19. Revivendo as confissões

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Ás onze e meia, Carlos parou o carro em frente a casa de Lisbela.
- Me diverti muito hoje. - Carlos abraçou-a - E você? - Perguntou junto ao ouvido dela.
- Também me diverti. - Lisbela sentiu um leve arrepio pelo corpo ao sentir um beijo no pescoço. - Carlos, eu...
- Precisa entrar? - Perguntou rindo.
- Isso mesmo.
- Só mais um beijo?
- Só um beijo. - Cobrindo seus lábios, Carlos beijou-a, e suas mãos acariciaram-lhe as costas.
- Carlos... - Ela afastou-se.
- Tá certo.
- Até amanhã. - Falou abrindo a porta do carro.
- Espera... - Ele saiu do carro e abriu a porta para ela e ajudou-a. - Até amanhã. - Disse soltando a mão dela e voltando a entrar no carro.

- Boa noite querida! E então como foi o jantar? - Perguntou Olga que estava sentada no sofá vendo televisão.
- Tia, eu disse que não precisava me esperar! - Reclamou.
- Eu estava sem sono filha e esse programa é muito bom, - Respondeu - Mas, como foi?
- Muito bom tia, o Carlos é uma companhia agradável e super divertido. - Lisbela respondeu acomodandando-se ao lado dela no sofá.
- E esse namoro de vocês, é sério ou você só está fazendo isso para se afastar do Érick?
- Não posso mentir para a senhora, eu inventei esse namoro quando o Érick me perguntou o que havia entre mim e o Carlos,  - Envergonhada  ela desviou o olhar - Mas hoje o Carlos me pediu uma chance para conquistar meu coração e transformar o que era fingimento em realidade.
- E o que você respondeu?
- Eu aceitei...
Olga acariciou-lhe o rosto - E  como você está se sentindo?
- Eu estou bem tia, gosto do Carlos, ele gosta das mesmas coisas que eu e com o apoio dele tenho esperança de finalmente conseguir...
- Esquecer o Érick?
- Não tia, jamais conseguirei esquecer, mas pretendo guardar esse sentimento no meu coração e aceitar o carinho que o Carlos me oferece.
A conversa com a tia, como sempre a fez sentir-se aliviada, não podia e nem queria continuar mentindo para Olga que era uma mãe para ela.
Algumas horas depois, Lisbela ainda estava acordada, afastando os lençóis, levantou-se e foi para a cozinha. Na geladeira, encontrou uma apetitosa torta de maçã, uma das especialidades de Olga.
Depois de comer duas fatias da torta que estava muito saborosa, Lisbela terminava de lavar o prato e o talher que usara e não percebeu que alguém entrava na cozinha.
- Você realmente não perde esse hábito! - Érick falou bem perto dela.
- E você não perde esse hábito de me surpreender! - Reclamou Lisbela afastando-se dele - O que você quer Érick? - A frieza em sua voz o fez se afastar também.
- Quero conversar.
- Sobre? - Lisbela fingiu indiferença.
- Sobre nós. - Respondeu dando um passo na direção dela.
- Não existe " um nós ". - Disse ela e fitando-o - Vamos encarar a verdade Érick, se você realmente quer ficar ao lado da sua noiva, ser um bom marido e principalmente um pai presente para o seu filho e fazer sua família feliz... - Ela andou até a mesa e puxando uma cadeira, sentou-se  - ...Nunca mais poderemos falar sobre nós. - Completou.
- E eu quero fazer tudo isso, - Respondeu ele puxando a cadeira ao lado dela e sentando-se também - Mas não consigo ficar longe de você outra vez. - Olhou para as próprias mãos, depois voltou a olhar para ela - Há seis anos eu não tive coragem de admitir o que sentia por você, nem para mim mesmo, - Esboçou um sorriso triste - Deus sabe o quanto eu quiz voltar pra casa no dia em que você foi embora e falar com o seu pai, contar que eu também estava apaixonado por você e implorar que ele não te levasse pra longe e que permitisse que nós ficássemos juntos...Mas fui um covarde... - Sua voz estava carregada de remorso - ...Eu pensei que se ficasse longe de você eu esqueceria, acreditei que conheceria outra garota, me apaixonaria e quando nos encontrassemos novamente, eu te veria como a minha irmã caçula, a quem amaria e protegeria como deve ser, - Fez uma pausa - Mas nada aconteceu como eu esperava... Os dias começaram a passar lentamente, quando eu voltava da faculdade... - A dor em seu olhar comoveu Lisbela, mas ela continuou calada - ...Era doloroso, a minha mãe não estava aqui, você não estava aqui... e eu me sentia perdido, sem as duas pessoas que mais amava... - A lembrança trouxe-lhe lágrimas aos olhos e ele fechou os olhos para evitar que elas caíssem - ...E diferente do que acreditei, não consegui me apaixonar...
Lisbela levantou-se e o fitou incrédula - E o que me diz da Carolina? Porque para vocês estarem noivos e ela estar esperando um filho seu, certamente, paixão foi o que não faltou entre os dois! - Acusou-o.
- Bela... É complicado.
- Então por que você não me explica, eu acho que sou capaz de entender.
- Quando conheci a Carolina, por mais que eu tenha admirado sua beleza, não me interessei por ela, por algum tempo a ví apenas como a sobrinha de um cliente. Então percebi que ela estava interessada em mim e saímos  para jantar...
- Quer dizer que você não se interessava por ela e o jeito que encontrou para resolver isso foi convidá-la para jantar? - Perguntou sarcástica.
- Na verdade ela me convidou, mas eu queria conversar com ela e explicar os meus sentimentos. A Carolina é muito legal e disse que ficaria feliz em ser minha amiga, aos poucos nossa amizade foi ficando mais forte, saíamos juntos e conversávamos sobre tudo...
- Inclusive sobre mim. - Falou Lisbela com tristeza, era doloroso ouvi-lo falar como o seu relacionamento com Carolina começou.
- Sim, inclusive sobre o meu amor por você. Após um dos nossos encontros aconteceu um beijo... - Ele deu-lhe as costas - ...Depois daquele beijo eu decidi tentar... Pensei que com o tempo me apaixonaria pela Carolina e... - Ele parou de falar.
- E me esqueceria? - Por mais que entendesse o desejo dele de esquecer um amor, que agora Lisbela compreendia que estava fadado ao fracasso desde o início, seu coração ficava apertado só de pensar que ele queria esquecer dela.
- Mas eu não consegui... - Ele voltou-se para ela - ...Aconteceu justamente o contrário, quanto mais eu tentava te esquecer, mais você se tornava presente em meus pensamentos... - Ele deu alguns passos e parou bem próximo dela - ...Eu passava os dias relembrando o nosso beijo e as noites... - Ele tocou-lhe o rosto e sentiu a maciez da pele dela, Lisbela fechou os olhos para que o seu tato ficasse aguçado e pudesse sentir o toque dele intensamente - ...Eu sonhava que te tinha em meus braços... - Ele aproximou-se e sua testa encostou na dela - ...Que nós fazíamos amor, como naquela noite... - A lembrança dos momentos que passaram se amando fez aumentar o desejo de ambos - ...Bela...
- Érick... - Sem conseguir se conter, ela o beijou.
Sentir os lábios dela contra os seus fez Érick abraçá-la e retribuir com tanta intensidade que seu corpo reagiu de forma ardente.
- Bela... - Ele disse de encontro aos seus lábios.
- Não... - Ela respondeu ofegante - Nós não podemos Érick... - Porém não se afastou dele.
- Tudo o que eu mais quero agora é te levar para o meu quarto e te amar... - Disse olhando-a cheio de desejo.
- Eu estaria mentindo se dissesse que não quero isso tanto quanto você, - Ela acariciou o rosto dele e Érick soltou um gemido. - Mas você e eu escolhemos dar uma chance para um novo amor e assim como seu casamento com a Carolina é uma realidade, o meu namoro com o Carlos também é... - Ela afastou-se dele - ...Então vamos parar enquanto é possível e fazer o que você tentou todos esses anos, se nos empenharmos, se mantivermos distância e principalmente, se o que aconteceu agora, - Ela levou a mão aos próprios lábios - Não voltar a acontecer, nós conseguiremos superar.
- Levou muito tempo, mas hoje eu sei que nunca vou te esquecer. - Garantiu ele.
- Nós não precisamos e nem poderíamos esquecer. Quando eu disse superar, me referia ao fato de podermos gostar de outras pessoas e passarmos momentos felizes com elas, se o que sentimos um pelo outro, não pode ser "esquecido", pode ser guardado em nossos corações.
- É isso mesmo que você quer? - Ele deu um passo na direção dela, mas parou quando ela fez um gesto com a mão.
- Sim Érick, eu quero ser feliz e também quero te ver feliz e cheguei a conclusão que isso só será possível se nos distanciarmos, mesmo que moremos na mesma casa, podemos manter distância e impedir que magoemos a sua noiva, o meu namorado e também a nós dois, insistindo em algo que sabemos, é impossível e jamais nos será permitido. Desculpe pelo beijo, - Pediu - Mas eu precisava te beijar mais uma vez. - Justificou-se.
- Não se desculpe, eu também quiz esse beijo... - Ele passou a mão pelos cabelos - E pode ficar tranquila, se você não quer que isso volte a acontecer, não voltará. - Olhou-a por alguns segundos e depois, baixando o olhar, passou por ela e saiu da cozinha.
Lisbela foi até a cadeira e sentando-se, tocou mais uma vez os lábios, nos quais o sabor do beijo ainda estava presente, encostou a cabeça na mesa e chorou.

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