Ensimesmado

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O Rei, o chefe da tribo, não quer seus súditos esclarecidos,

Pão e circo em um país desconhecido.

O povo, tal qual o bom selvagem, cabra pacato,

Assiste alheio porque não lhe assiste, nunca assistiu,

Olha pro filho e diz - quem quiser que levante bandeira,

quem quiser que fique parado.

Quer ganhar o pão que amassou quarenta e quatro horas semanais,

Para assar no ato com uma cervejinha e uma galinha do quintal,

E de barriga cheia se esbaldar no circo desejado,

Levando sempre sua guia que o protege de todo mal,

Não muito diferente de seu ancestral, esse será todo seu tempo e cultura.

É que há um Brasil que tanto faz,

Os livros não contam, nem satélites conseguem mapear,

Há um lugar que o Estado nunca pisou à essa altura,

Desde o desvio de mandioca da merenda dos curumins,

E o escândalo das canoas superfaturadas,

O suborno com peles de onças pintadas,

Desde o começo e confins da história,

Desse país que me deixa ensimesmado, desde sempre ou sabe tudo,

Ou carece de memória.

Transtorno PoéticoOnde histórias criam vida. Descubra agora