6. Benjamin Jacob

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O MUNDO desabava. Diana Archemi desaparecera, não havia treinado na Academia Vida & Saúde, no dia anterior, e nem naquela manhã. Acabara de contatar o seu trabalho e descoberto que ela tinha faltado os últimos dois dias sem avisar. A preocupação com Diana era algo infinitamente pessoal que não compartilhava com os membros da Irmandade dos Nove, que enfrentavam uma espécie de arrebatamento pelo que estavam prestes a lidar. 

Seria ele, Benjamin Jacob, o único racional, que ponderava aquele resgate? Sabia que estava sendo um pé no saco dos amigos ao questionar a iniciativa de salvar a axeana e uma humana, porém precisava gerar a dúvida do que pensavam ser uma ação altruísta. Se dependesse de sua decisão não invadiriam o laboratório do axeano, mas como todos se envolveram, precisava apoiar os irmãos mesmo no perigo e em dificuldades.


Estava dividido, não conseguia focar-se totalmente naquela ação insana. O temor sobre o o destino de Diana pisoteava o coração. Só existiam três respostas. Ou ela fora tomada pelos sirianos, ou pelos axeanos, ou ainda, quem sabe, atacada pelo próprio pai, o que só aumentava o sentimento de culpa e impotência. Ela era uma peça importante para ambas às raças. Uma raridade. Pelo pouco que apurou, a moça tinha uma vida modesta e era contida. 


Se caísse nas mãos de sirianos inescrupulosos, Mikah Rother a usaria e bem conhecia os métodos, se fosse capturada pelo pessoal do governador, serviria para chantagear o Primeiro Comando. Os axeanos chegariam aos sirianos, através de Ghays, ou seja, Leo, que havia assassinado Simone. Lágrimas queriam surgir. Sim, emocionava-se ao recordar daquela pequena menina, de cabelos escuros e lisos, como os da mãe, ao sentar-se no seu colo para que assistissem uma animação. Ela adorava A Bela e a Fera, por pura ironia da vida.

Aflito por sua dor controlava-se para que os irmãos não percebessem, mas a atenção deles era absorvida por aquela empreitada, estavam focados. Em décadas de estadia naquele mundo, não houve um momento tão arriscado como aquele assalto ao laboratório do axeano de aura duvidosa, porque desafiariam a lei das raças para salvar uma mostrinha. A euforia do trio tecnologia era única. Conseguiram, no dia anterior, invadir o sistema de registros civis. 


Paulo já emitira uma identidade falsa, tornando-se o policial Natan Freire e apagara temporariamente o seu número de identificação do sistema. Uma ousadia desmedida logo para a Irmandade que priorizava a discrição. Os irmãos abandonaram as atividades cotidianas, eram seres de palavra e fariam a parcela que caberia ao grupo. Os médicos Theo e Laura Sarno e os irmãos Lisbeth Jensen, Beto Lopez e Klaus Mendes, Bruno Costa e os gêmeos Paulo e Fernando Lyra se mudaram para o esconderijo da academia e fizeram daquele espaço o centro dos últimos ajustes para a ocupação do laboratório axeano.

— Todos prontos? – Paulo fitava sem piscar a tela de modo que a tatuagem de Olho de Hórus de traços brancos na cabeça dele parecesse que o observava, em sua angústia abafada.

— Sim, estamos – Beto respondeu com sua jan branca. Com exceção de Paulo que se vestia à paisana como faria o irreal Natan, os outros usavam calças e blusas jan ao estilo siriano, justas ao corpo, mas confortáveis, nas cores brancas ou negras, calçavam botas flexíveis e levavam mochilas.

— Temos cinco minutos para atravessar o porão, para que os sete minutos de imagens falsas comecem a entrar no sistema do Departamento de Segurança do governo. Quando chegarmos ao ponto de encontro com Josué, da van, enviaremos o sinal para a troca das imagens ao redor do laboratório – Paulo repassou o plano. Ele havia locado uma van com o nome de Natan Freire.

— Ainda podemos repensar mais sobre essa ação... – ponderou numa pífia tentativa.

— Agora é tarde – Klaus o mirou friamente. — Somos fortes, maduros e unidos o suficiente para escolhermos nossos caminhos. O foco é invadir o laboratório, fazer a transposição da axeana e mantê-la entre nós. Já foi dito, e o que é dito, cumpre-se. Acreditem, o que nos ferir irá nos fortalecer ainda mais – rebateu Klaus veemente.

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