Utopia

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Devon pigarreou incomodado diante do clima que se instalara após Marie trocar de roupa e encontra-lo no estacionamento. Ela não o encarava, apenas respondia a tudo de forma monossilábica. Por mais que o empresário pensasse não conseguia encontrar uma resposta para a forma como sua esposa se comportava. Quando ela sentou ao seu lado no carro, esperou que ela sorrisse e questionasse o motivo dele ir encontra-la, contudo nada disso ocorreu. Marie permaneceu calada durante todo o percurso e, quando finalmente chegaram ao restaurante, ela se prestou a sorrir para o garçom como cortesia e educação, ignorando Devon completamente.

― Isso tudo é por ter atrapalhado seus planos com ele? – Devon indagou frio ao beber a agua gelada que o garçom colocou em sua frente.

― Sobre o que está falando? Finalmente ficou louco? – Deu de ombros ao desviar o olhar aparentando indiferença diante dos pensamentos insensatos do homem sentado a sua frente, enquanto indagava-se o quão tolo Devon conseguiria ser para elogiá-la somente quando ela era outra pessoa. – Não sei quais são seus planos, mas não comece a imaginar que sou uma traidora. Estamos casados e querendo ou não, sou do tipo honesta, infelizmente. – Cruzou os braços em frente ao corpo ao encará-lo. – E porque foi até o estúdio?

A curiosidade crescia a cada segundo, pois por mais que pensasse não conseguia identificar os motivos que levaram Devon ir até ela, já que para a princesa, Devon se caracterizava como um homem frio que não se importava com nada além de dinheiro.

― Prometi que iria conhecê-la melhor – Revelou incerto, por ainda não compreender seus próprios motivos. – Acredito que almoçar juntos e conversar seja uma boa forma disso acontecer, não acha?

― Sim, é – O olhou, desconfiada – Mas sabe que esse restaurante é caro, não é? – Olhou em volta ainda deslumbrada pela estrutura moderna, as poucas mesas disponíveis e os uniformes elegantes dos funcionários. – Não sei se você tem problemas financeiros ou se é apenas mesquinho, mas esse lugar é realmente caro.

Devon se viu sorrindo levemente ao levar a mão até seus lábios com o intuito de esconder o seu sorriso.

― Não se preocupe com isso. – Disse por fim ao olhar para o cardápio, concentrado. Marie continuou o olhando por mais alguns minutos até suspirar voltando sua atenção para o cardápio a sua frente. Escolheu um dos pratos mais caros esperando que Devon falasse alguma coisa, mas ele permaneceu indiferente. – Sempre usa roupas naquele estilo? – Perguntou a encarando tentando identificar a emoção que passou pelos olhos dela assim que ela piscou. Devon sempre se considerou um homem astuto para ler as expressões das pessoas, e por isso, seus negócios prosperaram tão rapidamente, contudo a mulher sentada a sua frente conseguia esconder suas emoções com extrema habilidade, o que lhe fez questionar internamente os motivos que a levaram a ser daquela forma. Para ele, Marie nunca precisou se preocupar com nada por ter nascido em uma família rica e famosa como a família real francesa, mas admitiu o quão ficou impressionado ao descobrir que ninguém a conhecia realmente, e que apenas em seu aniversario de dezoito anos que finalmente tiraram uma fotografia dela, revelando-a como a princesa que jamais havia mostrado o seu rosto.

― Costumo usar vestidos que valorizam o meu corpo, se é isso que perguntou – Respondeu mal humorada ao pegar o copo em sua frente, bebendo a água em um só gole. A presença de Devon a deixava desconfortável por inúmeros motivos, e o principal deles era por ele estar tentando conhece-la melhor quando ela se sentia insegura sobre tudo. Sua vida se transformou rapidamente, afastou-se de sua família, casou-se com um desconhecido que a abandonou após o casamento, arranjou um trabalho que a satisfazia, mas que não poderia revelar a ninguém a sua identidade.

― Não precisa ficar na defensiva – Falou calmamente antes de fazer um sinal para o garçom pedindo um vinho tinto. – Estava apenas curioso. Aquela foi a minha primeira vez entrando em um estúdio – Revelou ao manter seu olhar nela percebendo a forma como seus braços se descruzaram assim que ele comentou casualmente. – Imagino que tenha se sentido desconfortável com a minha presença. – Ele esperou que ela negasse, contudo Marie permaneceu em silêncio, fazendo-o desviar o olhar, arrependido por ter pensando em dar uma chance a sua esposa. Uma chance de conhece-la e parar de julgá-la de forma tão preconceituosa. – Provavelmente estava errado em pensar que esse almoço seria uma boa ideia – Ele murmurou pesaroso ao imaginar a quantidade de documentos que precisaria ler e assinar quando retornasse para a empresa. – Se deseja, pode sair. Não vou me incomodar – A forma fria com que falou fez Marie finalmente o olhar apropriadamente, e pela primeira vez, a princesa percebeu desconforto nos olhos de Devon.

A Princesa [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora