5. Diana Archemi

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UMA NÉVOA embaralhava a visão. O mínimo movimento provocava a sensação de que pesava toneladas. A mente perambulava em busca de resquícios de consciência. Toda vez que tentava focar em algo, retornava ao sono dos mortos. Esporadicamente, percebia um vulto estranho, andando ao redor e escutava uma voz feminina de palavras vagas. Era como se estivesse entrando numa nuvem cinzenta, um lugar sem passado, presente ou futuro, nas profundezas de um mar escuro. Não havia caminho, apenas o ermo de um nevoeiro, onde a lucidez tornava-se algo longínquo. 


Entre um e outro sono, ia, aos poucos, recuperando diminutas forças. As brumas começavam a dissipar-se vagarosamente. Em alguns momentos, os olhos conseguiam captar imagens míopes. Deitada numa espécie de cama de metal, sobre tecidos confortáveis, supôs estar dentro de uma bolha acinzentada, talvez um iglu ou ovo, sem portas. Percebeu alguém se aproximar. Tentou observá-la e falar, mas não conseguia focar-se. Tudo estava embaçado.


— Vai melhorar – o timbre feminino soava leve. Ela levantou o seu dorso e a fez beber um gole de um líquido sem sabor, colocando-a na mesma posição.


Mais uma vez, voltava às brumas cinzentas sem sol ou noite, imersa num silêncio sem fim, presa na névoa sombria. Tentava gritar, porém a boca não movimentava, era como se os lábios fossem de chumbo. Confundia-se. Adentrara numa neblina ou dentro de um ovo de metal? Adormeceu sugada para o mundo abissal da ausência, entregava-se à fraqueza.


Acordou com frio que causava tremores involuntários no corpo. O peso que a comprimia diminuiu drasticamente, em compensação os calafrios aumentavam. Queria aproveitar a oportunidade para levantar, só que não conseguia coordenar os movimentos. De novo, a estranha mulher surgia no ovo e, em silêncio, aqueceu-a com uma manta clara. Fitou-a e, ainda com uma visão distrófica, viu o seu rosto fino, em forma de triângulo invertido, que dava espaço para uma larga testa e a altura além da normalidade. "Aos poucos, ficará bem", dizia a mulher.


Em outros momentos, sentia-se nas profundezas do oceano, onde respirava. A angústia massacrava os sentimentos, e, como no nevoeiro das ausências, nem tinha para onde ir. Os movimentos eram lentos. Com esforço, olhou para cima e viu a luz do sol. Precisava emergir. A confusão mental a fazia sentir-se desperta dentro do mar de água quente, em que a temperatura subia a cada segundo. O fogo envolvia o corpo. Era como se o próprio sol a devorasse apesar de a pele não queimar.


A lógica se perdia. A agonia aumentava, mas continuava viva e inteira. Observou os braços flamejantes e a pele tornando-se uma tocha marinha, nas profundezas do oceano, queimada pelo fogo. O sangue fervilhava, o cérebro queria explodir. Continuava paralisada. Não conseguia determinar o tempo da agonia entre o mar e o fogo. De repente, algo mudou e inflava como um balão de borracha. Aos poucos, ia emergindo à superfície da água. Via o sol. Fixou os olhos no metal do quarto de iluminação estranha, dessa vez, com a visão clara.


Despertou dona de sua lucidez. Rapidamente, passou o olho no quarto, descobriu-se e sentou na cama, fitou ao redor incrédula. Aquele lugar realmente existia. Subitamente, os pensamentos começaram a girar e a memória surgiu em flashes muito rápidos. Recordou do trabalho, de seus perseguidores, da viagem com Mayra e Gabriel e de ter sido aprisionada por eles. Por que fizeram aquilo? Por que a abandonaram naquele lugar? Deitou-se observando o teto em abóboda metálica sem nenhuma junção. Perdeu a noção do tempo. Além dos delírios, houve apenas as visitas esporádicas daquela mulher alta e albina. Tocou-se e notou que usava uma túnica branca e longa, diferente do que tinha vestido na Ilha.

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