OS GRANDES olhos amarelos de Theixa e o corpo esverdeado lacerado por horríveis machucados foram demais para ele. Desde que saíra do laboratório, naquele fim de manhã do sábado, o desespero tomou conta de seus sentidos como nunca ocorrera antes, desde que emergira. Havia colocado Theixa naquela situação, era o responsável pelas feridas causadas na alma e no físico dela. Nada que fizesse iria reparar aqueles danos, porém precisava livrá-la daquele aprisionamento. As atitudes que teve com Theixa iam de encontro ao amor que sentia, que na realidade era egoísta. Só tinha pensado em si e nunca nas consequências que poderia causar-lhe. Era um monstro.
Naquela manhã, os filhos da puta do Sergio e Silvio, os próprios demônios cristãos encarnados entre sua raça, havia feito a fertilização, inserindo em Theixa um embrião manipulado, no seu próprio laboratório, e ainda tivera que fingir indiferença frente à situação. Se fosse um original, iria dilacerar os corações de ambos, esfolar as couraças nojentas e mandar costurar capas, como as que Mentores vestiam dos antigos inimigos. Contudo, não tinha poder para nada.
Theixa possuía ferimentos por todo o dorso, um rasgão no ombro esquerdo e carregava luxações na cabeça. Torcia para que não tivesse sofrido nenhuma fratura. Havia implorado para cuidar daqueles machucados, mas, com altivez Sergio determinara que o axeano Sorvey o fizesse, e ele ainda ordenara que Theixa cantasse para eles. O que mais o chocou fora a tristeza e expressão de desamparo dela. As bochechas estavam retraídas, os lábios azulados, mortificados e o rosto angelical parecia congelado. Nenhum toque ou comentário a fazia sair daquele transe. Theixa estava ausente e aquilo o deixara preocupado. Mesmo assim, Theixa obedecera a Sergio automaticamente.
Os sóis são flores do universo/ nós cantamos seus versos/
a beleza dos raios dourados/ o céu eternamente iluminado/
Não deixem escurecer meu horizonte/ e nem a terceira tigresa nos encontrar...
Aquele cântico reverberava sem parar dentro de sua cabeça. Havia horas que dirigia o corvette vermelho sem destino, pensando em cada situação de agressões e maus tratos em que ela havia sido submetida. Tinha certeza de que Sergio e Silvio a machucaram por sadismo. Também acreditava que aquela fertilização poderia matá-la. Precisava livrar Theixa daquele implante, contudo não enxergava alternativas. O governador era o grande responsável por aquela tragédia. Um dia iria vingar-se. Mas primeiro precisava salvar Theixa. Não sabia como, porque não tinha mais acesso ao laboratório para fazer a transposição de corpo e Thiago Fernandes o mataria. Na verdade, nem se importaria em perder a vida, se ao menos deixasse Theixa em segurança. Essa era uma dívida de amor e precisa ser paga.
Lembrou-se da siriana Lisbeth Jensen que conhecera na casa do diplomata, Alexander Müller. Pegou um desvio no sentido orla. Poderia tentar conquistar o apoio dela, afinal tiveram uma boa conversa no foyer do teatro. Uma pouco de luz parecia espreitá-lo. Diziam que os sirianos tinham bons corações, embora seus controles fossem doentios pela ordem planetária.
Estacionou em frente ao edifício, saltou e foi vasculhando os dados da siriana e descobriu que tinha apenas o contato do comunicador de Lisbeth e não sabia em qual daqueles apartamentos ela morava. Devia ter apanhado todos os dados da siriana ruiva. Chateou-se. Chamou o número que tocou diversas vezes. Tentou outra vez e nada. Não desistiria. Que anoitecesse, falaria com ela. Fez outras angustiantes chamadas até que ouviu a voz da mulher.
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Mundos Secretos ⚠️ HIATO por tempo indeterminado ⚠️
Science FictionDireito Autoral AVCTORIS|| Essa é uma história sobre duas raças de aliens que habitam a Terra sem serem percebidos. Num futuro próximo, a geopolítica está modificada e os sirianos e axeanos se misturam aos humanos nativos e dão prosseguimento a suas...