4. Josué Silva (Laymai Aiz)

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Sexta-feira, 22 de novembro de 2057.


JOSUÉ SILVA CHEGOU à governadoria bem cedo, naquela sexta-feira, como ordenara Thiago Fernandes, que lhe havia arranjado uma sala com uma mesa de madeira escura e cheia de apetrechos antigos. A cadeira estofada ficava de frente para a porta e atrás tinha uma janela com uma vista pouco requintada, que dava para o estacionamento e outros prédios de governo. Concreto, concreto era o que via e nada agradava. As prateleiras, na lateral esquerda da mesa, abarrotavam-se de notebooks e livros antigos empoeirados, o que detestava, tinha nojo de sujeira, mas teria que se acostumar ao que lhe causava repulsa.


Ainda não tinha compreendido a estratégia do governador. Por que teria uma sala dentro do governo se teria que desempenhar o papel de empresário? Thiago queria humilhá-lo até encontrar outro axeano ou assunto mais interessante para exercitar sua maldade, represada pela fachada de bom político.


O fim da tarde, do dia anterior, havia sido deprimente, um show de horrores, na residência de férias do embaixador Alexander Müller. Thiago Fernandes se mostrava o mais confiável dos homens, conversando idiotices com a siriana Lisbeth Jensen. Em certo momento, Lourenço fingira receber uma ligação e saíra para a varanda, e, em seguida, o chamara. Seguiram para próximo a um dos homens axeanos de Thiago Fernandes que carregava equipamentos no colete capazes de causar interferências caso o embaixador tivesse escutas entre as florezinhas tropicais.


— Caro Josué, é bom se entrosar com Nina, corte essa conversa sobre viagens. É morna. Pergunte se aceita sair. Impressione o governador.

— Sabe tudo, não é, Lourenço? Como vou fazer isso na frente dos pais, sem mais nem menos? Vou convidá-la para o quê? Um jantar romântico à luz de velas?

— Não tem vida social, Josué? Nem sei para que te deram esse corpo – enquanto o criticava, vasculhava o comunicador. — Bom, hoje tem um show no Parque..., mas é um programinha fraco para primeira saída. Deixe-me ver... acontece uma apresentação no Teatro Municipal às 21 horas. Esse é bom. O nome da peça é Vida. Elegante e impessoal. Depois a convide para jantar, mas nada de luz de velas. A conquista é feita aos poucos – Lourenço o fitara de esguelha. — Sabe nada sobre mulheres, Laymai Aiz.

— Qual é a sua? Agora é vira-casaca – acusara.

Lourenço observara o segurança.

— Estou tentando ajudá-lo. O governador vai gostar disso. Posso ser seu consultor, caso queira.

— Isso poderia ser menos ridículo. Que ousadia absurda vocês estão dando a essa siriana!

Lourenço fingira não ouvir o comentário. 

— Ah! Pode contar que a sua empresa está patrocinando o espetáculo Vida, porque uma de nossas empresas faz isso, o nome da empresa é Medipharma. Vá lá, diga isso que conseguiu quatro convites para as primeiras fileiras.

— Para quem são? Para os pais dela? Faça-me um chá de cana, como diz o povo daqui.

— Nunca se sabe o que Thiago Fernandes quer. Vá aprendendo... – dissera Lourenço de má vontade.


Ao se sentar, voltara-se para Nina que estava lá toda receptiva, sorridente, mexendo os cabelos loiros, com toda a branquelice do corpo roliço e de grossas coxas cruzadas, obedecendo como um cordeirinho.


— Nina, minha empresa patrocina o espetáculo Vida. Tem uma apresentação hoje à noite, no Teatro Municipal o que acha de ir? – voltara-se para o embaixador e a esposa. — O convite é extensivo aos senhores também.

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