3. Benjamin Jacob

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OS TREINOS na Academia Vida & Saúde seguiam intensos no fim da manhã daquela quinta-feira. Lá se ministrava aulas de Boxe, Jiu-Jitsu, Capoeira e Kung Fu. Tinham programas que mesclavam duas ou três modalidades e ofereciam opções para treinos. A academia funcionava nos três turnos, das cinco horas até às vinte e três horas e possuía uma média de novecentos alunos matriculados. Mas por causa do ataque, há dois dias, tinham resolvido suspender as aulas noturnas até a segunda-feira seguinte.


Às vezes, o espaço lhe lembrava uma caverna de tão pesado acabamento. No térreo, logo após a recepção, ficava o salão amplo com os aparelhos para exercícios. À direita, dava para a entrada do escritório, um pouco mais à frente duas salas espaçosas, com equipamentos específicos para as aulas de luta. Acima do mezanino funcionavam outros três estúdios. Rampas rolantes e escadas normais, situadas no fim das entradas para as salas térreas, permitiam o acesso ao corredor superior. Tudo com paredes e teto na cor cinza e piso em pedras negras. Após o sopé das rampas já se avistava à esquerda, amplos toaletes. Abaixo do mezanino, construíram a lanchonete, com cadeiras e mesas, máquinas de lanches e bebidas naturais. Nessa parte, o acabamento era em pedras envernizadas, que mesclavam a cor cinza com o azul claro do revestimento e nas paredes.


O aspecto parecia quase monocromático e melancólico, como o coração de Benjamin Jacob.


Além de administrar a academia, dava aulas de defesa pessoal, era mestre em Capoeira, luta própria daquela terra, de um gingado peculiar que proporcionava agilidade e flexibilidade ao corpo. Por muitas décadas, tinha se dedicado ao aprendizado de artes marciais, intensificado após o embate com Mikah Rother.


O ataque do líder dos guardiões de Sorya foi um divisor de águas em sua vida, entre a ação e a apatia, entre a crença e a crueza da realidade. Conseguir um lugar ao sol, com guardiões no calcanhar, fora difícil, na época. Tinha trabalhado para humanos como segurança, instrutor e se diplomara em Educação Física.


O fato de pescar pensamentos humanos, também o ajudara em negócios corretos e que renderam algum dinheiro. Finalmente, quando havia juntado certa quantia, em parceria com Beto Lopez, começaram o empreendimento da Vida & Saúde. Coincidência ou por atração, híbridos trabalhavam e frequentavam o espaço. Os híbridos, filhos de inativos sirianos com humanos, ignoravam a própria origem e agiam de forma comum.


O esforço dos sirianos em procriar com humanos da Terra conseguira gerar híbridos de segunda geração, ou seja, frutos de relações entre híbridos de primeira geração e sirianos. Eram nesses, com genes duplamente melhorados em que os interdimensionais do sistema Sírius acreditavam estar criando um exército libertador e evolucionário capaz de retirar a humanidade da cobiça desse mundo, da expiação e desse cabo à expansão dos axeanos.


Pessoalmente, preferia evitar camaradagem com inativos sirianos, exceto os membros da Irmandade dos Nove. Já os inativos axeanos, raça falsa e interesseira, naturalmente se esquivavam dos sirianos. Provavelmente, o fato de seu povo ler mentes causasse pavor aos répteis axeanos.


A depender do grau de atenção, num raio de até cem metros, reconhecia cada raça devido à percepção da aura e da vibração emitida pelos corpos, pela essência vital de cada um. Era como se cada ser vivo emitisse uma música pessoal, quanto mais notas possuía mais evoluído deveria ser.

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