Júlia Pinheiro
— Os bolinhos estão gostosos. - eu falo de boca cheia e ela me repreende com o olhar — Desculpa. Mas realmente estão gostosos.
— Obrigada, mas fala só de boca vazia. - eu afirmo mas enfio outro bolinho na boca — Suas coisas estão no carro?
— Aham. - eu engulo a massa saborosa e tomo um gole de café bem quentinho — Gente, parece que eu não como algo gostoso assim a anos.
— Essa magrelisse aí é tudo falta de comida boa. - eu rio mas reviro meus olhos — Aquele carro ainda é o carro velho da Lurdinha?
— É sim. A Mimosa ainda me acompanha pra tudo quanto é lugar.
— Mas parece que ela não vai aguentar por muito mais tempo. - tia Nenê se vira e vê, através da parede de vidro, o quintal onde a Mimosa tá estacionada — Vai se preparando pra comprar outro carro, hein.
— Tia nem fala isso que eu já morro do coração. - eu coloco a mão no peito — Se a Mimosa der pt eu vou trabalhar como?
— Minha filha, não existe ônibus em São Paulo não? Metrô? Essas coisas de cidade grande? - eu afirmo — Então, faça como a maior parte da população e use o transporte público.
— Se alguém te ouvir falar assim vai me achar a pessoa mais fútil do planeta. - ela beija meus cabelos antes de sair da mesa
— Você não é, Júlia. Nem tudo que as pessoas acham sobre a gente devemos considerar válido.
— Tia Neusa a senhora tá escrevendo livro de alto ajuda? - ela franze a testa — Porque a senhora tá dizendo cada frase boa que minha nossa Senhora, hein.
— Eu leio isso tudo nas páginas que sigo no Instagram. - eu levanto minha sobrancelha e ela ri — Tá achando que sou velha demais pra isso?
— Tô é querendo os nomes dessas páginas, isso sim. - ela ri e começamos a conversar sobre como são essas páginas
Meia hora depois escutamos o telefone dela tocar e ela pede licença antes de sair da sala. Ela não me diz quem é mas eu tenho uma grande impressão de que é o filho dela.
Eu bufo e levo meu prato pra cozinha. Deixo tudo limpinho e nada de tia Nenê voltar, eu me dou a liberdade de andar pela casa e reparar em cada detalhe dela.
Me culpem por ser curiosa, sou assim mesmo, já faz parte de mim. Eu caminho até chegar na sala de estar da casa. Aqui é onde mais se teve mudança mas continua tão aconchegante quanto antes.
Eu caminho para ver as fotos dispostas numa linda prateleira de vidro com pés de mármore. São fotos variadas, de todo mundo, eu até me surpreendo ao ver a minha no meio delas. Mas não consigo frear meu corpo quando pego uma foto do Thiago nas minhas mãos.
É ele, eu sei que é pelo olhar. Ele está diferente aqui, não tem os cabelos grandes em forma de oca ou os dentes com os aparelhos ortodônticos, ele está sério mas bonito como sempre.
Não sei se é uma foto recente, mas ele ainda tem o rosto de menino. O mesmo rosto que povoou meus sonhos por todas as noites desde minha infância.
Eu nunca soube ao certo o que eu sentia por esse menino até precisar me confrontar. Ele sempre esteve na minha vida, como a irmã dele, e eu sempre o vi como irmão mais novo da minha melhor amiga.
Eu cuidava dele, sempre brigava com quem quer que ousasse machucar ele vc tanto física quanto emocionalmente. Thiago sempre foi uma imagem forte na minha cabeça, mesmo cheio de coisas que nos separavam, existiam mais coisas que nos aproximavam.
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Thiago - Série Homens Perfeitos #3
General FictionThiago Gonçalves sempre foi o mais tímido entre todos a sua volta. Quieto e observador, Thiago sempre se expressou através de seus desenhos. Ninguém dava nada por ele mas ele se tornou o maior nome da pintura do Brasil. Mas aí está a questão: ningué...