Capítulo 8

88 21 179
                                    

Agora Iuri estava se sentindo perdido. De um lado, havia aquela sensação estranha. Sentia que invadiram sua privacidade. Do nada apareceu uma pessoa, que sabia por quem estava apaixonado, sabia de alguém que estava apaixonado por ele, e tinha coragem de jogar na cara dele que de fato estava apaixonado por um personagem de um livro norueguês. Karina era uma pessoa muito cheira de si.

Do outro lado havia a culpa. Ela não devia ter más intensões. Ela queria apenas ajudar. E ele fora rude com ela. Mas também não era fácil somente ligar e pedir desculpas. Ele ainda se sentia ferido.

E o pior e mais doloroso de tudo era a amiga ter razão. Ele não amava Dido. Ela era uma desculpa, uma ilusão, para não ter relacionamentos de verdade. E amores de verdade eram aqueles que a outra pessoa também gosta de gente.

O telefone travado recebeu mais alguns golpes. Teve vontade de arremessar contra a parede. Mas não teria condições de comprar outro. Então esperou pacientemente as estrelas se alinharem, oiron com a ursa maior, para que o aparelho voltasse a funcionar.

Lá estava Karine online e silenciosa. Algumas vezes sua foto sumia. Ele tinha certeza que ela o tinha bloqueado. Depois tornava a aparecer. E as palavras continuavam mudas. Naquela noite, ele não ligou nem mandou mensagem.

No dia seguinte, havia a mesma rotina de sempre. Ele a um canto, recebendo a visita de amigos mornos. Do outro lado, a Karine no meio de suas companhias. As amigas do grupo os olhavam desconfiados.

A rotina de estudos continuava a mesma. De manhã, aulas. Á tarde, mais aulas. À noite, sempre estudando. Eventualmente, observava se viera alguma mensagem. Sua amiga o tinha esquecido de verdade. Ele deveria saber. Era bom demais para ser verdade.

Cassandra o observava distante. Já passavam alguns dias que ele e Karine estavam brigados. Ela se aproximou de forma furtiva quando ele estava só. Ela se encostou na parede próxima a ele, aparentemente sem nenhuma conexão. Ela olhava para o outro lado, as mãos nas costas. Então falou:

— Vocês brigaram?

Yuri se virou pra ela e ia falar. Ela disse imediatamente:

— Não me olha. Finge que não estamos conversando. Só responde. Estou ouvindo.

— Odeio quando você faz isso.

— Cala a boca! Quer dizer, me diz logo. Obedece, cabeçudo. Eu sei que a culpa é sua, mas quero ouvir mesmo assim.

— Eu não tenho culpa de nada

— Tem culpa de um bocó e um grosso. E de não dar valor para as pessoas que gostam de você.

— De quem você está falando?

— Da Karine. Estou falando dela desde o início. Ou tem mais alguém? O que vocês estão me escondendo?

— De ninguém.

— Ela me contou tudo já.

— Como assim?

— Ela acha que você deveria começar a namorar. Eu disse que ela é uma intrometida e que ela deveria te deixar em paz. Mas ela não escuta ninguém. Acho que já percebeu.

— Ela disse com quem?

— Olha, eu acho que você realmente deve se dar uma chance. Mas não quero interferir. Acho melhor vocês deixarem de besteira e voltarem a falar, ou vamos começar a pensar que existe algo entre vocês.

— Não diga besteiras.

— Você sabe com quem está lidando. Se ela quer que você fale ou converse com uma moça, sai uma vez, namora. Não é um casamento. Não é um noivado. É somente uma peguete. Fica com a doida e segue em frente. Outras virão.

— Parece tão simples pra vocês.

— Porque é, doidinho. Seja aquele ator pornô que é meu amigo. A menos que você tenha outra pessoa em seu coração.

— E se eu disser que é um personagem de um livro?

— Eu diria que você é louco. Isso é impossível. Você pode não saber de quem você gosta. Ou pode gostar de alguém por causa de um personagem de um livro. Mas existe uma pessoa no mundo real. Se esta pessoa for tão importante pra você, invista nisso. Tenha coragem. Mas só se você quiser. Se não se sentir preparado, também não tem problema você se dar um tempo. Isso não impede que você conheça pessoas até lá. Pense nisso, amiguinho. E faça as pazes com loka, A Kaká.

Cassandra se afastou e deixou o amigo sozinho. Ele precisava pensar. As pessoas continuavam suas vidas, conversando, contando suas piadas, e decidindo seus destinos. Um faria faculdade em certo estado, outro queria viajar para outro país. Ele sabia que se tivesse sorte, passaria numa prova para a faculdade em sua cidade mesmo. Ele não tinha condições de ir para qualquer outro lugar. Sua melhor amiga inimiga, seu espírito do esgoto preferido, parecia muito feliz em seu grupo nativo. Ele, no entanto, não podia dizer que tinha um grupo. Estava perdido nesses pensamentos, quando uma pessoa incomum se aproximou. Percebeu essa pessoa se aproximando e ficando parada ao seu lado, exatamente onde Cassandra estava. Era a Simone.

— Oi, Ameba.

— O que você quer?

— Eu queria pedir desculpas.

— Podia começar não me chamando mais de Ameba. Ajudaria bastante.

— Está bem. Desculpe, Yuri.

— Assim está bem melhor. Você está desculpada. Não é a primeira que não vai com minha cara. Você pelo menos foi sincera. Eu gosto disso.

— Eu também prefiro pessoas sinceras. Não sabia que tínhamos isso em comum.

— Mas me diga mais uma coisa, Simone. Você veio somente pedir desculpas?

— Bem, não foi somente isso. Tem mais alguma coisa que eu gostaria de conversar com você.

— Também é secreto. Você está falando como se nossa conversa fosse clandestina.

— Deu pra perceber?

— Bem, digamos que eu tenho experiência com amizades clandestinas.

— Realmente tem um assunto que exigiria de você o mais alto segredo.

— Se for problema, eu estou fora.

— Não sei se é problema. Acho que pode se tornar. Mas tudo pode desandar de vez em quando. Depende da gente. Depende de você.

— Você não está sendo muito direta. Estou começando a sentir saudades da Simone antiga, aquela que dizia as coisas na minha cara.

— Engraçadinho! — Ela sorria. — É a Júlia.

— O que é que tem?

— Ela deseja conversar com você.

— Porque ela não veio pessoalmente?

— Ela tinha medo de você não falar bem com ela. Sabe como é. Você não tem a melhor reputação. Não é considerado uma pessoa muito gentil. E como você já deve saber, eu sou o tipo de pessoa que diz as coisas na lata. E como já temos, eu e você, certa familiaridade, ela achou mais fácil eu falar com você.

— Tenho minhas dúvidas se nossa última conversa pode ser considerada familiaridade.

— As vezes pra gente ultrapassar certas cascas duras, é preciso umas porradas.

— E o que ela quer comigo?

— O que você acha? Paga pra ver. Hoje a noite. Ela tem o teu número. Vai te mandar uma mensagem. Você vai responder?

— Vou sim.

E Simone se afastou. Tudo indicava que o destino estava aprontando das suas. A amiga com quem não tinha voltado a falar, ele reparou assim que Simone se afastou, o observava atentamente. Podia ler as emoções de seu rosto. Estava bufando novamente de raiva.

O AmebaOnde histórias criam vida. Descubra agora