2. Josué Silva (Laymai Aiz)

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Quinta-feira, 21 de novembro de 2057.


O SOL QUENTE intenso invadira a janela do quarto, naquela manhã. Josué Silva havia acordado cedo e fora correr pela orla só de bermudas, sem se importar com a radiação solar. Atraía os olhares pervertidos das mulheres, mas nem aquilo o incomodara. O sol. Podia ter o sol que tanto regozijava e que o fazia sentir pleno e integrado aos seus iguais.

A alegria continuava inundando sua alma, desde o encontro com o governador, Thiago Fernandes, e parecia ouvir uma das antigas canções das Tersas. Se descobrisse mais sobre o siriano Mikah Rother, poderia ganhar destaque. Ah! Mikah Rother havia ajudado a destruir os Templos dos Sóis onde as Tersas viviam.

Vingança, os originais de sua raça queriam vingança, pensava naquilo enquanto caminhava para o laboratório secreto, expondo um sorriso misterioso na fase. Vestira-se com primor para trabalhar, com calças de pregas azuis claras e camisa branca com pequenas listras azuis, sapatos e cinto de couro.

As belas Tersas tocavam em louvor ao Senhor do Todo. Eram as criaturas mais belas e puras que já pusera os olhos, cujas canções inundavam os corações e elevavam as almas dos que visitavam o Templo dos Sóis, espaços de altas abobadas, fortes colunas brancas, quase um labirinto sem paredes, aonde a água límpida corria pelo chão de pedra. Nunca havia escuridão em Axen, quando um sol rumava para terminar seu ciclo no Leste, o outro nascia no Oeste. Era a visão mais linda que qualquer um podia ter, o céu azul ciano sempre limpo. Assim havia sido Axen, antes que a grande treva invadisse aquele mundo e a noite escura permanecesse para sempre. As Tersas, tão elevadas espiritualmente, foram as primeiras a sucumbirem, expostas às condições sombrias do clima, murchando como flores sem água.

Nunca esqueceria daquele passado, mas agora estava predestinado ao sucesso na Terra, sempre soubera daquilo e, na noite anterior, Thiago Fernandes o incluíra em planos grandiosos. Sorria, logo em seguida, a flexão nos lábios despareceu ao recordar de um detalhe sórdido. Não ouvira sobre Mikah Rother, como tinha contado ao governador, quem havia escutado fora um de seus pesquisadores subalternos, Salus Uxny, o inativo Silvio Matos, que revelara a história enquanto analisava novos tecidos que seriam utilizados numa transposição de corpos. Após aquele lampejo querer aplacar seu júbilo, recuperou-se: afinal que mal teria aquele pequeno delito!

Josué aproximou-se do laboratório que ficava dentro de uma escarpa próxima à estação de metrô, no centro da cidade. Ele era ligado a um grupo de pesquisadores axeanos, além de Silvio Matos, havia Tevi Vhial, que usava o nome humano de Sergio Marconi. Comandava uma equipe, porém preferia fazer os próprios experimentos sozinho e não dividia o laboratório com Silvio e Sergio. Eles trabalhavam em outro, a poucos quilômetros dali, também numa escarpa. As encostas no centro da cidade eram um lugar improvável para se manter um negócio fora da ordem normal do mundo, por isso instalaram-se lá.

Cumprimentou os dois maypes que ajudavam fingindo vender bugigangas próximo a entrada de seu laboratório. Usavam vestes simples e ficavam em frente de uma falsa porta frágil. Era um trabalho fácil ficar ali no sol forte o dia inteiro. Quer dizer, para o povo axeano.

Atravessou a porta velha, andou um pouco no escuro num percurso côncavo até alcançar a passagem de aço. Pôs sua mão no identificador e leitor de pin e a porta abriu. Lá, o ambiente era contemporâneo. A primeira sala era clara com uma poltrona de três lugares e a mesa touch da recepcionista.

— Bom dia, Carol. Alguma mensagem? – estava especialmente inspirado.

— Não, senhor – Carol parecia meio afobada, era uma morena de mais de trinta anos, e cabelos impecavelmente arrumados, que vestia roupas sóbrias e elegantes, como ele exigia.

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