Falei com um homem arrogante e quem ouviu foi a criança que apanhava do pai bêbado.
Falei com o chefe e quem ouviu foi a crise de meia idade com os efeitos colaterais do Viagra.
Falei com uma mulher apaixonada e quem ouviu foi a adolescente que sonha com uma casinha branca.
Falei com o solteirão e quem ouviu foi o jovem ingênuo que um dia foi deixado pelo grande amor.
Falei com uma prostituta e quem ouviu foi uma garota vendo um estranho e a porta entre aberta.
Falei com o psicólogo e quem ouviu foi o estranho quadro de arte abstrata atrás da poltrona dele.
Falei com uma mulher bonita e quem ouviu foi a menina de aparelho que era feia na infância.
Falei com uma velhinha e quem ouviu foi uma memória de alguém que eu parecia.
Falei com minha mãe e quem ouviu foi uma mulher muito familiar amamentando um bebê.
Falei com um amigo e quem ouviu foi a imagem dele refletida em mim.
Falei com o egoísta e quem ouviu foi o cálculo da margem de lucro.
Falei com uma estranha e quem ouviu foi o medo do desconhecido.
Falei com uma criança e quem ouviu foi a ausência de passado.
Falei com uma pessoa feliz e estou certo que ninguém ouviu.
Falei. Finalmente, com quem a gente fala?
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Transtorno Poético
PoesiePoesia patológica, verso subversivo, sob o crivo do enredo. O poeta tenta apreciar a vista, ele não é atração, tampouco artista, sofre disso.