04 • As primeiras mensagens

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Sentia a maciez do colchão abaixo de mim, e constantemente olhava para o relógio ao lado na cômoda, depois para o teto, e depois para o novo contato adicionado — era um loop que já se seguia a mais ou menos uma hora.

Não saberia dizer por que aquela sequência de números me intimidava tanto, ou por que ainda a minha própria visão de digitar a mensagem era assombrosa, mas eu sentia esse frio na barriga se alastrar e me fazer ter vontade de desligar o aparelho.

Porém, depois de ver mais dois minutos mudarem no relógio, digitei rapidamente um "Oi, é o Takashi, quando você está livre para estudarmos?". Sim, sem rever, sem pensar em uma forma melhor de dizer isso, até poderia ter um erro de digitação que eu não me importaria. Só queria acabar logo com isso.

E, depois de eternos trinta segundos exatos, senti o celular vibrar e a notificação de uma nova mensagem brilhar na tela — o que me fez, afoito, abrir o aplicativo.

"Oi Takashi!"

"Qualquer dia a tarde está bom pra mim :D"

Eu li, reli, e reli de novo, agora pensando no que seria o certo a responder.

"Então"

"Que tal esse sábado perto das duas da tarde?"

Mensagem enviada.

E sem demora respondida.

"Por mim está ótimo, será que poderia ser na sua casa?"

"Aqui está uma bagunça por causa da mudança hihi"

Não pude evitar de rir por imaginar sua voz envergonhada nessa mensagem.

"Vou falar com meus avós, mas acho que não tem problema"

Ali já estava tudo resolvido, não precisava continuar a conversa, um "Boa noite, nos falamos amanhã" seria uma ótima forma de terminar.

Mas ai que estava o problema: eu não queria terminar.

"Caixas por todo lado"?

O que eu estava fazendo?!

"Você não tem ideia"

"E eu sou um verdadeiro desastre se tratando de organização"

"Daqui a pouco eu começo a conversar com as caixas kkkk"

Senti meus lábios se contraírem num sorriso.

"Sei como é"

"Quando vim morar com meus avós a transportadora atrasou"

"Fiquei em um saco de dormir por uma semana!"

"Minhas costas até hoje choram :,)"

Eu simplesmente digitava, e estava sendo tão natural falar com ela que nem lembro porque estava com vergonha.

Eu já havia percebido que Íris era alguém que tinha a capacidade de fazer você se sentir confortável.

"Acho que minha mãe ameaçou a transportadora, então não tivemos esse problema"

"Mas eu ainda olho em volta e parece que esse quarto não é meu"

"Tente decorar"

"Isso fez com que eu me adaptasse melhor"

Olhei em volta, e era verdade. Tudo ali dei um jeito de tentar deixar de uma forma que me soasse acolhedor. Bem-vindo.

"Boa ideia!"

"As paredes estão todas brancas"

"Tão sem graça :P"

Eu iria responder, mas, no mesmo instante, chega uma quarta mensagem.

"Por que você não vem aqui um dia desses me ajudar a pintar??"

"Você estava pintando uma tela aquele dia no parque, e a sua carinha é de alguém que leva jeito pra isso!"

"Nem tente me enganar, Takashi!"

E foi, naquela hora, que um resumo de todo o meu histórico, toda a minha vida e tudo o que eu era se passou pela minha cabeça em frações de segundos. Ponderei o que eu deveria dizer devagar demais para acompanhar meus dedos que já enviavam uma resposta.

"Ajudo sim, quando for começar me chama"

Aquela altura eu já me perguntava como essa garota conseguia me fazer deixar de lado os meus medos e problemas, simplesmente porque queria lhe agradar.

Por que era impossível dizer algo que a fosse deixar triste.

E nós continuamos a conversar pelos próximos minutos, minutos que se tornaram horas e horas que se tornaram dias.

E, a partir naquele momento, eu já poderia incluir suas mensagens de "Bom dia!" a minha rotina.

cαвєlσѕ αrcσ-íríѕOnde histórias criam vida. Descubra agora