DEZOITO

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Júlia Pinheiro

Nunca pensei em me matar antes. Nem mesmo quando eu fui abandonada pelo meu pai adotivo. Nem quando eu me vi sozinha em São Paulo pela primeira vez. Ou quando eu descobri a traição do meu namorado. Nenhuma vez esse pensamento me ocorreu.

Muitas pessoas acham que suicídio é a saída, eu achava que homicídio era. Não me julguem, mas sim, eu pensei em matar meu suposto pai ou meu ex quando tudo aconteceu, mas me matar? Não mesmo.

A questão é que eu nunca senti o que eu estou sentindo agora. Ser traída, abandonada, me sentir perdida era algo normal pra mim, sentimentos ruins mas fáceis de serem superados. Mas esse sentimento? Não sei se um dia conseguirei superá-lo.

A questão é que não foi alguém que dizia me amar e não amava, que foi obrigado a me criar ou dormia comigo. Bom, não foi só isso, foi tudo junto.

Eu, mesmo depois disso, ainda tenho essa família como a minha família. Eu ainda vejo tia Nenê como uma mãe pra mim, ainda penso na Jamille como minha melhor amiga e o Best/Thiago como meu homem.

Minha cabeça já é ferrada, eu já tenho várias merdas nela, mas complicou nos últimos meses. Primeiro eu odeio um cara, vou pra casa da minha "família dos sonhos" e tenho bons momentos, depois esse cara me chama pra conversar e eu passo de ódio para uma paixão em uma conversa. Para o amor precisou apenas de algumas.

O pior é que eu entendo. Eu realmente entendo eles terem feito isso comigo. Eu entendo a traição, a mentira, o fingimento, todo o plano de vingança. Mas há uma coisa que eu não entendo. A falta que sinto deles.

Meu coração não quer acreditar, ele tenta me fazer pensar melhor, mas meu cérebro parece querer esfregar a cena em que eu descubro tudo na minha cara, porque ela se repete de novo e de novo, num lupping sem fim.

Mas, como pode ser mentira o que eu vi nos olhos dele naquela noite? Como alguém pode fingir tanto a esse ponto? Como ele pôde fazer isso comigo?

— Chorando outra vez, Júlia? - meu chefe me assusta e eu limpo meus olhos rapidamente — Já disse pra não chorar mais aqui, menina.

— Desculpa. - minhas palavras são sussurradas — Não vai se repetir. - é uma promessa vazia, nós dois sabemos disso

— Quero uma entrevista com a Luizy Levine até sexta. - ele se vira para voltar de lugar que veio mas só então eu acordo do transe

— A blogger? - ele faz um joinha sem mesmo se virar pra mim — Mas ela tá na África!

— A viagem que você tanto queria chegou afinal. - eu arregalo meus olhos — Se eu fosse você estaria me preparando pra viagem.

Eu fico no mesmo lugar mesmo depois que ele me lança um olhar duvidoso. Faz quase um mês que eu voltei das "férias" e essa é a segunda matéria que ele me passa. A minha primeira viagem a trabalho.

Eu coloco meus pertences na minha bolsa e saio do cubículo em que eu trabalho. Forço um sorriso algumas vezes para conhecidos e sigo meu caminho até o elevador do prédio. O prédio onde trabalho é um prédio comercial, há várias outras empresas aqui e a revista ocupa apenas um andar no terceiro piso.

Eu falo com seu Antônio, o porteiro do prédio, e reviro os olhos ao ver que o mesmo carro continua do outro lado da rua. Ele tem me seguido para todos os lugares desde que saí de Madalena. Não sei quem está atrás do volante mas sei que é alguém que trabalha pro Thiago.

Eu não faço nada dessa vez, acho que estou tão chocada com a minha primeira viagem a trabalho que eu só caminho em direção a pensão onde estou morando. Diferente da primeira vez que vi um carro me seguindo. Era o André que estava no carro quando eu bati na janela, eu o mandei embora mas ele disse que tinha ordens a serem cumpridas e não iria embora.

Thiago - Série Homens Perfeitos #3Onde histórias criam vida. Descubra agora