14 • A morte tem suas cores

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O último dia de férias estava nublado, as nuvens carregadas se mostravam prestes a inundar o mundo. Um tempo muito parecido com o daquele dia.

Íris me perguntou qual eram as flores preferidas dela e ainda não sei como soube responder, mas eu lembrava, simples assim. Acho que porque sempre prestei muita atenção nela e em tudo que me contava, principalmente as que diziam sobre si própria.

Eram orquídeas.

Eu estava na frente da floricultura a esperando, pontualmente ela sai da loja com o buquê em mãos.

— Obrigado — agradeço já segurando as flores — Você quer mesmo ir?

Ela assente.

— Quero, claro, se não tiver nenhum problema pra você...

Nego.

— Por mim tudo bem, é que não é sempre que alguém se oferece pra ir a um cemitério. — falo e consigo lhe arrancar o mínimo sorriso. — Só achei inesperado.

A vejo dar de ombros enquanto caminhamos para a parada de ônibus.

— Isso é importante pra você, talvez seja egoísta, mas eu queria estar com você nesse momento — sua fala sai envergonhada.

— Bom, eu também queria que você fosse. — ela me olha surpresa — Mesmo depois de todos esses anos eu não me acostumei a ir sozinho. No começo meus avós iam comigo porque eu era novo demais para ir sozinho, e a Manu também sempre fez questão de me acompanhar todas às vezes — falo relembrando de todos os anos, nessa mesma data. — Mas esse ano ela está lá no sítio dos tios e meus avós confiam em mim para começar a ir sozinho, acho que eles estavam ansiosos pra esse dia chegar, sabe? Eu sempre reparei que era uma tortura pra eles irem lá, só iam por minha causa... Porque eu não consigo deixar de ir.

O ônibus chegou e nós subimos.

— Que bom que me falou isso, agora não vou sentir que estou atrapalhando. — ela fala assim que nos sentamos.

— Você nunca atrapalha.

Graças ao meu novo lápis de cor eu podia ver a grama sob nossos pés — onde pela primeira vez não fiquei feliz, porque sinceramente ali ela pendia naturalmente mais para o cinza do que o verde.

Tudo ali era escuro, triste e remetia a solidão.

Poucas pessoas estavam lá além de nós, alguns em pequenos grupos, outros em duplas e ainda outros corajosamente sozinhos.

Olhei para Íris ao meu lado e agradeci mentalmente pela milésima vez sua presença, quem sabe eu não tivesse sequer passado do portão se estivesse só.

cαвєlσѕ αrcσ-íríѕOnde histórias criam vida. Descubra agora