Naquela mesma noite, ele recebeu mensagem de Júlia.
— Oi! — Ele viu chegar no celular. Já tinha anoitecido, e ninguém tinha procurado falar com ele.
Ele não quis responder logo. Ficou parado sentado sobre a cama, pensando. Depois, repentinamente, como que tomado por uma pressa súbita, respondeu.
— Júlia?
— Sim. Pode falar agora?
— Posso.
— Então? Ocupado?
— Não. Vou estudar daqui a pouco.
— Eu também preciso estudar.
Yuri observava que a menina do outro lado digitava algo. Aparecia a informação: digitando. Logo em seguida, as informações sumiam por completo. E não aparecia mensagem alguma. Ela provavelmente tinha dúvidas se deveria mandar aquelas palavras. O rapaz tinha paciência. Finalmente apareceu uma mensagem.
— Estou em casa. A gente podia conversar? Pessoalmente? Eu gostaria de ser sua amiga. No colégio a gente não tem muita oportunidade para conversar.
Aquilo não era bem verdade. Foi o que o jovem pensou. Pelo o que ele lembrava, ele tinha todo o tempo do mundo solitário para que ela chegasse nele e desse pelo menos um oi. Em outros momentos, ele seria capaz de recusar o convite. Mas a distância de Karine o deixou fragilizado. E como ele recusaria sem gerar algum constrangimento? O horário seria uma boa desculpa. Ela tinha que lhe mandar uma mensagem à noite? Não poderia esperar o final de semana? Pensou que aquela idade, ninguém espera.
E da outra vez ele dera chance para a amiga que agora não falava com ele. Por que motivos não daria uma chance para esta também?
— Eu vou. Me manda a localização.
Ele recebeu uma carinha feliz. Logo em seguida veio o mapa do google. Não era distante do colégio também.
Já anoitecera, mas ainda era cedo. Pegou o ônibus e chegou diante de uma casa avarandada. Ele bateu na frente e sua conhecida veio recebe-lo diante de uma grade. Ela estava com os cabelos molhados, e tirava os fios de diante do rosto.
Yuri reparou que não era uma menina feia. Seus amigos até a poderiam achar bonita. Por algum motivo, ele não sentia nada por ela. Isso lhe parecia claro. Talvez Karine tivesse razão. Talvez não sentisse nada por ninguém. Mesmo assim entrou. Ela indicou umas cadeiras na frente do pátio e ele sentou.
— Deseja alguma coisa? — Ela corou. — Um suco? Algum biscoito?
— Eu quero qualquer coisa que seja de comer. Estou faminto. — Ela corou ainda mais.
— Já trago.
Ele realmente ainda estava com fome.
Chegou uma jarra de um suco de cor amarela, muito viva. Ele imaginou que fosse de maracujá. Num pequeno recipiente, alguns biscoitos recheados. Ele devorou tudo.
— Desculpe se não demonstrei muitos modos. A comida lá em casa não estava muito legal.
— Não tem problema. Se eu te chamei aqui a essa hora, eu tinha que pelo menos te dar comida.
— Não sabia que você queria ser minha amiga.
— As vezes a gente não demonstra o que sente.
— Isso é verdade.
— Tem algum problema? Tem algo contra mim?
— Não, imagina. Não tenho nada contra você. Só achei estranho. Como você mesma disse. Você nunca demonstrou.

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O Ameba
Teen FictionYuri é um jovem negro que frequenta de favor uma escola de elite na cidade. Este é o ano em que vai enfrentar o Enem. Na sua casa, o pai foi embora, na escola os amigos se afastaram, e o dia raiou debaixo de um vendaval. Falta apenas uma coisa para...