1. Diana Archemi

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OS CHOQUES paralisaram Diana Archemi por alguns segundos. Droga, droga. Retirou o visor e o arremessou na escrivaninha. A adrenalina subiu e o coração batia acelerado. Levara leves cargas elétricas no peitoral e o braço esquerdo parecia anestesiado. Levantou do chão e desativou o link que a ligava à rede do jogo. Tirou as luvas e o macacão second skin, que a faziam ter outras vidas na virtualidade, e os colocou na poltrona.


Nem em segundas vidas obtinha sucesso. É uma praga, pensou. Adeus para Águia AC. Acabara de morrer com o braço decepado e um tiro no peito. Necessitaria de muito tempo até conquistar outro avatar com a mesma força e agilidade. Havia sido uma grande aventura viver através de Águia AC, que havia proporcionado liberdade e a coragem ocultadas em sua aparência frágil e esquisita.


Não conseguia imprimir na vida real o mesmo ritmo que conquistara com o avatar que tinha criado e acabara de perder. Não pertencia a gangues, nem lutava como uma assassina, experte em armas e explosivos. Ao contrário, tinha poucos amigos e era insegura, embora soubesse que algo diferente e forte habitava dentro de si, uma mulher que podia ser perigosa e selvagem, que era um contraponto ao seu modo apático de ser.


O som interfone arrancou Diana dos pensamentos. Levantou, apanhando a tela pessoal. Um homem chamava o seu apartamento. Desconhecia-o. O barulho da chamada enchia os ouvidos, então apertou o comando e atendeu.


Querida, Diana. Não me reconhece?


Silenciou para observar com mais atenção a imagem. A noite não a ajudava a identificar aquele rosto. Quem a procuraria uma hora daquelas?


— Sinto muito, mas não me lembro do senhor.

— Compreendo... – ele pareceu meio embaralhado. — Tenho notícias de seu pai. Pode abrir?

— Meu pai está morto... – estranhou, franzindo a testa encabulada.

— Num acidente de carro junto com sua mãe? Sabemos que essa não é a verdade. Pode abrir o portão para conversarmos?


O pânico devastou os sentidos. Ninguém conhecia sua história, exceto os tios que a criaram. Instantaneamente, veio à mente a cena de sua mãe morta, sangue, muito sangue e os lírios.


— Diana? – o homem reverberava seu nome.

— Vou... vou descer – gaguejou.


A notícia a hipnotizou. Vestiu os primeiros short e camiseta que apareceram à frente e prendeu os longos cabelos escuros e lisos num elástico. Rapidamente observou o espelho e percebeu que seus olhos verdes, herdados da mãe, carregavam uma dose de ansiedade e medo.


Diana entrou no elevador e à medida que descia, aterrorizava-se com o que aquele estranho podia lhe dizer. Afundar em seu passado dolorido era como picá-la em centenas de fragmentos que muito dificilmente se reuniriam, sabia daquilo já que vivia em pedaços.


Saiu, respirou fundo, e seguiu para a guarita eletrônica.


A sombra do homem se projetava mais ampla com a iluminação noturna da rua e, num rápido olhar, percebeu que devia ter em torno dos 35 anos. Ao se aproximar das grades, ouviu o tom vigoroso daquela voz, chamando seu nome.

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