VINTE

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Júlia Pinheiro

Eu congelo no pé da escada sentindo toda dor voltar com mais intensidade ainda. Jamille me encara com um olhar tão profundo que me sinto igual.

Eu amo essa garota. Minha melhor amiga. A irmã que eu sempre quis ter e tive. A única que esteve no meu lado nos meus piores momentos. Ela. Jamille Gonçalves. Eu não quero ficar mais um minuto sem ela, sem sua amizade, sem nossas conversas, sem a irmandade que compartilhamos. Estou vivendo um inferno e tudo piora porque estou brigada com minha melhor amiga.

- Eu sei que você ainda está chateada comigo e eu entendo isso, eu entendo seu lado e respeito também mas eu estou aqui como médica. - ela levanta a maleta preta que carrega - Mais depois vamos conversar.

- E se eu não quiser conversar com você? - eu pergunto petulantemente e ela bufa

- Eu te dopo com analgésicos e te obrigo a me ouvir. - ela dá de ombros como se ela não falasse nenhum absurdo e eu acabo rindo - Sente ela naquele sofá ali, André, por favor. - eu sou levada até o sofá pelo André e me sinto a maciez quando minha bundinha magra encosta em seu assento

- Obrigada André. - ele afirma e me deixa sozinha ao lado da minha amiga

Ainda penso nela assim, ainda sinto ela assim, ainda quero ela assim. Minha amiga, desde quando me conheço por gente. Eu não quero que uma briga mude isso. Tudo bem que ela mentiu pra mim, mas eu também menti pra ela. Eu não disse que amava o irmão dela então estamos quites.

- Isso começou quando? - ela caminha até estar a minha frente

- Isso o quê?

- As dores, ué. - eu dou de ombros e ela belisca minha bochecha levemente - Me responde direito, Vitória!

- Assim que pisei no avião na minha volta. - ela afirma e tira o estetoscópio da bolsa

- Comeu alguma coisa diferente por lá? Tipo, alguma comida típica? - eu nego dando de ombros

- Não tô com muita fome ultimamente, eu comi um hambúrguer, eu acho. - foi até com a Luizy que eu comi, ela comprou para nós duas enquanto conversávamos

- Alguma dor além da cólica intestinal? - eu franzo a testa - Não é isso que está sentindo? - eu dou de ombros

- É tipo isso, mas não fui ao banheiro para fazer alguma coisa além de vomitar meu fígado. - a incoerência do que eu falo faz com que ela revire os olhos e eu sorrio discretamente

- Pode ser um vírus de gripe normal, mas pode ser um vírus mais perigoso. Por isso você tem que fazer um exame de sangue amanhã cedo. - eu afirmo e ela pega uma pequena espátula de madeira dentro de um potinho - Faz "aaaaaa". - eu coloco a língua pra fora repetindo o som que ela me pede - Tudo normal por aqui. - eu afirmo fechando minha boca - Sua dor melhorou ou precisa de uma outra dose de analgésico?

- Minhas pernas ainda estão dormentes, minha cabeça está rodando e eu ainda tenho a sensação que vou desmaiar a qualquer momento. - eu dou de ombros - Tô bem por hora.

- Certo. - ela respira fundo guardando suas coisas

Jamille perdeu toda aquela confiança que tinha quando chegou, agora parece tão incerta que me dói, mas eu quero que ela fale comigo. Quero conversar com ela, esclarecer as coisas, colocar todas as nossas cartas na mesa. Melhores amigos não deveriam ter esse tipo de segredo.

Eu fico esperando ela falar mas ela não fala. Na verdade, depois que ela guarda as coisas dentro da mala, ela senta ao meu lado e olha para as mãos. Eu respiro fundo percebendo que eu vou ter que começar a falar aqui.

Thiago - Série Homens Perfeitos #3Onde histórias criam vida. Descubra agora