um casaco grosso. O pior passava por minha mente a todo instante. Flashes dos pesadelos que eu vinha tendo com sua morte rodava minha cabeça fazendo-me sentir o pânico surgir.

Voltei para a sala e Jonny já estava agasalhado. Fomos até o carro dando a partida e indo em direção a casa dos Santana's.

- Jonny!.-O homem fala ao abrir a porta, é o mesmo homem do bar, se não me engano pai de Luan.
- Desculpa está batendo em sua porta na véspera de natal, mas nós viemos saber se Luan está bem.-Jonny fala abraçando o homem.
-Minha esposa está tentando falar com a base para saber, entrem.-Ele diz dando passagem.- Lis, não é?- Ele pergunta.

Em resposta balanço a cabeça confirmando e sinto seus braços se voltarem para mim.

-Sou Amarildo.-Ele diz por fim.
-Mamãe...- uma menininha choramingava.

Luan tinha uma irmã?

-Alô?! Gostaria de saber do Soldado Rafael, ele está bem?-Ela fala desesperada.

Prendo a respiração ao vê-la chorar e se abraçar a filha que também chorava. O que estava acontecendo?

Olho para Jonny e ele sussurra um "calma" para mim, concordo com a cabeça e olho para baixo tentando não entrar em pânico novamente.

-O que disseram?- O pai dele pergunta ao vê-la desligar o telefone.
-Depois ligam, vão procurar saber quem estava no meio.-Ela diz soluçando.- Eu tenho tanto medo.
-O Luh está bem?-A pequena pergunta choramingando.
-Seu irmão está bem sim, vem cá.-Jonny fala abraçando a menina.
- Você promete?- Ela pergunta se afastando é enxugando as lágrimas.
-Eu prometo.-Ele hesita.

A pequena se afastou e só então pude notar um soldadinho de pelúcia em seus braços, ela o carregava por todos os lados. Logo apareceu no noticiário as estradas bloqueadas e infelizmente a nossa era uma delas.

Me encolhi em meu lugar e vacilei ao respirar fundo, uma lágrima escorreu por meu rosto levando-me a enxuga-la. Jonny veio em meu encontro e abraçou-me sussurrando em meu ouvido que Luan estava bem.

-Obrigada por estarem aqui.-A mãe dele fala enxugando as lágrimas.
-Amigos são pra essas coisas.-Jonmy responde soltando-me.

Dou um meio sorriso para ela e abaixo o olhar. Vê-la sofrendo sem saber se ele estava ou não meio das 40 pessoas estava me deixando desesperada.

-Ja que vocês não poderão ir para casa por causa da estrada, que tão jantar aqui?- Amarildo pergunta tentando mudar o clima que ali estava.
-Acho que não temos outra opção.-Jonny responde sorrindo de lado.

Para pai de Luan, Amarildo estava tranquilo, ele transmitia calma, e esteve o tempo todo tentando tranquilizar a esposa e a filha.

-Deve estar se perguntando porque estou "calmo".-Amarildo fala sentando-se ao meu lado.

Por Um Acaso | Luan Santana Onde histórias criam vida. Descubra agora