3. Josué Silva (Laymai Aiz)

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QUANDO A LUZ penetrou pelas pálpebras semicerradas, Josué despertou zonzo. Vagarosamente abriu-as. Nem estava em seu apartamento e nem no laboratório. Respirou fundo e um forte dor trouxe de volta às lembranças do que havia acontecido. Theixa... Theixa lhe esmagara as costelas do corpo artificial.


Estava no laboratório dos pesquisadores axeanos Sergio Marconi e Silvio Matos. Era um dos quartos de repouso, com lençóis verdes, duas poltronas marrons e uma mesa afixada na parede verde clara. Passou mão no corpo e notou que eles o tinham operado. No seu laboratório também existiam quartos como aquele, só que eram rigorosamente brancos, que serviam para recuperação de inativos axeanos doentes e, principalmente, para o repouso dos que se submetiam a transposição de corpos.


Avistou Sergio e Silvio com jalecos de médicos observando-o. Silvio, o mais alto, estava com as mãos no bolso com a expressão calma. Sergio, mais roliço, aparentava inquietude.

— Como vai, amigo. Se sente melhor? – perguntou Silvio, um inativo de pele morena e cabelos escuros, em que ele próprio cultivou os tecidos e realizou a transposição.

— Acho que sim. O que houve? – Silvio se aproximou, examinando seu tórax.

— Theixa poderia tê-lo matado. Ela fez um grande estrago no laboratório. É uma serpente traidora – comentou Sergio, com uma soberba que mal cabia na estatura pequena e corpo rechonchudo. Era mais antigo que ele nesse mundo. Sergio se sentou na poltrona e Silvio o olhava com ar estranho. Percebeu que algo não estava bem e nem eram as costelas.

— Deveria ter feito a transposição em Theixa. Solonius não gostou de saber sobre o que aconteceu – contou Silvio.

Tomou-se de ira.

— Quem fez o favor de contar ao governador?

— Nós – o feioso axeano Sergio afirmou seguro. — Ela causou uma grande confusão e quase morreu – acrescentou o filho da mãe justificava.

— Como ela está? Como ela está? – gritou, levantou o torso e a dor subiu torturando-o. Fez uma careta.

— Preocupe-se com você. Theixa voltou à cela – contou Sergio.

Foi um alívio ouvir aquilo.

— São traidores. Por que avisar ao governador? Silvio, você... não aceito.

— Laymai, ensinou-me o protocolo que diz que assim que um original chega, deve ser iniciada a transposição de corpos. Há quanto tempo Theixa está aqui? Segundo sua secretária, tem quase dois anos na contagem dos humanos. Theixa está enlouquecendo – tentou explicar-se Silvio.

— Meu amigo, depois que você desmaiou, Theixa saiu da cela apanhou uma lança, soltou a exilada, subiu as escadas e ainda atacou Zazin. O pior de tudo ainda não sabe. Ouça, Theixa assassinou Zahur por tentar contê-la e foi encontrada sem forças no laboratório.

— A exilada... se ela falar... será tida como louca – pensou alto, com a face estupefata. Zahur morto por Theixa! Como ela pôde! Zahur instruía sobre a nova vida aos submetidos a transposição de corpos!

— Os maypes das imediações conseguiram recuperar a exilada. Só que gerou a maior confusão na estação do metrô. A polícia chegou, eles a acusaram de roubo. A humana rebateu que era mentira, que estava confinada. E os três foram para a delegacia. Solonius precisou intervir. Deu um jeitinho e a exilada foi devolvida para nós, até porque pela contabilidade do governo ela está oficialmente para além do Cinturão.

— Senhor do Todo... Theixa matou um ser de sua raça! E tentou salvar a exilada! – lamentou em desespero. — Zahur, meu homem de confiança...

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