ONZE

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Thiago Gonçalves

Ela me conta toda a história de sua vida, não em detalhes, não minuciosamente, não como eu gostaria de ouvir, mas me conta. E eu fica cada segundo mais apaixonado por ela.

Os olhos dela brilham quando ela fala da Solzinho. Nunca ouvi falar sobre nenhuma criança da Casa especificamente, minhas doações só me deixam saber que elas estão bem e estão sendo bem cuidadas, mas conhecer as crianças pelos olhos dela me dão outra expectativa.

— ... aí ela me disse que eu tinha cara de princesa. - Júlia sorri e eu a imito — Eu não tenho condições para aquela menina.

— Ela parece ser especial.

— Ela é. - os olhos brilhantes se tornam opacos por um segundo — Me dói saber que ela tem a vida como essa. - ela me encara por um segundo e eu acho que ela está decidindo se me conta do seu passado ou não — Eu também fui criada na Casa. - ela encolhe os ombros — Então eu sei o quão ruim aquele lugar é, a falta que um carinho faz e é por isso que eu encontro com elas na pracinha. Um carinho não faz mal a ninguém.

— Você vai na Casa ou só encontra elas na pracinha? - eu me vejo perguntando porque conversar com ela é algo natural demais

— Nunca voltei na Casa depois que fui adotada. Aquele lugar ainda me assusta. - ela ri — Nossa, tá tarde. - ela diz olhando pro pulso sem relógio e ri

— Muito pessoal? - ela afirma

— Nem parece que a entrevista era com você. - ela ri e levanta olhando uma última vez pra paisagem — Esse lugar realmente tira nosso fôlego, olha que paisagem linda. - eu afirmo mas não olho para a paisagem que vem lá de fora mas sim pra que tenho bem aqui

Júlia está com um vestido que acentua suas curvas mas nada obsceno. Eu não sou santo, já pensei nela desse modo mas juro que desde que eu a vi no meu atelier eu estou mais duro do que qualquer outra vez que eu já tenha ficado.

Eu não apenas gosto de ver sua beleza, seu corpo, o jeito como ela fica extremamente linda usando esse vestido, mas eu amo ver ela no meu lugar, no meu ambiente de trabalho. Vou ter um vislumbre dela aqui todas as vezes em que eu estiver aqui.

— Concordo. - ela me olha e me pega encarando ela, não posso refrear minha timidez ou deixar de sentir minha cara esquentar, mas sou grato pela máscara que a impede de ver isso

Essa máscara me deu algo que eu não pensei em ter hoje: coragem. Ela tirou minha vergonha totalmente e eu me tornei algo que sempre quis: alguém que vai além dos seus limites.

Eu dei em cima dela hoje, eu conversei com ela como se eu fizesse isso todos os dias - bem que eu gostaria honestamente -, hoje eu fui o cara que eu sempre quis ser e com ela. Com a mulher da minha vida.

— Eu tenho que ir. - ela diz isso mas parece tão difícil pra ela quanto pra mim se despedir

— Você pode voltar amanhã? - ela sorri afirmando — No mesmo horário?

— Que tal mais cedo? Aí eu poderia ver esse pôr do sol que você falou. - eu vejo o jeito em que ela fica tímida ao me falar isso, o jeito dela olhar pra própria barra do vestido e não para mim ou o jeito que sua voz fica mais baixa e suave — Mas se você não puder...

— Eu posso sim, sem problemas. - ela sorri e eu me levanto

Eu quero abraçá-la, beijar os lábios vermelhos dela, ou apenas fazer um carinho nos cabelos escuros como noite mas não o faço. Não posso forçar nada a ela, eu quero poder fazer tudo isso, mas quero que ela queira também.

— Meu segurança te busca amanhã. - ela afirma

Caminhamos até o sofá e ela pega sua bolsa, guarda o celular e depois me encara com espectativa. Não sei o que ela espera que eu faça agora, mas tudo que eu faço é sorri e oferecer meu braço para acompanhá-la até a saída.

Thiago - Série Homens Perfeitos #3Onde histórias criam vida. Descubra agora