O sorriso do rei

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CAPITULO 1

França – 2016

O som de passos indo contra o piso sempre fazia com que um sorriso brotasse no rosto da segunda princesa da França ao correr pelo palácio. A calça jeans que vestia moldava o seu corpo fazendo-a parecer atraente aos olhos dos guardas que permaneciam em pontos estratégicos. Os guardas sempre desviam o olhar quando ela passava, por medo dela perceber algo. A princesa era conhecia pelo seu temperamento genioso e sorriso gentil.

Os cabelos loiros da princesa caíram em seus olhos assim que parou em frente a uma das portas dos aposentos do palácio na ala norte. A ala reservada para os membros do parlamento quando iam visitar o rei.

A jovem abriu a porta abruptamente e sorriu assim que viu o jovem se levantar da cama, caindo no chão assustado.

― Deveria parar de fazer essas coisas Marie – O jovem de aparência cansada falou ao levar a mão até seus cabelos castanhos, bagunçando-os. – Não vai ficar bem se continuar entrando assim no quarto quando estou sozinho.

Marie revirou seus olhos castanhos ao colocar a mão em sua cintura antes de avançar pelo quarto, e se sentar na beirada da cama. O quarto possuía duas camas de solteiro, uma pequena mesa para colocar notebook, um guarda roupa embutido e uma porta que dava acesso ao banheiro.

― Fala como se estivemos no século dezoito e eu fosse uma criança e você algum tipo de bandido. Todos sabem que nos conhecemos desde pequenos e que veio acompanhar o seu pai. – Sorriu ao olhar para o seu amigo, Louis Rolins, o filho do primeiro ministro da França. Sempre que possuíam alguma festa no palácio, deixavam os quartos da ala norte prontos para serem usados pelas visitas. – E hoje fiz dezoito anos, finalmente – Sorriu orgulhosa.

― Parabéns – Sorriu ao se sentar no chão sem conseguir deixar de admirar a jovem a sua frente. – E como andam as coisas com seu irmão?

Marie desviou o olhar, incomodada. Por mais que amasse o seu irmão, ainda não conseguia entender o motivo dele se manter arrisco, afastado e a olhar como uma ameaça. Ele havia mudado com ela já fazia dois anos.

― A mesma coisa – Deu de ombros após suspirar – Pierre parece me ver como alguma ameaça. – E ao olhar para o semblante de Louis imaginou o motivo de sua confusão. Ela também não conseguia pensar em uma razão para ser vista como ameaça – Meu irmão tem estado sob estresse tem um tempo. Ele vem discutindo com meu pai, talvez seja por isso. Eu prefiro pensar que o motivo é esse.

― Ás vezes é bom se enganar – Murmurou surpreso, ao ver o semblante entristecido de Marie. A jovem a sua frente dificilmente demonstrava uma expressão como aquela, pois sempre mantinha um sorriso na face. – Está animada com a sua festa de aniversário? – Perguntou tentando mudar de assunto esperando ver o seu sorriso característico, contudo ela se resignou a desviar o olhar. – Você adora festas.

― Eu sei, mas meu irmão anda muito estranho sem falar o meu pai.

― O rei está estranho? – Aquela informação era nova para o jovem. Ele jamais vira ou ouviu falar sobre o rei mudar a forma como tratava a sua filha. Ele a paparicava sempre mais do que precisava. – Não é sua impressão? Talvez esteja armando alguma surpresa e não queira soltar alguma coisa.

― Isso pode ser verdade – Se viu falando ao sorrir levemente – Você realmente sabe como elevar meu humor. E o que vai me dar de presente?

―O que deseja ganhar?

― Que tal um beijo? – Perguntou após alguns segundos, gargalhando ao ver a expressão de seu amigo – Fizemos isso uns dois anos. Foi divertido, não deveríamos repetir? – Sorriu largamente.

― Está brincando comigo, não está? – Perguntou sem ao menos fingir surpresa. Marie sempre brincava com ele daquela forma, lhe dando esperança. – Algum dia, realmente vou acreditar e te beijar.

― Será? – Piscou atrevida. – Mas é verdade que tivemos um tipo de lance dois anos atrás. Foi divertido – Cruzou os braços em frente ao seu corpo – Só que é sempre melhor manter a amizade, não acha?

Louis concordou antes de abaixar a cabeça. Ele simplesmente concordara por temer não poder continuar próximo dela.

― Você está sempre certa – Ergueu a cabeça sorrindo – Além do mais, já sabe quem vai te acompanhar na festa? – Um dos costumes das festas no palácio era ir acompanhado por alguém mesmo que fosse uma festa de aniversário.

― Estou olhando para a pessoa – Levantou e respirou fundo – Preciso ir enfrentar meu pai agora, me deseje sorte.

― Boa sorte! – Gritou assim que a viu ir para a porta. Sempre que ela se afastava, Louis fechava os olhos para sentir o seu perfume com mais exatidão. – Flores. Sempre cheirando a flores. – Deitou no chão, fechando os olhos em seguida. Aquela noite seria realmente uma longa noite. A última que poderia compartilhar com ela durante algum tempo, já que iria para a universidade em outro país. – Será que ela vai ficar triste quando descobrir?

***

Três batidas exatas na porta antes de girar a maçaneta. Esse era um ritual – estranho – que ela compartilhava com o seu pai desde que era pequena. Abriu a porta com cuidado, pela primeira vez em anos, antes de entrar no escritório do rei da França, e sorrir assim que ele colocou os papeis que lia na mesa e a olhou com carinho.

― Está muito ocupado? – Perguntou séria temendo que ele a mandasse voltar outra hora. Ela pretendia discutir seu futuro naquele momento com ele.

―Para meu pequeno raio de sol nunca – Ele sorriu. O rei da França, Robert Vitorino Orleans, possuía cabelos loiros agora grisalhos, olhos verdes e um sorriso suave. Muitos o chamavam do rei mais gentil que a França já teve. – Quer sentar no meu colo ou prefere um cafune? – Perguntou fazendo a princesa sorrir. Desde pequena, ela se refugiava no escritório dele para ser mimada.

― Na verdade queria falar sobre o meu futuro. – Fechou a porta atrás de si, caminhando a passos firmas até uma cadeira em frente a mesa, se sentando – Hoje faço oficialmente dezoito anos, e não posso continuar com aulas particulares no palácio. Meu irmão foi para bons colégios mesmo estudando aqui, enquanto eu não saia muito. Não estou reclamando, mas quero algo. Quero fazer algo.

Robert tentou sorrir ao olhar para a sua filha, sem sucesso. Ele se sentia culpado demais pelo que fizera pelas suas costas. E se sentia fraco demais para contar a verdade.

― Deseja estudar? – Ela assentiu entusiasmada. – Já sabe o que?

― Bem, estava pensando em relações internacionais. – O modo como seus olhos brilharam o fizeram se sentir pior. – O que acha?

― É um curso muito bom, mas vamos conversar sobre isso após a sua festa.

― Não fez alguma surpresa, não é? Sabe que não gosto de ser o centro de atenção – Disse envergonhada ao ver o seu pai desviar o olhar – Mas farei cara de surpresa – Prometeu ao se levantar, contornar a mesa e beijar a testa de seu pai. – Não importa o que seja, eu agradeço por tudo que tem feito por mim, papai.

Robert segurou na mão de sua filha, sorrindo. Ele se sentiu o pior pai do mundo ao ver a sua expressão tão feliz ao lhe encarar, desconhecendo o fato de que havia a vendido para um homem.

― E o meu irmão? – Marie se viu perguntando constrangida. Pierre a ignorava tinha mais de um ano. – Ele vai, não é?

― Sim, seu irmão está ansioso por isso.

― É um alivio saber – Sorriu. – Acho que é melhor eu ir. Preciso falar com as meninas e vou sair para fazer compras, tudo bem? – Robert assentiu.

― Compre tudo o que quiser. Tudo mesmo. – Disse esperando que aquelas compras o fizessem se sentir menos culpado do que deveria.

― Irei – Prometeu. 

CONTINUA....

A Princesa [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora