06 • Verdades nuas e cruas

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Talvez eu nunca tenha me preocupado se os pôsteres de super-heróis colados na parede e a coleção nada modesta de jogos distribuídos alfabeticamente na prateleira desse um ar infantil ao meu quarto — e em minha defesa eu estava recentemente entrando na puberdade, oras, um garoto de quatorze anos deveria ser julgado por cartas de Yu-Gi-Yo! muito bem arrumadas em uma caixa? — Mas, naquela tarde, realmente considerei guardá-los no fundo do armário.

As únicas garotas a entrar aqui foram minha avó e a Manu — mas para a primeira eu poderia estar trajando um terno e trabalhando em uma firma que nunca deixaria de ter oito anos, e a segunda... Bom, eu já havia deixado de vê-la como um ser do sexo oposto há muito tempo — Então eu assumia que Íris era a primeira.

E, mesmo que eu não entendesse completamente por que me sentia na obrigação de impressioná-la, eu queria. E muito.

Porém, a cola na parede rasgaria os pôsteres se tentassem tirá-los — e eu não estava disposto a sacrificar um bem maior em nome de uma visita de três horas.

O que importa é sua beleza interior e não a decoração nerd do seu quarto, né? — mas as cartas de Yu-Gi-Yo! eu guardei.

Eu sempre fui muito organizado, em um nível inesperadamente incomum para garotos da minha idade — mesmo que em minha opinião tirar o pó três vezes por semana e dobrar as roupas milimetricamente por tamanho fosse algo básico. — Então o quarto estar limpo não foi uma preocupação, só arrumei a colcha na cama quatro vezes e poli o espelho três.

Porém, agora, depois de ela já ter espirrado duas vezes, me pergunto se exagerei no limpa vidros — mesmo que para mim o único aroma seja de seu perfume natural que preenchia o quarto todo, desde o tapete ao travesseiro, um meio termo entre sabonete e o cheiro da floricultura. Ela definitivamente era única em todos os aspectos.

Já estávamos estudando há uma hora e ela era mesmo dedicada, aprendia rápido e pergunto-me internamente se ela realmente é tão ruim assim quanto afirmou.

O relógio na cômoda corria seus ponteiros rápido demais para meu gosto.

Ela estava concentrada na nova equação que lhe pedi para resolver, já eu perdia-me na curva exposta de sua clavícula assim que ela resolveu prender os longos fios coloridos em um rabo de cavalo desleixado.

Senti-me ser encarado pelo canto de seus olhos e resolvi arrumar — de novo — a mesa para distrair-me também daquele sinal no topo de sua orelha.

cαвєlσѕ αrcσ-íríѕOnde histórias criam vida. Descubra agora