Thiago - Série Homens Perfeitos #3

VINTE E QUATRO

Thiago Gonçalves

Eu deveria ter negado essa merda mais uma vez. Deveria ter inventado uma desculpa. Deveria ter fugido, sei lá. Mas não. Fui obrigado pelos investidores, pelos meus pais. Até minha esposa me obrigou a isso! E aqui estou eu, arrumando minha gravata borboleta prestes a entrar na minha Galeria.

Foi a coisa mais idiota que eu já me deixei fazer. Sério? Um baile de máscaras? Mas foi o único jeito de não passar como um idiota total.

Eu olho para a mulher ao meu lado e tenho que me segurar no acento do carro. Essa mulher um dia ainda me causa um ataque do coração. Não é possível ser linda desse jeito sem nenhuma consequência.

Ela está linda. Todos os dias está. Até mesmo quando rouba minhas blusas e se enfia dentro daqueles pedaços de pano que chama de shorts e meia. Amo o jeito dela. Amo ver ela desarrumada dentro de casa. Fica ainda mais linda. Mas hoje, aqui do meu lado, ela está deslumbrante.

O vestido foi uma puta perdição pra mim. O tecido parece aderir a sua pele e fazer com que ela pareça a Jessica Rabbit. O tecido brilha conforme as luzes passam pela janela do carro. Seus olhos estão bem marcados e sua boca... Ah, sua boca está deliciosamente pintada com um batom vermelho. Sim, ela é a porra da mulher mais sexy que eu já vi na minha vida. Meu sonho erótico vivo.

— Pare de me olhar desse jeito, ainda não sei bem o porquê eu aceitei vir hoje.

— Porque você é minha esposa. - vejo o momento exato que a pele dela arrepia

O carro pode está escuro mas eu tenho minha visão aprimorada quando se trata da minha mulher, ou melhor, das reações que causo no corpo da minha mulher.

André não diz nada. Nem eu ou a Júlia. Na verdade ela tem ficado assim por longos meses. Faz dois que nos casamos, quatro desde que eu a toquei pela última vez e tem sido o meu maior inferno dormir ao lado dela sem tocar seu corpo como quero.

Mas eu tenho respeitado seu espaço, isso é o mínimo que posso fazer. Eu sei que errei, mas esse tempo todo em silêncio já é exagero. Ela já me perdoou que eu sei, só falta deixar o orgulho de lado e se permitir me amar outra vez.

Esse é o grande problema. Confiança. Júlia nunca foi boa em confiar nas pessoas. Minha irmã me contava várias histórias de como era difícil ela confiar em alguém e eu mesmo via isso quando estava ao seu redor. Mas a questão aqui é que sem a confiança dela não dá pra seguir essa casamento.

Eu tenho tentado. Deus é a prova de como eu tenho tentado. Me doei e continuo me doando para essa mulher todo o tempo que posso. Teve um dia que eu simplesmente tive que me trancar no meu atelier e chorar de frustração porque não via nenhum resultado de tudo que estava fazendo por ela. E isso durou mais tempo do que eu jamais quis admitir.

Me odeio por a ter magoado, mas sou humano. Errei mas pedi perdão. Me arrependo diariamente por a ter feito sofrer. Mas agora quem está fazendo o outro sofrer não sou eu. E, muito menos, estou fazendo propositalmente.

Olho pela janela e vejo que já estamos chegando na minha galeria. Consigo ver vários carros já estacionados na lateral e vários fotógrafos amontoados na entrado. Abutres.

Sinto medo. Deveria me envergonhar disso, mas não posso. É minha maldita doença. É como sou. Não posso me ajudar agora. É essa merda defeituosa que me privou de tantas coisas que só consigo me odiar mais e mais.

— Ei. - eu sinto a mão da Júlia deslizar pelo meu braço até que se entrelaça com minha mão — Thiago, olha pra mim. - eu uso a outra mão pra limpar a merda da lágrima que escorre pelo meu rosto — Amor, não fica assim, ok? Eu estou aqui.