SEIS

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Júlia Pinheiro

Essa menina com cara de anjo não merece viver desse jeito. Não mesmo! Na verdade ninguém merece viver essa vida.

Eu queria poder dissipar esse mal da Terra. Dar todas as crianças um lar, uma família, uma vida boa, de qualidade, com amor e carinho como toda criança merece.

Mas não tenho nem aonde morar, se pá tenho meu trabalho ainda. A vida é injusta! Se eu tivesse dinheiro eu pegaria todas essas crianças e morariam comigo.

Mas aí seria muita criança, eu iria ter que dividir meu tempo com todas elas e infelizmente alguma ia ficar sem a atenção merecida.

Talvez não seja uma ideia tão boa assim.

— Tá tiste tia? - eu pisco saindo dos meus pensamentos e encarando a linda menininha a minha frente

Ela é muito perfeitinha. Parece comigo quando eu tinha a idade dela. Eu também era assim, inocente. Saudades disso.

— Não, pequena, a tia não está triste não. - eu passo a mão pelos cabelos cacheados dela presos em um rabo de cavalo — Você gosta de sorvete? - ela afirma sorridente — Que tal a gente ir ali naquela barraquinha comprar? - eu aponto para um senhor que tem uma lojinha de sorvete

Ainda é a mesma sorveteria de anos atrás, mas está reformada. As cores são claras, alegres e com algumas bolas de sorvete.

— A tia disse que não posso aceitar nadas de estlanhos. - bom, pelo menos isso eles ensinam

— E se eu for falar com a tia? - ela afirma toda feliz e pula do banco

— Vem rápido, tia. - ela estende a mão pra mim e, quando eu coloco minha mão na dela, sou puxada até onde está a cuidadora da Casa

A mulher não deve ter menos do que quarenta anos. Cara fechada, com mal humor visível, possivelmente odeia o emprego e eu já fico temerosa se ela desconta isso nas crianças ou não.

— Tia Xanaaaa. - a pequena a minha frente grita em plenos pulmões, o que faz todos que estão na pracinha nos encarar

— É Jana, já disse menina. - eu não gosto do tom de voz dela, muito menos da raiva que brilha em seus olhos quando encara a Sol

— A tia Xúlia vai me compar solvete. - ela é um cosplay do Cebolinha

Eu já percebi que ela não fala as letras "r" e que ela também tem dificuldade em falar os "js". Mas nada que algumas idas ao fonoaudiólogo não resolva.

— Eu também quero! - meia dúzias de crianças começa a me pedir sorvete e eu arregalo meus olhos

— Se você comprar pra um vai ter que comprar pra todos. - a tal Xana, ou Jana, diz com cara de poucos amigos

— Tudo bem. - eu engulo em seco quando atravesso a pracinha em direção a sorveteria com um monte de pirralho

Marisol ainda segura minha mão por todo o caminho, eu fico encarando o jeitinho feliz dela e em como ela segura o girassol firmemente mas com cuidado.

Nós sentamos numa mesa da sorveteria e eu aceito todo mundo antes de me dirigir até o balcão onde a mesma atendente de anos atrás me sorri.

— Oi, eu vou querer uma bolinha de sorvete de chocolate. - ela levanta uma sobrancelha depois de encarar todas as crianças animadas atrás de mim — Uma pra cada.

— Elas não vão escolher os sabores? - eu dou de ombros

— Todas as crianças gostam de sorvete de chocolate. - ela afirma sorrindo

Thiago - Série Homens Perfeitos #3Onde histórias criam vida. Descubra agora